Jardim de Chuva na Rua Alm. Gonçalves, Copacabana - foto Hanna N. Casarini |
Para o olhar
desatento, as árvores e parques são os únicos remanescentes da natureza na
cidade. Mas a natureza na cidade é muito mais do que árvores e jardins, e ervas
nas frestas das calçadas e nos terrenos baldios. É o ar que respiramos, o solo
que pisamos, a água que bebemos e expelimos e os organismos com os quais
dividimos nosso habitat[1].
Entre as experiências que a autora analisa, está o projeto para Woodlands, no Texas, que ganhou o Prêmio Especial do Urban Land Institute. Segundo a autora, o projeto para a cidade trata a drenagem de águas pluviais com um sistema natural, composto por áreas de absorção das águas pluviais pelo solo, várzeas arborizadas e os vales de cursos d’água para escoar aguaceiros. As várzeas arborizadas que recebem as águas pluviais são também locais para parques e trilhas através da cidade.
É o que hoje chamamos de cidade-esponja, aquela que, através de uma série de recursos técnicos, é capaz de absorver as águas da chuva no seu próprio solo. Tal cidade tem uma drenagem das águas pluviais que não contribui para mais enchentes. Drenagem sustentável e a necessidade do aumento de áreas verdes nas cidades são duas questões, dentre muitas, para as quais se tem buscado novos formatos. São as chamadas soluções baseadas na natureza (SBN).
Dentre elas, os jardins de chuva despontam como uma ideia engenhosa, que busca captar as águas das chuvas em calçadas e ruas, permitindo que as mesmas se infiltrem no solo. Isso exige o cuidado de que os poluentes do asfalto não contaminem os lençóis freáticos. São então previstas camadas de brita e tecidos filtrantes que retenham tais poluentes. É importante que as plantas escolhidas para esses jardins sejam capazes de resistir a momentos de inundação do seu solo.
No Rio de Janeiro, o arquiteto Pierre-André Martin e a paisagista Cecília Herzog, incansável divulgadora das SBN, foram pioneiros na introdução desse conceito. Em 2019, eles conduziram uma oficina para a construção de um jardim de chuva na Fundição Progresso. Em seguida, a arquiteta Claudia Grangeiro coordenou a criação pela Prefeitura do jardim de chuva da Rua Almirante Gonçalves, em Copacabana, que contou com a adesão dos moradores. E a Fundação Parques e Jardins vem incluindo esse dispositivo nos seus projetos para áreas públicas da cidade.
Medida importante no combate ao aquecimento global é a ampliação das áreas arborizadas das cidades. As árvores capturam o carbono da atmosfera, que na forma de CO² é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que provoca o aquecimento. Uma ideia interessante, que vem sendo realizada em mutirões em São Paulo, é a chamada floresta de bolso, desenvolvida pelo botânico Ricardo Cardim. O nome lembra o conceito de pocket park, que se refere a parques de pequenas dimensões surgidos no meio da cidade de Nova Iorque. Mas a floresta de bolso pretende recriar o ambiente de diversidade arbórea e a proximidade entre as espécies, característica da Mata Atlântica. O Largo do Batata, no bairro de Pinheiros em São Paulo, é um exemplo dessa iniciativa.
Apesar de terem demorado um pouco, arquitetos e urbanistas estão cada vez mais sensíveis à necessidade de se trazer o ideal de sustentabilidade para seus projetos. O repertório de SBN cresce à medida que as pesquisas avançam e novas realizações demonstram o acerto dessa escolha. Como a maioria das cidades do mundo, o Rio de Janeiro se desenvolveu transformando espaços naturais, através do desmonte de morros, de aterros de lagoas, alagados e áreas litorâneas, do desmatamento, e da impermeabilização do solo. Se formos inteligentes, iniciaremos o longo processo de transição para uma cidade que conviva com a sua natureza, ao invés de agredi-la.
[1] SPIRN, Anne Whiston. O
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