As ruas do Rio estão esburacadas. Mas, isso não é de hoje. Desde os tempos da Guanabara já era assim. O surpreendente é que não mude. Entra prefeito socialista, muda para prefeito peessedebista, pula para prefeito evangélico, chega a prefeito neoliberal e o estado das ruas continua o mesmo. Quanto mais distantes dos bairros nobres, mais degradada fica a coisa. O estado caquético e remendado das ruas do Rio parece ser uma metáfora do buraco em que nos metemos.
Cinco governadores já foram presos e o atual tem uma vasta folha corrida que lhe garantiria um lugar em Bangu. Recentemente, um deputado estadual foi preso por associação ao crime organizado. E, sem mais nenhuma surpresa, agora chegou a vez de mais um presidente da Assembleia Legislativa. O cara que preside o Parlamento do Estado, que já indicou comandantes de batalhões e o chefe da segurança pública, avisava a um criminoso sobre a chegada da polícia. Nenhum espanto, quatro outros presidentes da mesma Alerj também já foram presos. Não há novidades na lama da política fluminense.
Os candidatos se apresentam ao povo defendendo ideias abstratas, como Deus e a família tradicional. Juram ser pessoas de bem, que só querem um lugar no parlamento para defender o homem comum. São fulanos do posto, sicranos da farmácia, TH das joias, pastores, bispas e apóstolos. Depois de eleitos, se apropriam de nacos do Estado e legislam contra os trabalhadores, contra o meio ambiente e contra os direitos de mulheres, gays, aposentados e funcionários.
O povo acredita. Quem não acredita, vota mesmo assim, de olho num benefício prometido, uma esperteza a ser conseguida, um favorecimento para alcançar um emprego, uma indicação para ser atendido no posto de saúde ou uma vaga para o filho na escola. Tudo isso embalado em campanhas milionárias que produzem o convencimento de que aquele candidato tem fortes possibilidades de ser eleito. Melhor então aderir às maiorias que se formam.
O eleitor tem chancelado essa porcariada em que se transformou a política do Rio. Sem organização sindical, sem associações de moradores ou de reivindicação de algum direito que seja, o eleitor sedimenta a sua escolha de forma aleatória, ouvindo o pastor, acreditando nas histórias mirabolantes que lhe chegam pelo celular ou fazendo fé no seu juízo de pessoa esperta, difícil de ser enganada. Não sabe nada, inocente.
As ruas seguem esburacadas, mas os negócios imobiliários estão bombando. Que importa se a paisagem e o Patrimônio Cultural da cidade se apagam? O próximo governador parece já estar se definindo. Poderemos assistir à fusão da esperteza neoliberal da Barra com a dos que dominam os grotões e os currais eleitorais do Estado do Rio. Nova roupagem para a decadência nossa de cada dia.
Artigo publicado em 04 de dezembro de 2025 no Diário do Rio.
