segunda-feira, 5 de março de 2012

O doce Patrimônio Imaterial




Prefeito confraterniza com vendedores de mate





A noção de Patrimônio está sempre evoluindo e sendo repensada. Ao longo do tempo esta evolução foi no sentido de ampliar a sua abrangência. A passagem do conceito de patrimônio histórico para o de patrimônio cultural permitiu agregar bens da arquitetura vernacular e artefatos produzidos artesanalmente ou em escala industrial. Também foram agregados os bens naturais, como montanhas, árvores e quedas d’água.

Uma das últimas expansões se deu com o reconhecimento do chamado Patrimônio Imaterial, significando que festas, formas de culto, saberes e atividades também são importantes para a memória de um povo e para a sua cultura. No entanto, aquilo que deveria ser apenas uma maior abrangência da visão sobre Patrimônio transformou-se num manancial de atitudes eleitoreiras para os políticos. Governantes que se sentem cobrados por sua inação em relação à deterioração do patrimônio edificado passaram a fazer tombamentos em série de bens imateriais. Deputados e vereadores passaram a invadir a seara dos órgãos de tombamento, promulgando leis de tombamento de bens imateriais a torto e a direito.

Por envolver pessoas que estão afetivamente ligadas às atividades agora valorizadas, tais atos têm uma grande capacidade de retorno político. E geram a falsa impressão de que muito se faz pelo Patrimônio. Enquanto concordava com a alteração da legislação que impedia a construção do espigão da Eletrobrás junto aos Arcos da Lapa, o Iphan-RJ promovia o tombamento das rodas de samba. Após demolir a Cervejaria Brahma no Catumbi, bem anteriormente protegido, o Prefeito Eduardo Paes se esmera em salamaleques diante dos vendedores de mate de praia, agora considerados Patrimônio imaterial. Em que isto alterará as vidas desses vendedores para melhor, é difícil saber. Talvez venham a ser alvos mais visados das operações de ordem urbana da Prefeitura.

Sem dúvida, é muito provável que vários dos bens imateriais que vêm sendo reconhecidos o mereçam. Mas é o suspeitíssimo novo interesse por parte dos governantes e políticos em geral por bens que não demandam restauração ou conservação que deve nos levar a colocar nossas barbas (e as do Patrimônio material) de molho.

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