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Imagem do projeto do Consórcio Rio+Veerde |
Em 1930, foi publicado o plano urbanístico de Alfred Agache para a Cidade do Rio de Janeiro. Entre suas propostas, que incluíam um metrô, Agache projetou um belo jardim para a área do Calabouço. Ele teria um espelho d'água em forma de canal, ladeado por canteiros ajardinados, caramanchões com trepadeiras floridas e aleias de palmeiras. O plano não foi implementado em sua integralidade, mas o jardim para o Calabouço influenciou o projeto do Jardim de Alah, implantado às margens do canal que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar, entre Ipanema e Leblon.
Com uma estética Art-Déco, o Jardim de Alah recebeu
esse sugestivo nome em razão de um filme americano que teria feito sucesso na
época de sua inauguração, em 1938. Consta que gôndolas permitiam que os
visitantes passeassem pelo canal. A plasticidade do Jardim de Alah levou ao seu
tombamento pela Prefeitura no ano de 2001. No entanto, o parque foi cercado
pela verticalização dos bairros vizinhos, e a paz dos visitantes foi atingida
pela insegurança na cidade. Bem pior do que isso, foi o descaso das autoridades
municipais com a sua conservação, estendida aos demais espaços públicos da
cidade. Até mesmo um canteiro de obras do metrô chegou a ser instalado no
jardim. Após a saída do canteiro, restou um espaço arrasado, onde havia as
marcas dos sanitários construídos para os trabalhadores.
Não se sabe se a Prefeitura do Rio acionou a empresa
do metrô, mas sabe-se que ela não retomou a conservação do parque. Ela optou
por fazer uma licitação para a concessão do espaço por trinta e cinco anos.
Venceu o consórcio Rio+Verde, que propôs um projeto que vem sendo alvo de
muitas contestações. Sem entrar no mérito da concessão, dispensável caso a
Prefeitura assumisse os cuidados com o parque, vale a pena discutir os
elementos do projeto que têm provocado tanta recusa por parte de moradores e
visitantes do Jardim de Alah.
A concessão do Parque da Catacumba pode ser tomada
como comparação. Numa intervenção minimalista, lá foi feita a sinalização de
uma trilha, e foram instaladas estruturas de arvorismo, escalada e uma
tirolesa. Já a proposta do consórcio vencedor para o Jardim de Alah altera de
maneira muito radical a sua fisionomia, contrariando o tombamento municipal.
Na lateral próxima a Ipanema, o projeto propõe a
construção de uma laje acima do solo, a poucos metros do espelho d’água, cobrindo
a extensão de aproximadamente quatro quadras, entre a rua Barão da Torre e a
avenida Epitácio Pessoa. Sob essa laje haveria lojas, restaurantes, um mercado
e estacionamento. Visando amenizar essa intervenção, a parte superior dessa
laje seria coberta por vegetação e alguma arborização. Mas nenhuma vegetação
sobre a laje mudaria o fato de que ela seria um elemento de forte impermeabilização
do solo do parque. Além disso, para a construção dessa imensa laje, haveria a
necessidade de remoção ou realocação de árvores, o que foi contabilizado em 130
indivíduos de tamanhos variados.
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