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Hutong em Pequim - foto Roberto Anderson |
Pequim (Beijing) é uma cidade muito antiga. A primeira área urbana fortificada data de 1045 AC. Era a cidade de Jicheng. Diversas conquistas do território se sucederam até ela tomar o nome de Beijing (a capital do Norte) em 1403. Nesse período, foram construídas a Cidade Proibida, Tiananmen e o Templo do Céu, três de suas maiores atrações.
É a segunda maior da China, depois de Xangai. A sua
estrutura viária é composta por anéis mais ou menos concêntricos e não
exatamente redondos. Eles são uma marca da expansão da cidade, tomando-se como
centro a Cidade Proibida. A partir do entorno dessa área, contam-se mais cinco
anéis. Muitos bairros desses anéis têm nomes terminados em mén, que é porta em
chinês. Estão referidos às portas dos antigos muros, da mesma forma que em
Paris há localidades, e estações de metrô, com a denominação de Porte.
Há também bairros cujos nomes são terminados em cūn, que significa vila. Eram
os bairros fora dos muros.
Esses anéis são largas avenidas, e há outras ruas e
avenidas igualmente largas e muito bem arborizadas, cortando o território da
cidade. Mas, essas vias delimitam grandíssimas quadras, áreas residenciais onde
a circulação viária é limitada. No passado, eram as áreas de alta densidade de
ocupação do solo por pequenas casas fora da Cidade Proibida. Elas ainda
existem, são os hutongs, e hoje têm todos os serviços públicos. Mal comparando,
são o que nossas favelas poderiam ser, caso tivessem um pouco mais de cuidado
por parte do poder público. Atualmente, algumas dessas grandes quadras são
ocupadas por edifícios, mas permanecem com um jeito de vila.
As ciclovias da cidade são bem largas, em certos
casos, às custas de um drástico estreitamento das pistas para os carros. O uso
de bicicletas é intenso e até um pouco descuidado com os pedestres. Além disso,
esses milhões de bicicletas, elétricas ou não, quando não estão em uso, são
estacionadas nas calçadas, tomando boa parte do espaço. As de aluguel têm
placas solares nos bagageiros à frente. Já quase não se vê veículos a
combustão, o silêncio dos elétricos impera.
É sabido que a China é populosa. Ao andar por Beijing,
que tem 22 milhões de habitantes, tem-se essa confirmação. Há sempre muita
gente em todos os lugares. À noite, pelo menos no verão, há pessoas caminhando
nas ruas, fazendo compras, se exercitando, ou apenas sentadas ou deitadas nos
bancos ou muretas curtindo o espaço público. E muitas crianças brincando nas
praças. Vitalidade urbana não necessariamente dependente do consumo, como em
cidades de países desenvolvidos do ocidente.
Há uma enorme preocupação com a segurança. Muitas
câmeras de vigilância podem ser vistas nas calçadas da cidade. Ao entrar
em qualquer estação de metrô, ou em atrações turísticas, todas as pessoas têm
que passar seus pertences numa máquina de escanear, além de atravessar pórticos
detectores de metal. Até as garrafas de água são checadas. Um aparelho portátil
identifica que efetivamente seja água.
Um caso a parte é a entrada na Praça Tiananmen. Ali as
restrições são fortíssimas e o tempo de espera para atravessar os procedimentos
de segurança é grande. Revista-se o visitante e todos os seus pertences,
inclusive a carteira de dinheiro e a capa do celular. O lado bom é que não há a
mínima preocupação em ser roubado na cidade.
Estrangeiros são como ilhas num mar de chineses e são
facilmente notados. Quando se está com aquele jeito de perdido, tentando
decifrar nomes de estações de metrô, por exemplo, sempre aparece alguém
oferecendo ajuda em inglês. Por ainda serem relativamente raros, pode acontecer
de alguém dar um "hello" na rua, pedir para tirar uma foto junto, ou
puxar conversa usando o tradutor do celular, só pelo prazer de ter contatado um
estrangeiro.
Em geral, as pessoas não falam inglês, mas entre os
jovens há mais gente que fale. Garçons e garçonetes recorrem muito a algum
aplicativo de conversão de texto. E, nos mercados os vendedores são muito
simpáticos e sorridentes, tentando se comunicar com o cliente.
Os estrangeiros são também uma minoria acachapante nos
pontos turísticos da cidade. Ao contrário da maioria das grandes cidades do
mundo, em Pequim esses locais estão lotados pela população do país. Gente de
todas as idades vem visitá-los. Muitos são do interior. Após a visita,
sentam-se em algum lugar, comem o lanche que trouxeram, e alguns tiram até uma
soneca. Com razão, sentem-se em casa.
O uso do celular é intenso e constante. Se a pessoa
estiver parada, é quase certo que estará vendo algo na telinha. Quase nada é
pago com dinheiro. Todos usam o aplicativo We Chat ou Alipay. O cliente abre o
QR code do aplicativo no seu celular, o qual é escaneado pelo vendedor e
pronto, o pagamento está feito. Nesse ponto, é mais simples do que o Pix.
Máquinas de venda de bilhetes e produtos também escaneiam o QR code do
comprador.
Há, especialmente entre as mulheres, um grande temor
dos raios solares. Muitas cobrem os braços, usam luvas e portam bonés de abas
enormes. Sombrinhas também são muito usadas para caminhar sob o sol, não só por
mulheres. E há quem faça uso de uma espécie de "niqab" cobrindo
nariz, boca e pescoço.
A China já é o maior parceiro comercial do Brasil, mas
os brasileiros ainda não a têm nos seus roteiros turísticos. Em tempos de
restrições crescentes à entrada nos Estados Unidos, a China deve ser uma forte
opção a ser considerada. Brasileiros estão isentos de visto e os preços das
coisas não são altos. E o país, a sua cultura e a sua gente são fascinantes.
Artigo publicado em 24 de julho de 2025 no Diário do Rio
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