sábado, 29 de junho de 2013

Mal estar brasileiro em junho de 2013

Manifestação na Av. Pres. Vargas em 20.06.2013 O Globo

Manifestação na Av. Rio Branco em 13.06.2013

Manifestação na Av. Rio Branco em 27.06.2013
Há tempos as redes sociais vêm mostrando o mal estar presente na sociedade brasileira com diversas situações que pareciam se perpetuar. O governo do PT só via diante de si os avanços materiais que, sem dúvida, propiciou aos mais pobres. Esquecendo-se, no entanto, que isto é um processo iniciado no governo Itamar e que passou pelo Plano Real, o governo acreditou que os desvios éticos e derrapagens na condução da economia não seriam capazes de causar maiores turbulências. Ainda mais quando se dispunha de uma paquidérmica aliança com partidos que variavam da esquerda populista à direita advinda da ditadura militar disposta a blindar o governo de críticas durante todos esses anos. Apesar dessa maioria parlamentar, nem uma reforma importante na questão tributária, na organização política, na moralização das relações entre políticos e empresas, etc. foi feita Ao invés disso, essa gigantesca aliança de apoio ao governo pariu a presidência do Senado nas mãos do Sarney e agora do Renan, a Comissão de Direitos Humanos nas mãos do Feliciano, e a liderança do maior partido do governo (PMDB) nas mãos de um político sabidamente acusado de corrupção.

No plano estadual as coisas não iam melhor. No Rio de Janeiro o governador Cabral, para atender interesses empresariais, sepultou o projeto original do Metrô e inventou um linhão que irá comprometer a eficácia do sistema por várias décadas. Além disso, investiu na venda de bens públicos e na demolição do Patrimônio, como no caso do antigo Museu do Índio, dos estádios de atletismo e natação do complexo do Maracanã, e dos quartéis históricos da PM, entre os quais o Quartel General da Rua Evaristo da Veiga. A promiscuidade com empresários gerou as cenas deprimentes de seus secretários bêbados confraternizando em Paris  com Cavendish, dono da empresa Delta, a qual foi acusada das mais diversas malversações do dinheiro público.

O governador e o Prefeito, que há tempos mantêm uma imensa maioria em suas casas legislativas que também impedem qualquer debate crítico sobre os problemas da cidade e do Estado. E motivos não faltaram, como os gastos exorbitantes para mais uma reforma do Maracanã e a licitação caixa-preta do sistema de ônibus da cidade, a opção por BRTs ao invés de sistemas com maior capacidade, as alterações casuísticas na legislação urbana, etc.

As mobilizações virtuais cresceram e na tentativa de expulsão da Aldeia Maracanã, por exemplo, foi possível perceber que havia um grande contingente de jovens dispostos a irem para as ruas. Quando finalmente as ruas se encheram de gente, manifestando com ou sem violência todo o seu desencanto com a situação de estagnação política e ética do país, quais foram as reações dos governos? A Presidente Dilma decidiu investir suas fichas num plebiscito que venha a  impulsionar uma reforma política. O problema é que o tempo conspira contra qualquer mudança via plebiscito que responda em tempo aceitável às demandas da população. Se o governo federal tem essa imensa maioria no Congresso, por que não a convoca para fazer a reforma política a tempo de valer para as próximas eleições? O que se vê é que a rainha está nua e sua base política não é confiável e não lhe serve para muita coisa. Muito menos ao país, já que ela vem cobrando um preço bastante alto em cargos e vantagens pelo apoio acrítico.

O que fez o governador? Falseia um grupo de pretensos manifestantes com o qual se reuniu, querendo  parecer democrático. Isto depois de mandar a sua polícia baixar o cacete nos manifestantes, numa fúria policial que lembrou os tempos da ditadura. E o que faz o Prefeito do Rio? Esconde-se e mantém como Presidente da Comissão de Transportes da Câmara Municipal o Sr. Sebastião Ferraz que declara que "Metrô não presta, o trem não presta, o transporte alternativo não presta, as barcas não prestam" e que por isso não haveria nada melhor do que os ônibus da cidade, que sabidamente prestam um péssimo serviço aos cariocas.

E o que faz a Câmara de Vereadores? Entra em recesso, como se nada estivesse acontecendo. E o que faz o Tribunal de Contas do Município? Arquiva um processo exatamente contra as empresas de ônibus por formação de cartel. E o que fazem Une, Ubes, MST que sempre foram dóceis ao governo? Acreditam que podem representar as ruas e se reúnem com a presidente.  

Tudo isso leva a acreditar que mesmo que as ruas se esvaziem temporariamente, em função do cansaço dos manifestantes, tão cedo os motivos que levaram a esse memorável junho de 2013 não cessarão de existir, sem solução visível no horizonte. É provável que haja um aprendizado, no sentido de que as manifestações se deem em cima de questões e casos específicos, como a mobilização ocorrida para a instalação da CPI dos ônibus na Câmara Municipal do Rio. Daqui para a frente, ao surgir a necessidade, logo se verá um grupo se fazendo presente. Como muitos cartazes vistos nesses dias afirmam, o povo acordou, saiu do Facebook, e tomou gosto pela coisa. Novas turbulências ainda deverão vir. Inevitavelmente.

Polícia Militar à frente da Alerj em 27.06.2013
Manifestação na Av. Pres. Vargas em 20.06.2013
Manifestação na Av. Pres. Vargas em 20.06.2013