Mapa do Surging Seas para Zona Norte do Rio de Janeiro |
Nos últimos tempos tivemos chuvas fortes, também com inundações, deslizamentos de terra e perdas de vidas, em Minas Gerais e em Petrópolis. Em 2011, as chuvas provocaram terríveis desastres na Região Serrana, que custaram mais de 900 vidas. E vimos a seca no Sul, com a perda de colheitas, e os incêndios no Pantanal. Logo vêm outros eventos dramáticos, fazendo os mais recentes parecerem distantes. Mas não, eles são cada vez mais frequentes, mais próximos no tempo e mais intensos.
Esses eventos extremos atingem fortemente as nossas cidades que, se não foram pensadas de forma a garantir a segurança e o conforto dos cidadãos, muito menos levaram em consideração a necessidade de preservar áreas ambientalmente mais sensíveis. A moradia das famílias pobres nunca foi de verdade planejada. Quando muito, alguns conjuntos habitacionais foram construídos nas periferias, não raro em áreas sujeitas a alagamentos. As pessoas então se viraram como puderam, em encostas, em beiras de rios, em áreas sujeitas a inundações.
Esse descaso agora vem cobrando um preço demasiadamente alto. São as vidas de brasileiros, em geral entre aqueles mais necessitados, e as suas economias que se vão. Os atuais e futuros prefeitos devem entender urgentemente que o mundo mudou para pior em função da crise climática. Ela chegou, é uma realidade.
As cidades brasileiras vão precisar reservar uma parcela significativa dos orçamentos municipais para usar em situações emergenciais, que serão cada vez mais frequentes. Isso significa fortalecer os sistemas de defesa civil, com mais treinamento, melhores equipamentos e locais de abrigo para desalojados. Significa também realocar moradias atualmente em áreas de risco. Não é mais possível deixar seus ocupantes confiados apenas na sorte ou na providência divina. Infelizmente, fatalidades ocorrerão, quer rezemos ou não.
Nas cidades litorâneas haverá ainda o avanço do mar sobre áreas costeiras, em função da elevação dos níveis dos oceanos, outro efeito do aquecimento global. As notícias nos chegam aos poucos. Um pontal que teve suas casas destruídas aqui, um calçadão à beira-mar desmoronado ali. Se não fizermos nada, os prejuízos serão gigantescos.
Com relação à Cidade do Rio de Janeiro, já se tem clareza sobre as áreas passíveis de sofrer com esse avanço do mar. No caso de um aquecimento global de mais 2°C acima dos níveis pré-industriais, uma situação já bastante provável, haverá avanço das águas do mar sobre partes da Área Portuária, sobre as pistas dos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont, sobre a Praia da Reserva, sobre o Parque Olímpico e sobre áreas de Grumari. Como nem todos os países cooperam para a redução das emissões de gases do efeito estufa, e o atual presidente do Brasil incentiva o desmatamento, não é impossível que se chegue a uma situação mais absurda, de elevação da temperatura em mais 4°C. Nesse caso, a destruição alcançaria a Praça da Bandeira, áreas da Avenida Presidente Vargas, o Parque do Flamengo, a Cidade Universitária, áreas no entorno da Avenida Brasil, e áreas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Além disso, municípios da Baixada Fluminense seriam também fortemente atingidos. Os atuais e os próximos prefeitos e governadores aguardarão o desastre ou tomarão alguma iniciativa? É bom que os eleitores pensem a respeito.
artigo publicado no Diário do Rio em 02 de junho de 2022.
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