Plantar uma árvore é uma ação amorosa. Amor ao que existe, amor a este lugar, à Terra. É uma pequena ação de cura desse mundo tão devastado. Plantar árvores é uma interferência na flecha do tempo. Plantar e esperar os anos passarem, para depois reconhecer os troncos crescidos, que agora substituem aquelas mudas frágeis. A vida vai sendo vivida como é possível. Desafios vão sendo aceitos, conquistas e perdas se sucedem, a rotina é vivida em cada uma de suas ações repetidas. O tempo marca o corpo, tornando-o mais fraco. Enquanto isso as mudas plantadas se robustecem, projetando uma existência para muito além do tempo presente.
Vulcões entram em erupção e lançam colunas de fogo e fumaça no ar. Chaminés de indústrias e usinas mundo afora expelem toneladas de fuligem. Queimadas gregas, amazônicas e californianas pintam os céus de cinza. Bilhões de veículos queimam gasolina, diesel, álcool e o que mais houver. Aviões rasgam os céus deixando sua poeira fina, que cai sobre nós. Navios abarrotados de mercadorias cruzam os oceanos, tecendo, longe dos nossos olhos, uma malha de fumaça escura. As árvores tudo isso engolem. Elas constituem sua matéria dessas explosões da natureza, e da insanidade humana. Dia a dia, lentamente, agem pela redução da entropia, principalmente a que causamos.
A vida toda você buscou plantar árvores ou que elas fossem preservadas. Lutou pela preservação da Amazônia e da Mata Atlântica, contra a devastação do Cerrado. E teve mais derrotas do que vitórias. Um dia, você se vê dono de um sítio. Um pedaço de terra para dizer que é seu enquanto vivo for. Ele é a sua arca de Noé, para onde o que há de melhor em você poderá ser levado e guardado. E você planta.
De início, compra mudas de algum viveiro de estrada. Depois, passa a produzir suas próprias mudas. Coleta as sementes das frutas que come, para vê-las germinar. Descobre os segredos de como quebrar a dormência das sementes mais duras. Aquelas das árvores mais altas, das palmeiras mais exuberantes. Sua casa vira um berçário de futuros pomares e florestas.
Agora você viaja prestando atenção na flora de lugares longínquos. Você se torna um coletador de sementes, não se importando que sejam de espécies exóticas, estranhas ao clima e à paisagem daqui. Seu sítio tudo aceitará e o mundo vegetal será reproduzido ali em pequena escala.
Plantar árvores talvez seja uma forma de colonizar o futuro, deixando marcas vivas por aí. Como um cachorro que demarca território, você planta por todo lado. O seu mundo, o seu sítio agora estão povoados de projetos futuros. Ipês de todas as cores, que florescerão num tempo distante. Nêsperas que frutificarão num futuro incerto. Castanhas que cairão de araucárias que você não as verá tão grandes. Um paraíso projetado para quando você já estiver ausente. Você é feliz plantando.
Artigo publicado em 13 de março de 2025 no Diário do Rio.
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