O Arco Metropolitano é uma rodovia que liga o Porto de Sepetiba à BR 040, e que visa desviar o trânsito de veículos, especialmente os de carga, das áreas urbanas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Assim, ele evita as áreas já urbanizadas, atravessando aquelas ainda vazias. Mas, a sua presença pode vir a induzir a ocupação urbana, já que rodovias têm esse poder. Quando a ocupação não é planejada, ela pode ocorrer de forma espontânea e irregular. Não à toa, em 2008, o então Secretário de Obras do Estado do Rio de Janeiro, e futuro governador, Luiz Fernando Pezão, incentivou os empresários a ocuparem as margens do Arco Metropolitano, de forma a evitar uma possível favelização.
Durante muito tempo, não houve resposta dos empresários àquela exortação do ex-governador. A própria rodovia entrou em crise com a queda da circulação de veículos, em função da sua má conservação, da ausência de administração, e da insegurança. No entanto, em 2022 houve a concessão da rodovia para a iniciativa privada e já há notícias do aumento do fluxo de veículos. Surgem também algumas iniciativas empresariais, como o Centro de Logística Golgi, no entroncamento do Arco Metropolitano com a RJ-085, onde foi construído um galpão com 61 mil m2 de área para locação, com previsão de ampliação. Para essa mesma localidade, hoje um lugar vazio, há uma campanha publicitária de um empreendimento voltado para a construção de habitações, comércio e serviços, ocupando uma área de aproximadamente 5 milhões de m2. Complementando esse projeto, haveria um aeroporto para aeronaves particulares, o ArcoRio.
É difícil saber até que ponto essas são iniciativas
coordenadas com um planejamento metropolitano ou apostas soltas do mercado imobiliário.
A verdade é que o Estado do Rio de Janeiro não prima por ter um planejamento
para a sua metrópole, nem um órgão ativo e com força para propor projetos e
vê-los implementados. É possível que se esteja assistindo ao surgimento de uma Edge
City (cidade à margem), a qual trará novos desafios futuros.
A expressão Edge Cities foi cunhada pelo
jornalista americano Joel Garreau que, em 1991, escreveu o livro Edge City: Life
in the New Frontier. Ele buscava nomear um fenômeno que consistia no
surgimento de áreas urbanas em entroncamentos rodoviários, fora da mancha
urbana das cidades já constituídas, com uma grande oferta de postos de trabalho,
grandes lojas de departamento e de varejo ou shopping centers e moradia em
menor proporção do que os postos de trabalho. Essas novas áreas urbanas não são
cidades, na medida em que não são autônomas, têm uma forte participação do
capital privado na sua formação e desenvolvimento, e são relativamente recentes,
tendo apenas algumas dezenas de anos de existência.
Garreau também chamou a atenção para a forte presença
nessas Edge Cities de escritórios voltados para a área de informática,
em edifícios não tão altos, cercados por áreas verdes e pistas de corrida e
equipamentos de lazer e diversão. Elas passaram a existir não só nos Estados
Unidos, mas também na Europa e na Austrália. Alphaville e Tamboré, na área
metropolitana de São Paulo, seriam exemplos desse modelo de urbanização. O fato
de serem fenômenos em crescimento, não significa que sejam a melhor solução para
a constituição de espaços urbanos. Quando, eventualmente, o poder público
decide investir no lugar, trazendo transporte público, instituições públicas de
administração e de saúde, como foi o caso de Surrey no Canadá, isso se mostra
uma operação custosa.
Se até em países com mais tradição de planejamento
essas urbanizações privadas e descoladas dos contextos das cidades vêm existindo,
o que não poderá ocorrer no Brasil, um campo fértil para as experimentações do
capitalismo? Com tempo, saberemos.
Artigo publicado em 22 de agosto de 2024 no Diário do Rio.
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