domingo, 26 de maio de 2024

A Leopoldina e o TAV

Há muito tempo o Brasil fez uma opção equivocada pelo transporte rodoviário, em detrimento do transporte sobre trilhos. Os mesmos grupos de pressão que agiram para a quase extinção dos bondes no Rio de Janeiro, e em outras cidades, também atuaram para substituir o transporte, em longas distâncias, de passageiros em trens, por transporte em ônibus. O sistema foi sendo abandonado, perdendo qualidade e usuários, até parecer lógico fechá-lo. No Rio de Janeiro, entre várias linhas, desapareceram a ligação que circundava o fundo da Baía de Guanabara, a que levava a Mangaratiba, e a que servia a diversas outras cidades do Vale do Paraíba e da Região dos Lagos. Também deixaram de existir o trem Vera Cruz, para Belo Horizonte, o Santa Cruz, que ligava o Rio a São Paulo, depois renomeado como Trem de Prata, e o trem que ia para Vitória.

Desde o Império, a malha ferroviária brasileira veio recebendo investimentos, tendo crescido até 1957, quando atingiu 31 mil km. Depois foi abandonada, e desapareceram diversas ligações entre as cidades do país. Era possível, por exemplo, ir de trem de Bauru a Corumbá, no extremo Oeste do país, uma viagem belíssima que atravessava o Pantanal.

Apesar da malha ferroviária ter sido sucateada em muitíssimos trechos, o fim do transporte de passageiros por trens nem sempre significou o seu fim. A privatização da rede ferroviária no governo Fernando Henrique Cardoso privilegiou o transporte de cargas. Então, parte considerável da malha ainda existe e até foi ampliada, apesar de, com seus 30 mil km, ainda ser menor do que um dia já foi. Mas, o foco tem sido no transporte de cargas. As estações centenárias do caminho foram abandonadas, tendo sido muitas delas destruídas. Tal situação ainda perdura, mas há a possibilidade de começar a mudar.

Com o advento dos trens de alta velocidade, os TAV, a partir de 2007, a ligação entre Rio e São Paulo voltou a ser cogitada. No segundo governo Lula, a então ministra Dilma Roussef chegou a afirmar que o chamado trem-bala ficaria pronto para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. A ligação entre as duas cidades se daria em 90 minutos. No Rio de Janeiro, o ponto de partida do TAV seria a Estação Barão de Mauá, também conhecida como Leopoldina, edifício histórico, projetado pelo arquiteto Robert Prentice e construído em 1926. Dali, anteriormente, partia a Linha Auxiliar da Central do Brasil e o antigo trem para São Paulo.

Por diversas razões, tal projeto não se concretizou. Mas ele não deixou de ser absolutamente estratégico para a Cidade do Rio de Janeiro. Um trem regular de alta velocidade ligando o Centro do Rio e o aeroporto Tom Jobim à maior metrópole do país é de suma importância para a economia carioca, e fluminense, e deveria ser encarado com a devida importância por governantes e por quem pensa o futuro da cidade.

Ocorre que o mesmo governo federal que ainda cogita a implantação desse sistema, repassou a estação Leopoldina à Prefeitura sem qualquer exigência de preservação da possibilidade que aquela estação um dia receba o TAV.  No projeto anunciado pelo prefeito do Rio para a ocupação da área, o leito da antiga ferrovia seria ocupado pela Cidade do Samba 2, inviabilizando a chegada do TAV. É bom lembrar que, partindo desse local, os carros alegóricos precisariam dar uma volta imensa pela Área Portuária, já que não poderiam passar sob o viaduto ferroviário da avenida Francisco Bicalho.

Outras ocupações já vêm sendo realizadas no antigo percurso do trem e é bem provável que ele precisasse chegar de forma subterrânea na antiga estação. Mas, se a linha no trecho mais próximo à Leopoldina for edificada, nem mesmo o percurso subterrâneo seria viável. Não só esse trecho mais próximo precisaria ficar livre, como também alguma área para a manobra dos trens, mesmo que subterrânea.

O TAV parece um projeto relegado ao esquecimento, e é comum ver referências jocosas ao projeto na imprensa. Mas essa não é a realidade dos fatos. Em 2021 foi constituída a empresa privada TAV Brasil. Em 2023, ela recebeu da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a autorização para a construção e exploração por 99 anos do TAV Rio-São Paulo. O início da operação seria em 2032. Como o mesmo governo federal, que trabalha com a hipótese do TAV, anula a possibilidade de haver uma estação carioca para recebê-lo?

Talvez a resposta esteja no imediatismo das decisões de cunho exclusivamente financeiro. A Estação Leopoldina encontrava-se sob a responsabilidade do governo federal. Sucessivas ações exigindo a sua restauração haviam condenado a União a realizar tais obras. Um projeto chegou a ser encomendado ao escritório do arquiteto Rodrigo Azevedo. É aí que surge a proposta da Prefeitura do Rio de receber todo o imenso terreno da estação, comprometendo-se a arcar com os custos da restauração. Algum burocrata de Brasília deve ter considerado uma boa ideia se ver livre daquela obrigação.

A Estação Leopoldina já foi repassada à Prefeitura. Mas esta pode ser chamada à realidade para que perceba a importância de não inviabilizar o projeto do Trem de Alta Velocidade. Há terreno suficiente para a execução de projetos de interesse da Prefeitura, resguardando-se a possibilidade de que o TAV um dia chegue até à Leopoldina. O próprio prédio da estação tem andares suficientes para acomodar diversas atividades. Haverá cariocas com bom senso para convencer o prefeito?  

Artigo publicado em 23 de maio de 2024 no Diário do Rio

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Vivendo o aquecimento global

O Rio Grande do Sul está debaixo d’água. Informação tão avassaladora, que mesmo vendo imagens em profusão é difícil acreditar que 85% do território daquele Estado esteja passando por tal calamidade. É um evento que se estende no tempo. Já muitos dias se passaram e as previsões são de muitos dias ainda sob as águas. Os gaúchos sofrem. Os demais brasileiros também sofrem e se solidarizam. Correntes de arrecadação de donativos são formadas. Mas há também larápios que roubam as casas que os moradores foram obrigados a deixar para trás. E criadores de mentiras nas redes sociais para proveito político e monetário. Uns são solidários, outros canalhas.

Com o passar do tempo, a busca por razões e responsáveis vai se impondo. A necessária união não pode ser pretexto para o esquecimento. A devastação ambiental do Rio Grande do Sul já vem de longe, como mostram dados do MapBiomas, uma rede de ONGs e empresas de tecnologias, que utiliza imagens de satélite. Entre 1985 e 2022, o Estado perdeu aproximadamente 3,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que ajudava a reter as águas das chuvas. Isto equivale a 22% de toda a cobertura vegetal existente em 1985, sendo que um terço dessa perda se deu na bacia hidrográfica do Guaíba, a área mais afetada pelas atuais enchentes. A maior perda de vegetação natural foi nas chamadas formações campestres, tradicionalmente utilizadas na pecuária extensiva. Nesse mesmo período houve um crescimento de 366% na área destinada ao plantio de soja, que avançou não só sobre áreas desmatadas, como sobre antigas pastagens.

O atual governador também ajudou na devastação, ao alterar a legislação ambiental do Estado. Antes, a forte influência de ambientalistas locais, como José Lutzenberger, havia criado um importante arcabouço de regulamentações em prol do meio ambiente. Porém, 480 pontos do Código Ambiental do Rio Grande do Sul foram alterados, alinhando-o com as políticas nefastas do ex-presidente Bolsonaro. A partir daí, passou a vigorar o autolicenciamento, sem que os projetos dos empresários sejam analisados por qualquer técnico da área ambiental. Foi também permitido o corte de árvores no bioma pampa e o uso de agrotóxicos não permitidos nos países de onde se originam.

Porto Alegre, após a grande enchente de 1941, construiu um sistema de diques e bombas para proteger a cidade. No entanto, o prefeito não cuidou das comportas, que deixaram a água penetrar, nem das bombas, que deveriam jogar a água para fora. Também não investiu no sistema de Defesa Civil. Isso, depois de vários eventos dramáticos em 2023, que deixaram dezenas de mortos em cidades vizinhas, à beira dos rios, que ficaram destruídas.

No governo anterior, os políticos da direita negacionista produziram um desmatamento recorde na Amazônia e o afrouxamento das leis ambientais do país. O então ministro destruidor do meio ambiente falou claramente em aproveitar a pandemia para desfazer essa legislação, o tal “passar a boiada”. O agronegócio, sempre cuidando de extrair o máximo da terra, colocou um exército de políticos no Congresso Nacional para garantir que ninguém os perturbasse.

E há também a ação do homem comum, que cultiva suas lavouras até quase as margens dos rios, suprimindo as matas ciliares, e nas encostas, desmatando-as. O mesmo estudo já citado, do MapBiomas, indica que entre 1985 e 2022 houve um crescimento de 145% nas áreas urbanizadas do Estado.  Cidades foram criadas em áreas de várzeas, esquecendo dos ensinamentos dos antepassados portugueses, que sempre construíram em áreas altas. Um dia os rios poderiam retomar o que perderam...

Sobre tantas ações descuidadas, paira a crise climática, que veio se anunciando pelas vozes dos cientistas, por enchentes aqui e ali, por deslizamentos de encostas, por marés sempre mais montantes, até chegar ao paroxismo do que acontece hoje no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, há os que não a veem a crise, ou preferem negá-la para não se desculpar com tantos a quem já enganaram.       

Passou a hora de repensar tudo, todo o modelo de desenvolvimento até aqui utilizado. O presidente da República, muito acertadamente, já chamou a atenção para a impossibilidade de se reconstruir as cidades devastadas no mesmo local onde estavam. A crise climática, que se ressalte, tem como maiores responsáveis os países desenvolvidos, coloca para o Brasil, e para o mundo, duas ações fundamentais a partir de agora: mitigar e adaptar.

Mitigar os efeitos da crise climática significa adotar ações que reduzam os efeitos do aquecimento global, como por exemplo, o fim do desmatamento. Mas é também a necessidade de ações em larga escala de reflorestamento. Árvores sequestram carbono, um dos grandes vilões do aquecimento global. Se conseguirmos reflorestar grandes áreas desmatadas na Amazônia, estaremos contribuindo fortemente para a regulação do clima.

É preciso reflorestar em todos os biomas. Minas Gerais, por exemplo, é um estado devastado pelo desmatamento. Por onde se vá há morrotes desmatados, onde sobram áreas de pastagens improdutivas, onde o gado já não vai. Um largo trabalho de reflorestamento naquele Estado, fará ressurgir áreas de mata atlântica e de cerrado, onde nascem vários cursos d’água. Não se deve esquecer das margens dos rios, das áreas de nascentes, dos topos de morros. Há muito o que fazer também nas cidades brasileiras, em grande parte áridas e sem cobertura vegetal. Os prefeitos precisam aderir a um amplo programa de arborização urbana.

O outro verbo que precisaremos conjugar ativamente é adaptar. Adaptar especialmente as áreas urbanas aos novos desafios trazidos pelos eventos climáticos extremos. Nas cidades litorâneas, é preciso mapear onde o mar deverá subir com o já inevitável aumento do nível dos oceanos. E realocar as populações dessas áreas, porque o custo de protegê-las com obras de engenharia é proibitivo. As habitações em várzeas sujeitas a alagamentos dos rios e em morros sujeitos a deslizamentos, geralmente de populações mais pobres, também precisarão ser realocadas. Tudo isso tem um alto custo financeiro, mas que sempre será menor do que o custo de perda de vidas. E as obras de engenharia precisarão ser resistentes a alagamentos e enxurradas. 

Por fim, é preciso mudar a representação popular nas casas legislativas. Não é mais possível eleger representantes que atuem contra o meio ambiente, o que em última análise é agir contra as vidas das pessoas. Nem mais um passo atrás na proteção do meio ambiente. Ao contrário, precisamos avançar, construindo um arcabouço de leis e regulamentações que nos preparem para viver os desafios da nova era, o antropoceno, quando o homem alterou drasticamente os sistemas naturais do planeta Terra. 

Artigo publicado em 16 de maio de 2024 no Diário do Rio.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Boa pessoa

foto Roberto Anderson

O dia está agradável, você está numa parte bonita da cidade, e aproveita o momento de calma para ir ao restaurante. Sentado na varanda, você dá uma garfada no bife suculento. Mas aí aparece um pedinte, querendo um trocado. Ele está de olho na batata frita que acompanha o seu bife, e até pede uma. Você se incomoda, o garçom espanta o pedinte, e o gosto da carne parece que se esvai.


O seu carro para no sinal e já lá vem um cara correndo, colocando um par de sacos de balas no seu espelho lateral. Às vezes são batatas chips sabor churrasco. Ele é esforçado, corre uma meia maratona por dia. Mas é raro você querer comprar alguma coisa. Ou vai contra a sua dieta, ou é algo que não se encaixa no conjunto ar-condicionado e música do carro. Também à frente está o malabarista, que já desceu do tamborete e vem passando o chapéu. O sinal abre e você vai embora.


Você sai da academia se achando, tendo cumprido toda a série que lhe levará a ter os músculos que você inveja nos outros, quando se depara com um sujeito esquelético e maltrapilho lhe pedindo um pão. Ele lhe chama de pai, mas você não quer ver, passa batido sem dar atenção. 


Você entra no banco para sacar um dinheiro no caixa eletrônico. Tudo é moderno e eficiente. A agência é limpa e clara. A sua digital é reconhecida, você saca o que precisa, paga contas e transfere recursos para o filho. Ao sair, encontra um deficiente físico a quem lhe falta uma perna. Ele vende paçocas, mas ele não está ali exatamente para vender. Ele pede uma ajuda na forma de uma compra. O dinheiro que você sacou do banco está em notas altas. Além disso, as paçocas anulariam o esforço na academia.


No vagão do metrô a voz que pede que você cuide daquele meio de transporte é sobrepujada pela do desempregado que se desculpa por interromper o sossego da sua viagem. Um pouco mecanicamente, ele expõe as dificuldades por que tem passado e a situação da família que o espera em casa. Ele pede um trocado qualquer, algo que lhe dê alguma esperança. Ele vai até um, até o outro, e mal consegue alguns centavos. Quando ele se aproxima, você abre espaço para ele passar. 


No caminho até o seu condomínio, que é cercado e munido de câmeras de vigilância, você encontra uma senhora com duas crianças, que lhe pedem algo para comer. Você pensa que é uma maldade que essas crianças estejam na rua, obrigadas a conviver com tantos nãos. Se sente culpado, mas lembra que já ajuda mensalmente uma instituição para jovens necessitados. Você imagina que se der um trocado contribuirá para manter a família nas ruas, as crianças acomodadas em pedir. Você lembra que crianças são crianças e não têm culpa das confusões dos pais, mas vai embora sem nada dar.


Um rapaz franzino, que também vende paçocas, pede que lhe compre uma nova sandália. Ele mostra que a dele está realmente arrebentada. Humilde, ele ainda não aderiu aos vocativos pai, padrinho e patrão, que as ruas agora têm para estranhos. Candidamente, ele lhe chama de tio. Por hábito, você diz não. Depois se pergunta quando foi que ficou assim, insensível. 


Você raciocina que se você der ou não der, pouco importa, porque acredita que não será a sua ajuda o que mudará a situação daquelas pessoas. Você sente raiva de ser confrontado com essa situação. Você gostaria de viver num lugar diferente, sem essa pobreza que se esfrega na sua cara. Mas, você vive aqui, nasceu aqui, sua terra é essa, com todas as suas belezas e mazelas. 


Você se sente bem por ter votado em candidatos que favorecem os mais carentes. Mas não entende como a ajuda do Estado não chega justamente a esses desesperados do seu caminho. Na juventude, você imaginou um país melhor, lutou por ele, mas parece que ele nunca chega. Você sabe que se olhar os dados com calma, verá que as coisas até melhoraram. Mas a miséria das ruas daqueles tempos ainda persiste. Agora com alguns sujeitos mais destruídos. O crack se espalhou muito. 


Você anda chateado com o assédio da pobreza por onde anda. A TV mostra a calamidade ambiental que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Você sabe que o agronegócio desmatou, que o governador local flexibilizou as regras de proteção ambiental, e que o homem comum se instalou onde não devia. Mas você ainda deseja ajudar o próximo e faz um pix para a conta divulgada pelos voluntários mais envolvidos. Você sabe que você é uma boa pessoa. 

Artigo publicado em 09 de maio de 2024 no Diário do Rio.

 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Copadonna


O sol brilha no céu de Copacabana, assim como em todo o Rio de Janeiro. O veranico se instalou para a cidade receber na sua melhor forma a convidada do momento. Madonna, encastelada na suíte master-plus-ultra do Copacabana Palace, não participa do agito. O calor é excessivo para a diva. No entanto, ela é fundamental, ela é o pretexto para o carioca fazer mais uma festa e convidar todas as gentes. 


Do Sul, do Norte e Nordeste, do Centro-Oeste e de São Paulo, eles vêm em ônibus fretados, em voos charter (será que isso ainda existe?), em carros que quebram pelas estradas, do jeito que for possível. O Rio chama e ninguém quer ficar de fora. Todos sabem que festa no Rio é a oportunidade de incrementar a sequência de fotos do Instagram, quem sabe, de encontrar um amor, de ter casos para partilhar com os amigos e de ter histórias para contar para os futuros filhos. 


Os fãs mais fiéis se plantam na frente do hotel, esperando um aceno da cantora, uma janela que se abra. As pessoas que caminham no calçadão ralentam o passo tentando identificar o andar em que ela se encontra. As TVs também estão a postos esperando a possibilidade de dar um furo de notícia. Sorte seria descobrir que Madonna saiu disfarçada pelos fundos ou que aquela super lancha ao largo da praia leva a estrela para um banho de sol. 


Toda essa movimentação, todos esses elementos da cena são únicos. São diferentes por acontecerem no Rio. Hotel, praia, orla de Copacabana, calçadão, banhistas, fãs de meia idade, senhores indiferentes e jovens excitados pela possibilidade de, pela primeira vez, ver a cantora ao vivo formam um conjunto, cuja graça é estar na Cidade Maravilhosa. 


Dessa vez, ao que se saiba, Madonna ainda não circulou pela cidade, ainda não foi a uma favela, ainda não conheceu um Jesus. Nada disso importa, o palco vai sendo montado e o público de fora, que inclui argentinos e outras nacionalidades, vem chegando. A areia em frente ao hotel já está compactada de tantos palcos e arenas que recebe. Após Madonna, alguém já estará pensando no próximo megaevento, porque o Rio não pode ficar sem festa. 


Quando Madonna se for, a cidade fará a contabilidade dos gastos e dos lucros da festa. Os hotéis, especialmente os da orla, terão lucro certo. A Prefeitura, que aportou R$ 10 milhões, buscará justificar que os impostos recolhidos justificaram a retirada desse montante de serviços mais essenciais. O governo do Estado, quebrado e endividado, usará a cara de pau mesmo para justificar igual desembolso. 


De qualquer forma, agora é hora de acolher os convidados. Podem vir, porque o balneário é decadente, mas o carioca sabe receber e fazer a festa. 

Artigo publicado no Diário do Rio em 02 de maio de 2024.