foto Fellipe Sampaio |
Em nossas vidas, volta e meia entoamos o hino nacional. Alguns mais velhos o fizeram em formação, no pátio da escola, outros nos estádios, ou diante dos televisores ligados no início dos jogos de futebol. Nesses momentos, ele é cantado de forma vigorosa. E à capela, acelerado, na segunda parte, que os organizadores dos torneios insistem em sonegar.
Nos estádios, o hino nacional é como a sequência de movimentos e caretas maoris dos neozelandeses, a demonstração de força que pretende assustar os adversários. Já nas solenidades oficiais, ele é uma gravação que, de tão conhecida, parece ser regido pelo próprio Francisco Manoel da Silva. A cadência, algo marcial, seria fruto da longa ingerência militar na vida nacional?
Mas, vendo Maria Bethânia cantá-lo, temos a certeza de que nosso hino é bonito. Ela desliza pelas notas, fazendo-as permanecer um pouco mais em suspenso. Bethânia vai além da música, que tem seu mérito e até já rendeu obra sinfônica. Ela resgata a beleza das palavras que, muitas vezes, repetimos automaticamente. Ouvimos dela com calma, e renovado encantamento, que nossos bosques têm mais vida, que nossos campos têm mais flores, que nosso céu é risonho e límpido, onde o Cruzeiro do Sul resplandece. Que, à luz desse céu profundo, e ao som do seu mar, fulgura nosso país, florão da América.
Pela voz de Bethânia lembramos do sonho de que esta seja uma terra adorada, uma mãe gentil, qualidade que quase esquecemos diante da rudeza das vidas desvalidas e do rugir dos enganados pelo populismo raivoso. No amor renovado pela Pátria, seja lá o que entendamos por isso, nos dispomos a demonstrar que um filho dessa terra não foge à luta. E chegamos ao auge de declarar não temer nossa própria morte!
Com doçura, Bethânia canta berços esplêndidos, lábaros, flâmulas, clavas e braços fortes. Em sua voz, entre outras mil, esta é a Pátria amada. Patriazinha diria Vinícius de Moraes. Ouvindo Bethânia, o amor e a esperança a esta terra desce.
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