Estamos em fins de julho, quase agosto. Já, já começam as campanhas para prefeitos e vereadores. Um começo oficial porque, na prática, os pré-candidatos estão todos aí, se movimentando nas ruas e na Internet. Apoios para a hora do corpo a corpo vão sendo conquistados, doações vão sendo amealhadas e alianças vão sendo costuradas. Alianças essas que, às vezes, deixam o eleitor perplexo. É a política senhores!
Normalmente prestamos mais atenção aos candidatos a cargos majoritários, que nesta eleição são os de prefeitos. Esquecemos de olhar os que vão propor e votar as leis, além de aprovar ou desaprovar as propostas dos prefeitos. Muitas vezes, a vereança é a porta de entrada na política. Despercebidos, ali surgem futuros governadores, senadores, e até presidentes.
Pouco conhecidos no início da carreira, podem crescer como líderes regionais ou nacionais, podem tornar-se déspotas corruptos, ou podem acomodar-se no pequeno espaço de poder que conquistaram, manobrando os votos de seus currais eleitorais. Os desvios de caráter e de conduta são propiciados pela pouca atenção a eles dispensada, tanto pelos eleitores, quanto pela mídia, mais ocupada com assuntos de Brasília.
No entanto, são tantos os problemas de nossas cidades! Grande desigualdade de renda, de condições de moradia e de ocupação dos espaços urbanos são alguns dos problemas que nos infelicitam e, infelizmente, nos caracterizam como nação. Até hoje não foram tratados seriamente, muitas vezes servindo como pretexto para mais enganação. A bica d'água prometida na comunidade se sofisticou e pode estar travestida de um conjunto habitacional nas lonjuras de alguma área sem qualquer infraestrutura ou no posto de saúde novinho, mas sem médicos.
Alguns prefeitos aprenderam a torcer o Estatuto das Cidades a seu bel prazer. Tornam instrumentos de política urbana pensados para o bem coletivo em artifícios para beneficiar grupos de eleitores ou os de sempre, os especuladores imobiliários. No Rio de Janeiro isto virou o arroz com feijão da administração municipal. Como poucos se dão ao trabalho de esmiuçar o que se passa e os vereadores se sentem livres para aderir à lambança, perdem as cidades, sua paisagem e seu Patrimônio.
Poucos se dão conta da fonte de riquezas contida na especulação com a terra urbana e com a manipulação das legislações de uso do solo urbano. Fortunas se formam. O cidadão percebe efeitos colaterais, como a perda da vista de sua janela, uma verticalização excessiva, a destruição da memória das cidades, a piora no trânsito e a incapacidade de resposta da pouca infraestrutura de saneamento já instalada. Mas ele não se dá conta de que o vereador que ele ajudou a eleger pode estar vinculado a isso.
Além de todos os problemas antigos, temos agora um novo: a ameaçadora crise climática. Ela está aí, é uma cruel realidade para gaúchos, petropolitanos, cariocas e muitos outros. Mas ela não é tema de campanha da maioria esmagadora dos políticos. É senso comum que agir na prevenção é mais barato e salva vidas. Mas, o eleitor se lembrará de perguntar ao seu candidato se ele está atento a esse problema?
Certamente, em cada cidade há pessoas morando em áreas vulneráveis a grandes enchentes, a deslizamentos de terras e ao avanço do mar. Quase toda cidade está padecendo de crise hídrica, pela falta de chuvas. As ondas de calor intenso, agora mais frequentes, são potencializadas por ilhas de calor nas cidades.
Há muito o que fazer com relação ao meio ambiente e com a urgência da crise climática. O prefeito continua liberando construções em encostas ou em beiras de rios? Ele continua a pavimentar tudo sem lugar para as águas pluviais se infiltrarem no solo? A legislação que os vereadores votam na sua cidade prevê uma área livre nos terrenos para o verde e a drenagem da água da chuva? O prefeito planta árvores ou, ao contrário, manda cortá-las?
Seguir a maioria sem saber o porquê ou decidir de qualquer jeito não é a melhor opção. Daqui até outubro dá tempo de pesquisar bem e fazer uma boa escolha de candidato a vereador ou vereadora e de prefeito ou prefeita. Quem sabe dê tempo de se empolgar e até ajudar a distribuir uns santinhos?
Artigo publicado em 25 de julho de 2024 no Diário do Rio
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