Este estudo pretende analisar as alternativas de criação de espaços para a circulação de pedestres no entorno do Estádio Mário Filho – Maracanã, avaliando a necessidade de demolição dos equipamentos de atletismo e de natação existentes nas imediações do estádio, conforme indicado pelo projeto do Governo do Estado do Rio de Janeiro em licitação de concessão desse equipamento à iniciativa privada.
O projeto original
Ao
iniciar o longo processo de reforma do Maracanã, o Governo do Estado do Rio de
Janeiro, através do Escritório de Gerenciamento de Projetos do Governo, órgão
da Secretaria de Estado da Casa Civil, contratou a empresa Steer Davies Gleave
(http://www.steerdaviesgleave.com/)
para que esta fizesse um estudo do fluxo de pedestres na área no entorno daquele
estádio. O documento preliminar desse estudo (draft), em anexo, indicava a carência de espaços para pedestres no
entorno do Maracanã (Fig
1) e a necessidade de
acréscimo de áreas de circulação para os mesmos. A empresa então propôs a
ocupação de área do Ministério da Agricultura, junto à Rua Mata Machado. Ela
propôs também o avanço da área destinada aos pedestres junto aos dois portais
principais sobre áreas de trânsito de veículos, por meio de um inteligente redesenho
do entorno.
Na
área próxima ao portal da Radial Oeste, foi proposto o desvio das faixas de
rolamento de veículos que vêm da Avenida Professor Manoel de Abreu em direção à
Avenida Radial Oeste (Fig.
2). Este desvio é
possível com a transferência dessas faixas de rolamento para o centro de uma
ilha de tráfego existente entre essas duas avenidas. Do ponto de vista do
desenho urbano, essa proposta é interessante, já que o traçado atual demonstra
ter sido pensado de forma a não haver redução de velocidade dos veículos
provenientes da Avenida Professor Manoel de Abreu, o que contraria visões mais
contemporâneas da cidade, que dão prioridade aos pedestres e propugnam por um trânsito
de veículos em baixa velocidade no espaço urbano.
Fig. 1 - Atuais áreas de circulação de pedestres no entorno do Estádio do Maracanã |
Fig. 2 - Proposta de
áreas de circulação de pedestres – Steer Davies Gleave
|
Vale
observar que na proposta da Steer Davies Gleave há uma preocupação em
acrescentar áreas livres diante das três entradas principais, não havendo indicação
de demolição do Estádio Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare,
respectivamente estádio de atletismo e estádio de natação.
Em 2011 a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro chegou a anunciar que licitaria a urbanização do entorno do Estádio Mário Filho, tal como proposto pela Steer Davies Gleave, ao custo de R$ 117,9 milhões (Fig. 3, 4 e 5) O projeto paisagístico era do escritório Burle Marx.
O projeto da Prefeitura para a reurbanização do entorno do Maracanã
Em 2011 a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro chegou a anunciar que licitaria a urbanização do entorno do Estádio Mário Filho, tal como proposto pela Steer Davies Gleave, ao custo de R$ 117,9 milhões (Fig. 3, 4 e 5) O projeto paisagístico era do escritório Burle Marx.
Fig. 3 – projeto da Prefeitura
do Rio de urbanização do entorno
conforme proposta da
Steer Davies Gleave
|
Fig. 4 - projeto da
Prefeitura do Rio de urbanização do entorno
conforme proposta da Steer Davies Gleave, mantendo
Estádio Célio de Barros |
Fig. 4 - projeto da
Prefeitura do Rio de urbanização do entorno
conforme proposta da Steer Davies Gleave, mantendo
Estádio Célio de Barros |
O atual projeto do Governo do Estado do Rio de Janeiro
O
documento Projeto Maracanã, de 2012, em anexo, da Secretaria de Estado da Casa
Civil, prevê a demolição do Estádio Célio de Barros e do Parque Aquático Julio
Delamare e as reconstruções dos mesmos, sem indicar o local onde isto se daria.
Sabe-se
por declarações das autoridades estaduais que atualmente tal reconstrução
ocorreria nas duas áreas com disponibilidade de uso do outro lado da via
férrea, junto à Quinta da Boa Vista (áreas C e D da Fig. 6). No entanto, originalmente elas
seriam destinadas ao estacionamento de automóveis e receberiam um parque
público com 92 mil m², o Parque Glaziou, com projeto do escritório Burle Marx, ampliando
a área da Quinta da Boa Vista e representando um importante legado da Copa para
a cidade (Fig.
7). Haveria uma larga
passarela ligando o estacionamento à área do Estádio Maracanã (Fig. 8 e 9). O vídeo explicativo do projeto pode
ser visto em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=uOt3NnuqBwU.
O mesmo documento Projeto
Maracanã, de 2012 prevê a construção de edifícios de estacionamento sobre parte
da área indicada pela Steer Davies Gleave como sendo para a ampliação de
espaços de circulação de pedestres (Fig. 10 e 11).
Fig. 6 – Áreas no
entorno do estádio do Maracanã – Documento da casa Civil
|
Fig. 7 – Indicação de
passarela, parque e área para estacionamento
junto à Quinta da Boa Vista |
Fig. 8 – Indicação de
passarela e parque junto à Quinta da Boa Vista em vídeo institucional
|
Fig. 9 – Projeto de
passarela junto ao Maracanã
(notar a presença dos estádios de atletismo e de
natação) |
Fig. 10 – Proposta do
Governo do Estado com construção de garagem – setor Radial Oeste
|
Fig. 11 – Proposta do
Governo do Estado com construção de garagem – setor Av. Maracanã
|
Ora,
há aí uma enorme incoerência: as áreas conquistadas ao tráfego de veículos para
servirem aos pedestres passariam a ser usadas como estacionamentos e comércio, e
as áreas hoje ocupadas pelos estádios de atletismo e de natação seriam oferecidas
para suprir a nova necessidade de circulação de pedestres criada com a
construção dos edifícios comerciais e de estacionamento. Isto seria um enorme desperdício
de recursos públicos, já que esta solução implica a demolição de equipamentos em
uso e sua reconstrução.
Um
problema adicional, advindo da localização proposta para os novos edifícios, é
o empachamento ou obstrução da visualização do Estádio Mário Filho, bem tombado
federal. A altura daqueles edifícios (o projeto parece indicar um térreo mais
três pavimentos e uma mureta na cobertura, perfazendo algo em torno de 12m)
impedirá a visão do estádio por quem esteja a pé ou de carro em trechos
consideráveis das vias que circundam o estádio.
A
necessidade de áreas de circulação de acordo com a FIFA
Além
do já exposto, há que se considerar que muito provavelmente as áreas hoje
ocupadas pelos estádios não supririam bem a necessidade de circulação dos
pedestres que chegarem ao estádio, uma vez que são laterais às entradas
principais.
O
documento da FIFA “Estádios de Futebol – 5ª Edição 2011”, em anexo, em seu item
3.2, intitulado Acesso e Saída de Público indica a necessidade de uma “cerca
localizada a certa distância”. Nesta cerca seriam feitas “as primeiras
verificações de segurança e, quando necessárias, revistas corporais seriam
feitas nessa área.” Uma segunda verificação do público “será feita nas catracas
do estádio”. Ora, é evidente que esta área antes da referida cerca necessita
ser diante das principais entradas e não em posição lateral. O atual projeto
proposto pelo Governo do Estado para o entorno do Maracanã ocupa uma boa parte
destas áreas frontais com edifícios de estacionamento e lojas no térreo. Dessa
forma o projeto negligencia a necessidade de área diante das entradas
principais, privilegiando a oferta de área livre diante dos bares e
restaurantes a serem implantados pelos futuros concessionários sob os edifícios
dos estacionamentos.
As áreas para evasão do público
O
Estádio Mário Filho ficou conhecido, entre outras razões, por sua capacidade
recorde de público no Brasil. Ali já couberam quase 200 mil pessoas (199.854
pessoas na final entre Brasil e Uruguai na final da Copa de 1950). Com novas
intervenções visando o conforto dos usuários, como a supressão da geral, sua
capacidade caiu para 86 mil pessoas. As obras ora em curso, de adaptação do
estádio para a Copa de 2014, reduzirão ainda mais esta capacidade, que passará
para 76 mil lugares.
O
citado estudo da Steer Davies Gleave informa que uma das exigências da FIFA é a
possibilidade de escoamento do público do estádio em casos de pânico em até 8
minutos. Para tanto, além de saídas bem dimensionadas, são necessárias áreas de
acumulação do público que saia apressadamente do estádio.
A
reforma do Maracanã criou mais duas novas saídas de público, reduzindo em
aproximadamente 50% a responsabilidade das antigas saídas da Avenida Radial
Oeste e da Avenida Maracanã. Se cada uma dessas saídas recebesse ¼ do público
total, teríamos uma demanda de 19 mil pessoas por saída. Se cada uma das
pessoas que optassem pelas duas antigas saídas necessitasse de 0,70x1,00m, ou
seja 0,70m² (largura mais que suficiente, considerando que uma porta tem em
média 0,70m), seriam necessários 13.300m² para acomodá-las, caso as mesmas não
continuassem a se dispersar pelas ruas vizinhas, situação mais próxima da
realidade.
Quando se calcula a área livre para pedestres na proposta da Steer Davies Gleave, que não implica na demolição dos estádios de atletismo e de natação, chega-se à conclusão que haveria uma oferta de 170 mil m² de área livre diante do portal voltado para a Avenida Radial Oeste e 228 mil m² nos espaços diante do portal voltado para a Avenida Maracanã e na área anteriormente ocupada pelo Ministério da Agricultura (Fig. 12). Ou seja, são áreas mais que suficientes para acomodar com folga todos os torcedores que viessem a sair de uma só vez naquelas direções.
Quando se calcula a área livre para pedestres na proposta da Steer Davies Gleave, que não implica na demolição dos estádios de atletismo e de natação, chega-se à conclusão que haveria uma oferta de 170 mil m² de área livre diante do portal voltado para a Avenida Radial Oeste e 228 mil m² nos espaços diante do portal voltado para a Avenida Maracanã e na área anteriormente ocupada pelo Ministério da Agricultura (Fig. 12). Ou seja, são áreas mais que suficientes para acomodar com folga todos os torcedores que viessem a sair de uma só vez naquelas direções.
Fig. 12 – Cálculo das
áreas livres propostas por Steer Davies Gleave
|
Conclusão
O
cálculo de áreas disponíveis na proposta feita pela Steer Davies Gleave, que
não indica a necessidade de demolição do Estádio de Atletismo Célio de Barros e
do Parque Aquático Júlio Delamare, atende à necessidade da FIFA de uma área
diante das catracas para a realização dos primeiros controles dos torcedores.
Estas áreas são suficientes para acomodar os torcedores em caso de saída
apressada em casos de pânico.
A
atual proposta do Governo do Estado do Rio de Janeiro (Projeto Maracanã, de
2012) tem os inconvenientes de ocupar parte das áreas diante das entradas da Avenida
Radial Oeste e Avenida Maracanã, prejudicando os procedimentos de segurança.
Esta proposta, que parece privilegiar a oferta de áreas para lojas, bares e
restaurantes, desconsidera a hipótese de se levar o estacionamento de veículos
para os terrenos existentes nas proximidades da Quinta da Boa Vista, acessíveis
por futura passarela. Ela ainda é prejudicial à ambiência do bem tombado. Por
fim, ela implica em desperdício de recursos públicos com a demolição de
equipamentos já construídos e sua reconstrução em outros locais.
Face
ao exposto, conclui-se que a atual proposta do Governo do Estado do Rio de
Janeiro, que implica a demolição dos referidos estádios esportivos, não é a
melhor solução a ser adotada.
Análise perfeita! :-)
ResponderExcluirConcordo perfeitamente, alias há tempos me decidi por este projeto que revitaliza ambientalmente o entorno, e preserva as edificações existentes!
ResponderExcluiro projeto atual além de ruim, demolindo esses espaços, vem sem sombra de dúvida favorecer os novos arrendatários com a oferta de áreas para exploração comercial
ResponderExcluirExcelente analise, Roberto. Abracos
ResponderExcluirObrigado Vicente
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