foto Roberto Anderson |
Estamos no natal da infinita pandemia. Nossas resistências foram sendo minadas pela guerra travada pelo governo federal contra nossas precauções. Muitos já se foram, muitos conhecidos adoeceram, e quem ainda não foi tocado pelo vírus tem medo de ser o próximo. As compras de natal não foram feitas como em outros anos. Poucos presentes para nossos familiares chegaram por correio, em caixas amassadas, sem estarem embrulhados em papéis natalinos. Muitos estarão sós ou acompanhados de um círculo mínimo de familiares que as normas de prevenção permitem.
É hora de olharmos para fora de nossas janelas. Quem tiver a vista do Cristo, da Igreja da Penha ou do Pão de Açúcar verá os pontos altos desse cenário. No céu, talvez por trás de nuvens, estará a conjunção de Júpiter e Saturno. Abaixo estarão as luzinhas das favelas, sempre mais próximas entre si do que as do resto da cidade. E veremos as luzes dos edifícios altos e garbosos, assim como aquelas dos sobrados e predinhos mais antigos. Fileiras de postes de luzes, às vezes brancas, às vezes amareladas, marcam as linhas por onde já circulamos. Os faróis dos carros e as luzes coloridas e cambiantes dos semáforos, refletidos no asfalto molhado, darão movimento à cena. As luzinhas piscantes, importadas da China, de alguma varanda assegurarão que é Natal. E nos sentiremos irmanados, fazendo parte de um imenso presépio, a nossa própria cidade. Bom Natal.
artigo publicado no Diário do Rio em 24 de dezembro de 2020.
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