sábado, 2 de agosto de 2025

Beijing

 

Hutong em Pequim - foto Roberto Anderson

Pequim (Beijing) é uma cidade muito antiga. A primeira área urbana fortificada data de 1045 AC. Era a cidade de Jicheng. Diversas conquistas do território se sucederam até ela tomar o nome de Beijing (a capital do Norte) em 1403. Nesse período, foram construídas a Cidade Proibida, Tiananmen e o Templo do Céu, três de suas maiores atrações. 

É a segunda maior da China, depois de Xangai. A sua estrutura viária é composta por anéis mais ou menos concêntricos e não exatamente redondos. Eles são uma marca da expansão da cidade, tomando-se como centro a Cidade Proibida. A partir do entorno dessa área, contam-se mais cinco anéis. Muitos bairros desses anéis têm nomes terminados em mén, que é porta em chinês. Estão referidos às portas dos antigos muros, da mesma forma que em Paris há localidades, e estações de metrô, com a denominação de Porte. Há também bairros cujos nomes são terminados em cūn, que significa vila. Eram os bairros fora dos muros. 

Esses anéis são largas avenidas, e há outras ruas e avenidas igualmente largas e muito bem arborizadas, cortando o território da cidade. Mas, essas vias delimitam grandíssimas quadras, áreas residenciais onde a circulação viária é limitada. No passado, eram as áreas de alta densidade de ocupação do solo por pequenas casas fora da Cidade Proibida. Elas ainda existem, são os hutongs, e hoje têm todos os serviços públicos. Mal comparando, são o que nossas favelas poderiam ser, caso tivessem um pouco mais de cuidado por parte do poder público. Atualmente, algumas dessas grandes quadras são ocupadas por edifícios, mas permanecem com um jeito de vila.

As ciclovias da cidade são bem largas, em certos casos, às custas de um drástico estreitamento das pistas para os carros. O uso de bicicletas é intenso e até um pouco descuidado com os pedestres. Além disso, esses milhões de bicicletas, elétricas ou não, quando não estão em uso, são estacionadas nas calçadas, tomando boa parte do espaço. As de aluguel têm placas solares nos bagageiros à frente. Já quase não se vê veículos a combustão, o silêncio dos elétricos impera.

É sabido que a China é populosa. Ao andar por Beijing, que tem 22 milhões de habitantes, tem-se essa confirmação. Há sempre muita gente em todos os lugares. À noite, pelo menos no verão, há pessoas caminhando nas ruas, fazendo compras, se exercitando, ou apenas sentadas ou deitadas nos bancos ou muretas curtindo o espaço público. E muitas crianças brincando nas praças. Vitalidade urbana não necessariamente dependente do consumo, como em cidades de países desenvolvidos do ocidente. 

Há uma enorme preocupação com a segurança. Muitas câmeras de vigilância podem ser vistas nas calçadas da cidade.  Ao entrar em qualquer estação de metrô, ou em atrações turísticas, todas as pessoas têm que passar seus pertences numa máquina de escanear, além de atravessar pórticos detectores de metal. Até as garrafas de água são checadas. Um aparelho portátil identifica que efetivamente seja água. 

Um caso a parte é a entrada na Praça Tiananmen. Ali as restrições são fortíssimas e o tempo de espera para atravessar os procedimentos de segurança é grande. Revista-se o visitante e todos os seus pertences, inclusive a carteira de dinheiro e a capa do celular. O lado bom é que não há a mínima preocupação em ser roubado na cidade. 

Estrangeiros são como ilhas num mar de chineses e são facilmente notados. Quando se está com aquele jeito de perdido, tentando decifrar nomes de estações de metrô, por exemplo, sempre aparece alguém oferecendo ajuda em inglês. Por ainda serem relativamente raros, pode acontecer de alguém dar um "hello" na rua, pedir para tirar uma foto junto, ou puxar conversa usando o tradutor do celular, só pelo prazer de ter contatado um estrangeiro.

Em geral, as pessoas não falam inglês, mas entre os jovens há mais gente que fale. Garçons e garçonetes recorrem muito a algum aplicativo de conversão de texto. E, nos mercados os vendedores são muito simpáticos e sorridentes, tentando se comunicar com o cliente.  

Os estrangeiros são também uma minoria acachapante nos pontos turísticos da cidade. Ao contrário da maioria das grandes cidades do mundo, em Pequim esses locais estão lotados pela população do país. Gente de todas as idades vem visitá-los. Muitos são do interior. Após a visita, sentam-se em algum lugar, comem o lanche que trouxeram, e alguns tiram até uma soneca. Com razão, sentem-se em casa.

O uso do celular é intenso e constante. Se a pessoa estiver parada, é quase certo que estará vendo algo na telinha. Quase nada é pago com dinheiro. Todos usam o aplicativo We Chat ou Alipay. O cliente abre o QR code do aplicativo no seu celular, o qual é escaneado pelo vendedor e pronto, o pagamento está feito. Nesse ponto, é mais simples do que o Pix. Máquinas de venda de bilhetes e produtos também escaneiam o QR code do comprador. 

Há, especialmente entre as mulheres, um grande temor dos raios solares. Muitas cobrem os braços, usam luvas e portam bonés de abas enormes. Sombrinhas também são muito usadas para caminhar sob o sol, não só por mulheres. E há quem faça uso de uma espécie de "niqab" cobrindo nariz, boca e pescoço.

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil, mas os brasileiros ainda não a têm nos seus roteiros turísticos. Em tempos de restrições crescentes à entrada nos Estados Unidos, a China deve ser uma forte opção a ser considerada. Brasileiros estão isentos de visto e os preços das coisas não são altos. E o país, a sua cultura e a sua gente são fascinantes.

 Artigo publicado em 24 de julho de 2025 no Diário do Rio

 

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