domingo, 28 de setembro de 2025

Rio de memórias

Hospital da Gamboa - Rio de janeiro

Uma cidade é onde se mora e se trabalha, onde se diverte e se ama. É onde se trava a luta pela subsistência, pelo sustento ou pelo sucesso. É o lugar onde moram pessoas queridas, que até podem ser família. É a coleção dos lugares preferidos e também, muito atual, dos lugares temidos. Pode ser a sua nova morada ou pode ser aquele lugar para onde sempre se volta após as viagens. Para quem nela vive há muito tempo, uma cidade pode ser também uma coleção de pontos de memória.

Mesmo tendo vivido em outras cidades, o Rio é o cenário da maior parte da minha vida. Alguns desses lugares deixaram de existir, deixando a memória de um acontecimento vagando como alma penada, sem ter onde pousar. Outros se transformaram tanto, que se tornaram irreconhecíveis. Mas há muitos que ainda estão aí na minha querida cidade. 

Na infância, me lembro de ter ido para o Hospital da Gamboa, enganado que a retirada das amígdalas seria indolor e recompensada com um sorvete. O hospital, que ainda existe, fica numa pequena elevação e lá cheguei numa manhã fria trazendo de casa um lençol. Estranha recomendação. Logo descobri que ele seria usado para me enrolar, prendendo meus braços para que não interferisse na carnificina que estava para se desenrolar. Sentado com os braços presos, restavam os pés, ainda capazes de chutar as canelas do médico, em protesto por aquela invasão da minha garganta. O sorvete não compensou a angústia daquele terrível momento. 

Me lembro do bonde que subia para o Alto da Boa Vista. Numa tarde de domingo, a cidade dos edifícios ficava para trás e uma floresta ia se tornando mais densa à medida em que se avançava estrada acima. Esse bonde, e todos os outros que usei na infância, já não existe. Restou o de Santa Teresa que só conheci já adulto.

Me lembro de uma floresta em pleno coração da Tijuca, lugar dos passeios dos alunos do Instituto São Vicente de Paulo. Lá no alto, no meio das árvores, havia a maior imagem de Nossa Senhora que podia existir. A floresta deu lugar a um hospital e a imagem foi parar na torre da basílica dedicada à santa, erguendo-se numa laje seca sobre o bairro, abaixo de seu filho lá na montanha mais alta.

Me lembro do colégio de freiras da rua Pereira da Silva, onde fui deixado durante um feriado. Do lado de dentro das grades, vi passar todo tipo de gente fantasiada, provocando e fazendo graça. E aprendi que aquilo era o Carnaval. O colégio é hoje um condomínio residencial, mas as grades ainda estão por lá. 

Me lembro do cheiro de maresia de Copacabana, algo que era presente a cada ida ao bairro. Me lembro das filas nos supermercados para comprar os produtos que estavam em falta. Somente alguns quilos de açúcar ou de feijão por pessoa. As crianças eram colocadas na fila para aumentar a quantidade de unidades que cada família levaria para casa. Me lembro também dos cortes de energia. Aqueles racionamentos ficaram no passado e a maresia foi empurrada junto com o mar para mais longe.

Me lembro da orla bucólica entre a Freguesia e o Cocotá, na Ilha do Governador, caminho que percorria quando era assolado pela vontade juvenil de me isolar. Me lembro do longo trajeto de ônibus entre a Ilha e o Colégio Pedro II de São Cristóvão, passando por muitos bairros da Zona Norte, num trajeto irracional, mas certamente mais lucrativo para a empresa. Me lembro das horas roubadas ao colégio e passadas com colegas na Quinta da Boa Vista. Tudo isso, de certa forma, ainda está por aí.

A cidade se transformou muito. Muito mais moradores, muito mais carros e edifícios, e muito menos cuidado com a paisagem e o passado. Todos perdem um pouco das suas lembranças. O trabalho de quem lida com o Patrimônio tem sido a difícil tentativa de preservar elementos da memória coletiva dos habitantes das cidades. Uma tarefa tão pouco compreendida por empresários e governantes.

Artigo publicado em 26 de setembro de 2025 no Diário do Rio.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Agora, o Reviver Zona Norte

O Censo de 2022 detectou um aprofundamento da tendência de perda de população da Zona Norte. Entre 2010 e 2022, a Zona da Leopoldina, por exemplo, perdeu 19% da sua população, ou seja, quase um quinto. Esse deslocamento populacional não é novo. Já vem sendo detectado em censos anteriores e vem ocorrendo também na Área Central e até na Zona Sul. Ele se dá em favor da Zona Oeste e da agora denominada Zona Sudoeste (Barra, Recreio e Jacarepaguá). Nas últimas décadas, investimentos públicos altíssimos, além de privados, foram direcionados para estas áreas de expansão da cidade, em detrimento dos investimentos nas áreas já consolidadas. Esse maior investimento nas novas áreas, com redução dos investimentos na Zona Norte, reforçou o agravamento dos problemas que levavam a população carioca a se transferir.

Mudar de bairro, muitas vezes vendendo a preços baixos os imóveis que se possui, é uma decisão drástica, só tomada em razão de fortes pressões. E estas se acumularam sobre as famílias moradoras da Zona Norte. Decaiu a qualidade dos espaços e dos serviços públicos, e aumentou a violência e a favelização. Pouco a pouco, antigos moradores foram fazendo suas malas e buscando novas paragens. Com menos moradores e menos eleitores, o círculo vicioso do descuido por parte do Poder Público só fez se acelerar.

Como reação, pouco efetiva, à perda de população na Área Central, a Prefeitura do Rio de Janeiro buscou revitalizar a Área Portuária, o bairro de São Cristóvão e o Centro. O projeto Porto Maravilha, ao não reservar áreas para residências, passou muitos anos sem que sequer uma moradia fosse construída. Agora assiste-se a uma concentração da edificação desses imóveis na área do Santo Cristo, mais próxima à Rodoviária Novo Rio. Mas as áreas da Saúde e Gamboa, que são próximas a áreas mais valorizadas, como a Praça Mauá, à exceção do projeto para o prédio A Noite, seguem sem novas moradias.

Para São Cristóvão a Prefeitura visualiza grandes projetos, como o Estádio do Flamengo, um Centro de Convenções e a Cidade do Samba 2. Ela também construiu o Terminal Gentileza. Mas, apesar disso, os antigos terrenos industriais permanecem vazios, à espera de investidores. Já no Centro, o projeto Reviver Centro vem tendo algum sucesso, bastante tímido para a dimensão do problema. No entanto, os projetos residenciais no Centro são feitos às custas de um forte adensamento de bairros da Zona Sul, para onde são direcionados os “prêmios” em potencial construtivo às construtoras que investem no Centro.

Demasiado tempo se passou com a Zona Norte sangrando. A Área da Leopoldina inclui bairros conhecidos e emblemáticos, como Bonsucesso, Manguinhos, Ramos, Penha, Penha Circular, Olaria, Brás de Pina, Vila da Penha, Vila Cosmos, Cordovil, Parada de Lucas, Vigário Geral e Jardim América. Desde o século XIX, essa área tem uma linha de trem, que vem perdendo passageiros, assim como o Ramal da Central. Lá há também BRT, Escola de Samba, monumentos importantes, como a Igreja da Penha, e muita história. Nenhuma cidade pode prescindir de uma região assim.

Agora a Prefeitura do Rio se lembrou que tem alguma responsabilidade com a Zona Norte e que tem o dever de tentar estancar a sua decadência. Sua resposta é o projeto denominado Reviver Zona Norte. Anunciado como algo abrangente é, no entanto, inicialmente limitado a poucas quadras de Bonsucesso. A Prefeitura acena com propostas de reurbanização de ruas e arborização urbana, mas a imagem de divulgação do projeto repete a lógica modernista de implantação de blocos residenciais afastados uns dos outros, espelhando uma quadra vizinha, onde estão blocos tipo H do antigo BNH.

Uma cidade que precisa de tantas revitalizações e reviveres é porque produziu muitas decadências dos seus bairros. São muitos os projetos de revitalização de bairros cariocas, enquanto seguem a todo vapor as novas construções nos bairros limítrofes, como Recreio, além do adensamento predatório de Ipanema e Botafogo. Mas o Censo de 2022 revelou que, desde 2010, a Cidade do Rio de Janeiro perdeu um total de 110.123 pessoas, ou 1,77% de sua população. 73% dos bairros cariocas tiveram queda em sua população, enquanto somente aproximadamente 27% dos bairros tiveram aumento populacional.

Parece não haver cariocas em número suficiente para ocupar, tanto as novas áreas, como para reocupar as que se esvaziaram. O Rio de Janeiro entrou para o rol das cidades que encolhem, ou shrinking cities, um fenômeno que vem sendo cada vez mais observado e estudado. Não é mais possível vender ilusões. É preciso fazer escolhas e planejar o espaço urbano da cidade.  Não é possível querer revitalizar bairros esvaziados ficando à mercê dos interesses do mercado imobiliário, que só se interessa por certas zonas. O Rio não pode perder a Área Central e a Zona Norte.

Artigo publicado em 18 de setembro de 2025 no Diário do Rio.

sábado, 13 de setembro de 2025

Gaza

 

Hind Rajab

Penso nas crianças que não crescerão, naquelas que não se tornarão jovens, que não viverão o primeiro amor. Penso nos jovens que não chegarão a ser adultos, naqueles que não cursarão uma universidade, que não formarão uma família. Penso nos adultos que não mais saberão o que é a felicidade, eternamente marcados por suas perdas e pelo que viram e sofreram.

Penso nas crianças sobreviventes, mutiladas, órfãs e traumatizadas. Penso na falta de abrigo de suas noites futuras. Penso nas escolas destruídas que não as recepcionarão. Penso no ódio contido que amargará suas existências. Penso no amargor que esse ódio impotente gestará. 

Penso nas mesquitas detonadas, suas cúpulas tombadas sobre os escombros. Penso nos cafés que não mais existem, nos jovens alegres e nos casais enamorados que não mais frequentam a orla. Penso no desaparecimento da própria orla.

Penso na terra cinza, calcinada, o que sobrou das explosões de bombas. Penso no que virou Rafah. Penso na terra marcada pelos traços de edificações arrasadas. Penso nas estrelas de Davi sulcadas nos terrenos aplainados, marcando um novo domínio.

Penso nos moradores dos edifícios residenciais jogando seus pertences pelas janelas porque é exíguo o prazo dado para evacuarem o lugar em que sempre moraram. Penso nos edifícios vindo abaixo com as histórias de vida dos novos deslocados.

São tantas as imagens, tantas crianças tremendo, seus pequenos corpos cobertos pela poeira dos destroços. São tantas crianças sem seus pequenos membros.  São tantos mortos. Gostaria que fossem apenas construções de inteligência artificial. Mas são reais. São retratos de sofrimentos reais. 

Penso em Hind Rajab, a menina de apenas cinco anos que estava num carro com seus pais, tios e primos fugindo da cidade de Gaza. O exército israelense bombardeou o carro em que ela se encontrava, matando toda a sua família. Penso em Hind usando o celular por horas, pedindo ajuda e dizendo que tinha medo. Penso nos paramédicos que, em vão, tentaram ajudá-la e que também foram mortos. Penso na ONG que leva o seu nome e que denuncia crimes de guerra. Penso nas centenas de voluntários que tentam levar alguma ajuda aos famintos de Gaza.

Penso em mais uma flotilha de internacionalistas que busca quebrar o cerco a Gaza e levar remédios e comida aos palestinos famintos. Barcos frágeis tentando transpor uma barreira de fogo em torno de Gaza. Penso em Thiago Ávila, em Greta Thunberg e em outros tantos que já foram presos antes e sabem que serão presos novamente. Penso no forte sentimento de solidariedade ao outro que os move.  

Me emociono com qualquer judeu da Diáspora que se manifesta e que diz: não em meu nome! Porque todo esse mal é feito, pretensamente, também em seu nome. Me solidarizo com a sua perda da mítica Israel. Porque o país real mostrou-se indigno das escrituras. 

Um genocídio é um genocídio. Foi o silêncio das outras pessoas que permitiu a existência dos anteriores. Foi o silêncio de cidadãos de bem que permitiu o Holocausto. É o silêncio dos nossos contemporâneos que permite a monstruosidade do que ocorre em Gaza. 

Artigo publicado em 11 de setembro de 2025 no Diário do Rio.


domingo, 7 de setembro de 2025

Mais um retrocesso no Patrimônio carioca

Desde o surgimento da noção de Patrimônio, ainda no século XIX, o universo que ele abarcava foi se tornando mais abrangente. Ampliou-se também a participação da sociedade na sua definição. Inicialmente somente bens de caráter excepcional, como palácios, igrejas e obras de arte eram considerados. Mas, o conceito passou a abranger centros históricos das cidades, sítios de batalhas históricas, locais importantes para a ciência e paisagens. Atualmente, também os bens imateriais foram incorporados à noção de Patrimônio.

Dois aspectos são dignos de serem ressaltados em todo esse processo. O primeiro foi o surgimento da noção de Patrimônio Cultural, em substituição à noção de Patrimônio Histórico e Artístico. Quando a Cultura passou a embasar o reconhecimento de um bem como Patrimônio, houve uma enorme ampliação daquilo a que se dá esse valor. A arquitetura vernacular, ou seja, aquela produzida pelo povo, sem regras acadêmicas, pode ser reconhecida. É o caso, por exemplo, do tombamento da Casa da Flor, em São Pedro da Aldeia, uma edificação ornada, interna e externamente, com caquinhos de cerâmica, vidro e louça pelo Senhor Gabriel Joaquim dos Santos, a partir de um sonho que ele teve em 1912. Da mesma forma, foram tombadas a Pedra do Sal, a Escadaria Selarón e os mantos do Bispo do Rosário. 

Outra importante modificação ocorrida no mundo do Patrimônio, decorrente da anterior, é sobre quem tem o poder de definir o que é Patrimônio. Nos tempos do Patrimônio Histórico e Artístico, essa definição estava restrita a historiadores e a arquitetos da academia. Mas, com o advento do conceito de Patrimônio Cultural a percepção do valor como Patrimônio nasce da população, da valoração que esta tem sobre as coisas e fatos que a cercam. Os órgãos de Patrimônio agora devem ter a sensibilidade para chancelar esse sentimento, que surge não apenas no mundo acadêmico, mas também nas ruas.

No entanto, um fato recente coloca em xeque todo esse progresso conquistado. O Supremo Tribunal Federal – STF mandou destombar a casa situada à avenida Epitácio Pessoa 1540 a partir de um parecer de um arquiteto, ex-superintendente do Iphan-RJ. Esse parecer trata da presumível falta de qualidade estilística de sua arquitetura. A casa em questão é uma residência unifamiliar projetada por F. Sabóia em 1935 e tombada pelo Município do Rio de Janeiro em 2002. O Decreto 22.007/2002 que produziu o tombamento desse e de outros imóveis no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas traz como justificativas a necessidade de proteção da área de entorno da lagoa, a necessidade de proteção do patrimônio construído no seu entorno imediato e a preservação da história da ocupação do local, da sua paisagem e da memória carioca.

Como se vê, muito corretamente, na justificativa do tombamento havia a percepção real de que a história da ocupação do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas se perdia com as sucessivas demolições e reedificações nos seus terrenos, e que a paisagem estava sendo alterada, não restando elementos que registrassem a memória local. É importante notar que essas grandes casas do início da ocupação daquela área eram elementos importantes da constituição da sua paisagem. Não houve no Decreto qualquer menção à pureza estilística da edificação ou suas eventuais qualidades excepcionais como edificação.  

No entanto, é exatamente a busca por pequenos defeitos estilísticos e mudanças ocorridas na edificação original ao longo do tempo que o arquiteto, autor do parecer que embasa o destombamento, realiza ao longo do seu documento. O STF ao determinar o destombamento do imóvel por tais razões, desconsiderando as corretas justificativas do decreto de tombamento, provoca um retrocesso de mais de uma centena de anos na evolução do conceito de Patrimônio. Segundo essa ótica bolorenta, não valem mais o apreço da comunidade pela existência desse marco na paisagem local, nem a noção de paisagem. Somente a opinião de um erudito, de um scholar, poderia validar um tombamento.

Além dessa visão retrógrada, o STF ao decidir sobre a validade de um tombamento municipal parece extrapolar de forma gritante a sua função de guardião da Constituição. Mesmo que a Prefeitura do Rio de Janeiro estivesse equivocada no seu decreto de tombamento, o que não é o caso, esse equívoco não seria uma agressão à Constituição brasileira. Muito pelo contrário, cabe aos Municípios a definição das regras de uso do solo urbano. E a preservação do Patrimônio Cultural se inscreve nessas atribuições, ainda que compartilhadas por Estados e pela Federação.  

O parecer do “especialista” e a ação desastrada do STF têm consequências. Os proprietários do imóvel já entraram com o pedido para a sua demolição. Perde a cidade um de seus marcos e perdem os cariocas. Tudo isto por interesse financeiro, já que o terreno, sem o imóvel destombado, estaria avaliado em R$ 130 milhões. Como educar os excelentíssimos ministros do STF sobre Patrimônio?    

Artigo publicado em 05 de setembro de 2025 no Diário do Rio.

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Nobreza ingógnita

No metrô, vi passar um nobre. Não uma nobre pessoa, mas alguém que se cria nobre, alguém imbuído da convicção de ser um! Ele até se vestia de forma simples. Usava um boné de couro, e uma roupa que em nada diferia da de um trabalhador. Mas ele era nobre. Ou se sentia assim. Como um nobre, acreditava-se acima dos demais, e praguejava contra a plebe. Esse era o termo que ele usava para reclamar dos que, segundo ele, não sabiam se comportar num local público. 

É certo que a nobreza não frequenta o transporte público. Mas lá estava ele. Ele e a sua estranha noção de superioridade. Sua convicção era tamanha, que ele não temia expressar em alto e bom som a sua contrariedade em relação à gente que o cercava. Escudado no seu suposto sangue azul, não tinha medo de ser confrontado ou contrariado.

As barbaridades que dizia, de tão absurdas, o protegiam. Quem o contrariaria? Por outro lado, talvez buscando manter seu status, ele não falava alto ou gritava, como alguém da sua imaginada plebe o faria. É provável que isso, além da sua idade um pouco avançada, também o protegesse da fúria dos que porventura se sentissem atingidos. Sua reclamação era dita num tom cortês e só espantaria se o ouvinte apurasse o ouvido, em meio a pressas e conversas dos demais passantes.

A grande cidade é o lugar onde estranhezas podem ocorrer. Deslocados, bizarros, excêntricos, ou mesmo ultrajantes, seguem seus caminhos, quase sem serem importunados. Com tantos afazeres e preocupações diversas, tanta gente em volta, estranhezas mil em incontáveis escalas, quem haveria de pausar a sua vida corrida para criar caso com um lunático? O profeta Gentileza ou a mulher de branco de Ipanema puderam seguir com suas obsessões sem terem de se preocupar com grupos de crianças a lhes atormentar o juízo. Na grande cidade, seus delírios são parte da paisagem. 

Observá-los e dar-lhes ouvidos, isso sim, deve ser algo fora da normalidade. 

Artigo publicado em 29 de agosto de 2025 no Diário do Rio.