quarta-feira, 24 de abril de 2013

O QG da PM-RJ na Rua Evaristo da Veiga ameaçado de demolição

QG da PM-RJ - foto Gabriel de Paiva - O Globo 

O atual Quartel General da Polícia Militar ocupa a quase totalidade do quarteirão da Rua Evaristo da Veiga entre a Avenida República do Paraguai e a Rua Senador Dantas. É uma edificação de três pavimentos com corpo central, onde se situa a entrada que dá acesso ao pátio interno, ligeiramente mais alto e saliente. Sua implantação contorna quase integralmente aquele pátio interno, interrompendo-se apenas junto à Capela da Arquiepiscopal Irmandade Imperial de Nossa Senhora das Dores.

As inúmeras janelas marcam o rigor da composição de influência neoclássica. As do pavimento térreo são emolduradas por cercaduras de pedra e têm vergas de arco pleno. As do segundo pavimento seguem o alinhamento das primeiras e têm vergas retas. Já as janelas do terceiro pavimento se encontram com alinhamentos variados, denotando a provável existência de acréscimo.

Originalmente as coberturas de cada um dos diversos tramos da edificação era em quatro águas com telhas cerâmicas do tipo francesas. Atualmente alguns desses tramos apresentam coberturas em fibro-cimento.

No pátio central do quartel, em situação elevada, se encontra a Capela da Irmandade Imperial de Nossa Senhora das Dores, uma pequena igreja neo-gótica.

A primeira ocupação do terreno foi o Hospício projetado em 1732 pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim, edificação que serviu aos frades franciscanos italianos "babônicos", que ficaram conhecidos como os Barbonos. A edificação atual sucedeu àquela original e lá se encontra desde o século XIX.



QG da PM-RJ - foto Gabriel de Paiva - O Globo

Capela da Irmandade Imperial de N. Sra. das Dores - foto Roberto Anderson


Capela da Irmandade Imperial de N. Sra. das Dores - foto Roberto Anderson


Antecedentes Históricos

Em 10 de maio de 1808 um alvará criou o cargo de Intendente de Polícia, cargo ocupado por Paulo Fernandes Viana. Em 13 de maio de 1809 foi criada a divisão militar da Guarda Real da Polícia. Esta guarda, porém, foi dissolvida em 1831. Meses depois foi criado o Corpo de Municipais Permanentes, encarregado do policiamento da cidade. Este corpo policial teve como major, Luis Alves de Lima, futuro Duque de Caxias. O Corpo de Municipais Permanentes foi para o Quartel de Granadeiros, construído no terreno onde existira o Hospício dos Capuchinhos. 


Esse sítio já fizera história ao tempo dos Capuchinhos quando, por volta de 1760, foram plantadas as primeiras mudas de café trazidas pelo Desembargador João Alberto Castelo Branco. Dali a cultura do café se irradiou pelo território do Rio de Janeiro, dando início a um novo ciclo econômico. A presença dos Barbonos na área é lembrada de diversas maneiras. A atual Rua Evaristo da Veiga, por exemplo, foi a Rua dos Barbonos até 1870.


Em 1808 o antigo Hospício foi ocupado pelos frades carmelitas, que haviam cedido seu convento na atual Rua Primeiro de Março a Dona Maria I. Em 1831 os carmelitas cederam o Hospício ao Corpo de Municipais Permanentes.


Em 1858, um decreto deu a essa força policial o nome de Corpo Policial da Corte. Com a eclosão da Guerra do Paraguai, os policiais participaram da luta como Batalhão 31 de Voluntários da Pátria. Em 12 de novembro de 1889, com a presença do Imperador D. Pedro II, em sua última solenidade pública como imperador do Brasil, foi lançada a pedra fundamental do Quartel do Corpo Militar da Polícia. A planta do edifício foi elaborada pelo General Capitulino Peregrino Pereira da Cunha. Mesmo após a edificação do atual quartel, persistiu por algum tempo, no interior do pátio, o antigo convento dos frades, usado como dormitório dos policiais.

Ao tempo dos capuchinhos  a pequena igreja no interior do quartel se chamava Igreja de Nossa Senhora da Soledade. Em 1861 ela foi reformada e consagrada a Nossa Senhora das Dores.



Imagem da Lapa tendo ao fundo o QG-PM


Formação de soldados no pátio do QG-PM


QG PM-RJ sem o acréscimo no 2º pavimento


A implosão pretendida pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro

O Governo do Estado do Rio de Janeiro, que deve zelar pelo Patrimônio Cultural do Estado, decidiu demolir o Quartel General da Polícia Militar, situado na Rua Evaristo da Veiga. As razões alegadas são a pretensa inadequação deste tipo de edificação às funções atuais da PM, que prescindiria de espaços para aquartelamento. Mas as ações do Governo indicam um interesse em obter recursos com a venda de ativos do Poder Público. A forte valorização dos terrenos nas proximidades da Cinelândia certamente levaria o Estado do Rio de Janeiro a auferir grandes lucros com a venda do imóvel. No entanto, sua implosão, como programada, causaria uma perda irreparável ao Patrimônio Cultural do Rio.

Se fosse correta a alegação de inadequação da edificação às atuais funções da PM, bastaria dar um novo destino ao prédio, valorizando toda a área no entorno. Mas é preciso lembrar que durante vários séculos o aquartelamento foi uma necessidade da função policial. Futuramente, a forma de organização da polícia poderá mudar novamente e se isto vier a ocorrer, já não existirá o seu quartel histórico.


QG PM-RJ tendo ao fundo os Arcos da Lapa - foto Evaristo da Veiga - O Globo


Prejuízos Urbanísticos com a demolição do Quartel General da PM

O Quartel General da PM-RJ está situado no limite do Corredor Cultural. Como jamais se cogitou que pudesse ser demolido, não foi incluído no perímetro dessa área de proteção. Mas mesmo assim ele é um elemento importante para essa área, já que compõe a ambiência da Rua Evaristo da Veiga, onde há imóveis preservados.


Por ser uma área livre de arranha-céus em pleno Centro do Rio, o quartel provê também espaço de visualização do céu e de circulação de ar, trazendo benefícios ambientais nada desprezíveis.


O terreno do Quartel General da Polícia Militar é vizinho ao largo onde se encontram os Arcos da Lapa. Há uma enorme co-visibilidade entre estes dois pontos. Qualquer nova edificação em altura que porventura venha a substituir o quartel impactará negativamente a ambiência dos Arcos da Lapa. 

A preservação do QG da PM-RJ abriria a possibilidade de conjugação de seu atual uso militar com uma série de outros usos de interesse dos cidadãos do Rio de Janeiro, como espaço para manifestações culturais, espaço para atividades recreativas, etc.


Manifestação contra a demolição do QG PM-RJ em 14.06.2012


Manifestação contra a demolição do QG PM-RJ em 14.06.2012 - foto Carlos Ivan - O Globo


Manifestação contra a demolição do QG PM-RJ em 14.06.2012


Manifestação contra a demolição do QG PM-RJ em 14.06.2012

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A História em minha rua

Na madrugada do dia 15 de novembro de 1976, ao chegar em casa na Rua Abade Ramos, no Jardim Botânico, reparei que havia dezenas de papéis jogados pelo chão. Por curiosidade, recolhi um deles. Era o manifesto deixado pela Aliança Anticomunista Brasileira após ter produzido um atentado a bomba no Jornal Opinião, vizinho ao prédio onde eu morava. Era um tempo difícil, em que jornais e opositores eram calados não só pela censura, mas também com a violência dos atentados. E a alegria de ser jovem, voltando de um encontro amoroso, parecia uma contradição.   


Manifesto da AAC em atentado a bomba contra o Jornal Opinião