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Foto Roberto Anderson |
Nos dias anteriores soprou um vento estranho. Um grupo de stand-up paddle chegou a ser jogado em direção contrária à da praia, precisando ser resgatado pelos bombeiros. Dias depois, o vento veio mais forte, trazendo a chuva que novamente já alagava o Rio Grande do Sul. E com ela veio o frio. Frio intenso, a segunda onda de frio a chegar nestas praias. A temperatura despencou para a casa da dezena, o que é gelado no Rio de Janeiro. No Alto da Boa Vista é capaz de ter caído na casa das unidades.
Tudo certo, é inverno, é dia de São João, e o normal é que faça mais frio mesmo. Diferentemente dos últimos anos, esse inverno tem sido como deve ser. Não sei se é influência do El Niño ou da La Niña, essas duas crianças invisíveis que brincam com as temperaturas do Hemisfério Sul. O que sei é que é possível lembrar que, mesmo esporádico, e passageiro, o inverno existe no Rio de Janeiro.
Nesses momentos, se compreende como no passado já houve senhoras possuidoras de casacos e estolas de pele nesta cidade tropical. Não importa que ficassem 360 dias por ano guardados em geladeiras das casas especializadas no negócio. Por momentos fugidios elas eram incorporadas ao guarda-roupa de quem tinha posses para as ter. Pode pesquisar em fotos antigas, que lá estavam os casacos de arminho e as estolas, com cabeça de raposa e tudo, nos ombros das damas da alta sociedade carioca.
Não só o exagero das peles denuncia a outrora existência de um clima mais ameno por aqui. Nessas fotos antigas, os senhores estão de terno em plena avenida Central sem demonstrar desconforto. É certo que o calor sempre existiu, tanto que quem podia, fugia para o veraneio na serra durante os meses quentes. Mas não era o nosso calor de todo dia deste século, muito menos a promessa de dias sufocantes e escaldantes que o aquecimento global nos promete.
Estes dias um pouco mais frios, nos fazem lembrar também que um dia já se usou calças de veludo no Rio. Que as meninas usavam saia kilt de lã, aquelas de estilo escocês, e que era concorrido o fondue na Casa da Suíça. Claro que esses eram hábitos de uma certa classe média favorecida e de mauricinhos e patricinhas da cidade. O pobre sempre se virou com bermuda e um casaquinho que nem se lembrava onde estava guardado. O carioca de chinelo, bermuda, gorro e luva é um clássico dos dias frios por aqui.
O frio, especialmente naqueles dias de chuva, deve nos fazer valorizar os dias de sol, tão frequentes no Rio. É o frio que detona o douramento, que depois se torna vermelhidão, das folhas das amendoeiras. É ele que provoca o desabrochar das florações dos ipês. Então, aproveitemos, porque dura pouco e daqui a alguns anos, se o inverno chegar, será por apenas algumas horas.
Artigo publicado em 26 de junho de 2025 no Diário do Rio.