sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A plataforma abandonada do Metro do Rio

Sabino Barroso, um dos autores do projeto da Estação Carioca do Metro do Rio, na plataforma abandonada naquela estação.



Esquema da Estação Carioca da Linha 1 do Metro do Rio



A Estação Carioca do Metrô do Rio tem uma plataforma abandonada abaixo da plataforma atualmente utilizada pela Linha 1. Ela está à espera da conclusão da Linha 2 de acordo com o projeto original. Este previa o prosseguimento do metrô pela Cruz Vermelha e Avenida Chile, até alcançar a Praça XV, o que seria de enorme valia para quem utiliza o sistema das barcas. No entanto, a concessionária do Metro do Rio, em troca da ampliação da sua concessão, jogou este projeto no lixo e fez a improvisada ligação da linha 1 com a linha 2. O absurdo desta situação, e também da alteração proposta para a Linha 4 (metrô para a Barra), é que quem planeja os transportes na cidade é a concessionária e não mais o poder público.


Chafariz da Estação Carioca

Foto Marcos Vinicius Cintra


A concessionária do metro do Rio está demolindo o chafariz existente no interior da Estação Carioca. Ele não vem sendo usado e o andar em que se encontra tem amplas áreas alugadas a uma faculdade privada. No entanto, a retirada do chafariz é mais um sintoma de que o projeto original da Linha 2 está cada vez mais distante, tendo sido descartado pelo absurdo arranjo de se jogar a linha 2 dentro da linha 1.

Quando projetaram as primeiras estações da Linha 1, entre as quais a da Carioca, os arquitetos Sabino Barroso, Jayme Zettel e José Leal o fizeram pensando no futuro entroncamento das linhas 1 e 2. A Estação da Carioca é a maior estação do metrô construída no Rio. Abaixo da parte visível, há uma plataforma inacabada a espera da ligação com a linha 2, que viria pela Cruz Vermelha e Avenida Chile, chegando até à Praça XV. A plataforma está lá, mas invisível para os passageiros que circulam na estação e que não percebem o desperdício do dinheiro público.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Prefeitura loteando praças

Praça Maurício Cardoso com tapumes - foto Aldo Santos Alves

Praça Maurício Cardoso em Olaria


A Prefeitura do Rio definiu um padrão perverso de tratamento das praças cariocas: ocupá-las ao máximo com equipamentos, como UPAs, UPPs, Clínicas de Família ou arenas culturais, economizando na compra de terrenos. Nem praças tombadas têm escapado deste processo. O Parque Ari Barroso na Penha e o antigo Jardim Zoológico em Vila Isabel, tombados pelo Estado do Rio, também estão sendo colonizados por diversos equipamentos. Mas praças não são reservas de terras e sim elementos vitais para a vida das cidades.
Agora, isto ficou absolutamente claro com o decreto municipal n. 34.311 de 18 de agosto deste ano, que alterou o uso de cinco praças nas Zonas Norte e Oeste. Por este decreto, as praças dos Lavradores, em Madureira; Soldado Francisco Vitoriano, em Campo Grande; Honoré de Balzac, em Senador Camará; Santa Bárbara, em Rocha Miranda; e Marechal Maurício Cardoso, em Olaria poderão receber Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Isto contraria a Lei Orgânica do Município, que em seu artigo 235 prevê: "As áreas verdes, praças, parques, jardins e unidades de conservação são patrimônio público inalienável, sendo proibida sua concessão ou cessão, bem como qualquer atividade ou empreendimento público ou privado que danifique ou altere suas características originais.”
Algumas moradores afetados não estão dispostos a verem suas praças serem destruídas dessa forma. Este é o caso da Praça Marechal Maurício Cardoso (em frente ao supermercado Extra, logo depois do Clube do Olaria). Lá, eles já se reuniram várias vezes e estão se mobilizando para mostrar ao Prefeito o quanto estão insatisfeitos com a destruição de sua praça. Unidades de saúde pública sim, mas não às custas do fim das praças!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Turismo na Turquia, algo muito sério

A Turquia é um pais surpreeendente. Poucos brasileiros a visitam, o que é uma pena. Ademais, eles demonstram gostar de brasileiros. Situado na fronteira entre a Europa e o Oriente, o solo turco foi palco da fricçao entre os diversos povos e culturas que por ali passaram. Os gregos, com Alexandre o Grande o dominaram, contruindo cidades que hoje sao ruinas riquissimas. Também os romanos, os mongois e os cruzados ali dominaram por longos periodos, deixando marcas na cutura do povo turco. O império otomano, pela primeira vez, impos a cultura da Turquia a outros territorios vizinhos. Por fim, a aventura da aliança com a Alemanha na primeira guerra trouxe a ocupaçao por potencias ocidentais, so resolvida com a criaçao da Republica por Attaturk, que quer dizer o pai dos turcos.
Assim, a herança cultural da Turquia inclui ruinas greco-romanas, igrejas e casas dos primeiros cristaos, igrejas bizantinas, mesquitas deslumbrantes, munumentos da Republica , além de escavaçoes arqueologicas de periodos anteriores aos gregos. Para lidar com esta riqueza, e mostra-la aos visitantes, um guia de turismo deve estudar quatro anos na universidade. Somente apos estudos sobre esta vasta herança cultural, os guias recebem uma licença nacional, sem a qual nao podem trabalhar.
Cada localidade apresenta diferentes possibilidades de exploraçao pelo turista e os roteiros disponiveis sao bastante claros e bem estruturados. Em qualquer localidade que se chegue, um guia podera lhe oferecer pacotes de um ou mais dias, que se revelam muito uteis, pois sem eles a descoberta de certas atraçoes seria bem mais dificil.
A segurança também é um fator importante, pois nao ha aparentes ameaças a turistas e nem à populaçao em geral, que anda livremente pelas ruas até altas horas da noite.
Todo este esforço é muito bem recompensado por levas de turistas de diferentes paises que chegam à Turquia. Chama a atençao a presença dos japoneses e, crescentemente, de chineses.
Este profissionalismo no trato do turismo é algo que o Brasil precisa urgentemente aprender. Mas por enquanto, o nosso Ministério do Turismo é apenas mais um ativo nas maos da familia Sarney.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Transportes em Istambul

VLT em Istambul

Chama a atençao a varıedade de possıbılıdades de meıos de transportes dısponıveıs para os moradores de Istambul. Cıdade à beıra do Bosforo, com ladeıras e areas planas, Istambul usa com efıcıencıa o que a tecnologıa de transportes oferece. Na cıdade antıga pode-se usar um excelente VLT ou o funıcular (plano ınclınado) que conecta nıveıs dıstıntos do tecıdo urbano. Ha aında o moderno metro e o BRT. Conectando as partes da cıdade separadas pelas aguas, ha um sıstema de barcas bastante concorrıdo. A liçao, enfım, é que para problemas complexos, como o transporte urbano, a dıversıdade de opçoes é a melhor soluçao.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Gal fatal

Gal Costa



Meninos, eu vi.

A Gal era magra, cabelos enormes. No palco do Teresa Raquel, vinha com uma saia, tipo cigana, de cintura baixa. Sentava num banco próximo ao chão, abria as pernas e a saia se ajustava perfeitamente, deixando entrever os contornos da baiana. O violão era encaixado ali naquele vão. Ela deixava os cabelos cairem um pouco sobre o rosto e mandava: Ah sim, eu estou tão cansada... A platéia era enfumaçada e, enquanto ela cantava, o ruidoso silêncio que se estabelecia era entrecortado por interjeições de admiração. A Gal era fatal!



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Loteando parques municipais

Parque Ari Barroso na Penha (simulação)



Parque Recanto do Trovador em Vila Isabel (simulação)



Há uma clara tendência da atual administração municipal de economizar em terrenos, avançando sobre praças públicas para a construção de equipamentos. Assim foi, por exemplo, com a construção de um horrendo prédio da Guarda Municipal na Praça Procópio Ferreira, em frente à Central do Brasil. No entanto, esta tendência se torna ainda mais problemática quando se trata da ocupação de parques tombados.

No Parque Ari Barroso, situado na Penha e tombado pelo Estado do Rio de Janeiro, às vésperas da última eleição municipal foi implantada uma UPA 24h. A seguir, no mesmo parque, foi instalada uma UPP. Esta sequer contou com pedido de licença. Foi no estilo Capitão Nascimento, na marra. Agora, a Prefeitura quer instalar ali uma construção de três andares, a Arena Cultural que, mesmo sem licença, já teve a obra iniciada. Além da Arena, projeta-se, também, uma Clínica da Família no parque.

Já no parque Recanto do Trovador, em Vila Isabel e também tombado pelo Estado do Rio de Janeiro, estão construindo uma Nave do Conhecimento e um espaço para a Comlurb. A obra, aqui também, teve início sem pedido de licença ao órgão de tombamento. No entanto, estranhamente, acaba de ser aprovada neste órgão, mesmo alterando radicalmente a área.

É bastante absurdo que se loteie parques dessa maneira, ainda mais na Zona Norte, onde há uma enorme carência de áreas verdes.





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cidade Heterogênea

Simulação do Espigão da Eletrobras na Lapa



No Rio de Janeiro, a breve tentativa de uma cidade beaux-arts tropical, que não chegou a abranger o todo da cidade carioca de então, foi substituída por algo heterogêneo e fragmentário que temos hoje. Esta ação, como a de construção da cidade anterior, não foi fruto de uma decisão geral, mas de ações de indivíduos e do poder público, buscando ganhos mais imediatos e uma imagem de modernidade que parecia lhes convir mais. Aliás, sobre o fetiche da modernidade, vale a pena ver as palavras do secretário geral do Ministério do Turismo, preso recentemente em operação de Polícia Federal. Ao orientar a fraude no ministério sugeriu: “o importante é a fachada ser uma coisa moderna que inspira confiança...”.


Um grande problema no Rio de janeiro é o fato do Poder Público parecer continuar como agente da destruição de paisagens que são caras aos habitantes. É o caso da proposta do espigão da Eletrobras em pleno eixo de visada dos Arcos da Lapa, monumento maior da nossa carioquice. Ou quando um projeto, como o Porto Maravilha, deixa de ser pensado a partir das qualidades endógenas do lugar, e sim como um modelo a “la Dubai”, a ser imposto por sobre a destruição de exemplares bastante interessantes de armazéns. Como nossas autoridades gostam de exemplos externos, valeria à pena uma visita ao “Meatpacking District” em Nova Iorque, para se ver que é possível um melhor aproveitamento das características industriais da nossa Área Portuária. Outra péssima iniciativa é atual tendência de se ocupar praças públicas com equipamentos de saúde, da guarda municipal, da polícia e, até mesmo, da cultura.


Olhar para o passado nos ajuda a compreender erros e acertos. Preservar partes importantes desse passado, reciclando-os no presente, é importantíssimo. Construir o presente com criatividade e ousadia é bem mais ainda. Então vivamos nossa cidade heterogênea da atualidade, mas com qualidade urbanística e arquitetônica, por favor!




quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BRT no Transcarioca?

Traçado do BRT Transcarioca


Com a Copa do Mundo, que ocorrerá em diversas cidades do Brasil, a precariedade do transporte público de nossas cidades ficou mais evidente. A busca por baixos custos e o lobby dos empresários do setor de transportes motorizados vem levando à adoção do BRT (Bus Rapid Transit) como solução padrão nessas cidades. Há previsão de implantação de BRT em nove das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014, com investimentos do governo federal para obras, e da iniciativa privada para compra dos ônibus articulados. Poderão ser 20 novos sistemas de BRTs. No Rio de Janeiro, além da Copa, as Olimpíadas de 2016 também pressionam para que sejam adotadas soluções para o transporte público.


O problema é que a solução escolhida nem sempre atende às reais necessidades dessas cidades e a suas demandas de longo prazo por transporte público de qualidade. O BRT é uma evolução da reserva de faixa de rolamento já praticada nos EUA nos anos 1950. Lá, isto perdurou por aproximadamente uma década, sendo abolido depois. Na década de 1970, a cidade de Curitiba implantou uma forma mais evoluída deste sistema, com vias segregadas, paradas em forma de estações e compra de bilhetes antes do embarque, o que se tornou um paradigma como solução mais barata do que a construção de trens e metros. Atualmente, o BRT de Curitiba tem uma capacidade em torno de 16 a 20 mil passageiros/hora/sentido. Ao atingir uma capacidade ainda maior, em torno de 35 mil passageiros/hora/sentido (na prática, em torno de 41 mil, por haver muitos passageiros viajando em pé), o Transmilênio, em Bogotá, tornou-se uma nova referência desta modalidade.


No entanto, este patamar do Transmilênio não é facilmente alcançável. Ele conta com faixas duplas em áreas de ultrapassagens e prioridade de travessia em cruzamentos. Alguns corredores de transporte no Brasil necessitam de soluções que atendam a demandas bem maiores. Este parece ser o caso do corredor T5, atual Transcarioca. Ele ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Tom Jobim, numa extensão de 39 km e com previsão de custo de R$ 1,3 bilhão. Além disso, haverá o custo das desapropriações. A Prefeitura do Rio divulga que este BRT deverá servir a 400 mil passageiros/dia. No entanto, há avaliações independentes que consideram ser muito maior o potencial de passageiros neste trajeto, o que significaria que o novo BRT poderia já surgir ultrapassado em sua capacidade de servir à cidade. Da mesma forma, o corredor da Avenida Brasil, também com previsão de implantação de um BRT, teria uma demanda em torno de 600 mil passageiros/dia, que não pode ser suprida por este tipo de sistema de transporte. Assim, é preciso mais atenção a esses dados e maior transparência para que os vultosos investimentos não sejam em vão.




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Porto Olímpico e o Projeto Aplauso

Projeto vencedor para o Porto Olímpico

Galpão do Projeto Aplauso


O Galpão do Projeto Aplauso, situado na Rua General Mendes de Moraes, na Área Portuária, é um dos mais interessantes galpões da cidade. Originalmente, era da CSN e foi construído em estrutura metálica importada (inglesa?), que se encontra muito bem conservada. Os vãos são generosos e, acima destes, há pontes deslizantes. A sua estrutura lembra aquela do palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


A área em que se encontra faz parte do projeto Porto Olímpico, que abrigará a vila da mídia e a vila dos árbitros. No entanto, no recente concurso de projetos para o Porto Olímpico, organizado pelo IAB-RJ, o galpão do projeto Aplauso simplesmente foi desconsiderado pelos vários projetos premiados. O projeto vencedor, de João Paulo Backhauser, propõe torres no seu lugar. Aliás, uma marca dos projetos selecionados foi não considerar a arquitetura existente. Apenas o projeto colocado em segundo lugar, de Roberto Aflalo Filho, propôs a manutenção de um galpão, o da antiga estação da Praia Formosa, vizinho ao do projeto Aplauso.


Além do interesse arquitetônico do galpão do Projeto Aplauso, é importante ressaltar o projeto social que lá é desenvolvido. Os alunos, provenientes de famílias economicamente carentes, têm aulas de metalurgia, português, circo, dança, etc. Vários saem de lá para trabalhar em estaleiros, outros se interessam pela vida artística, mas o mais importante é a visão humanista e globalizante da formação que recebem. O projeto merece o aplauso da cidade e a sua manutenção. Destruí-lo seria um enorme equívoco, um crime contra a memória industrial do Porto e do Rio e um crime contra o futuro desses jovens.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Projeto Aplauso - um belo projeto ameaçado



Galpão do Projeto Aplauso na Área Portuária do rio de Janeiro


O galpão do projeto Aplauso encontra-se ameaçado de demolição pelo projeto Porto Maravilha. Lá há aulas de dança, teatro, circo, soldagem, costura, construção civil, etc., etc. Tudo para jovens economicamente carentes. Sem falar que a arquitetura do galpão é fantástica. Mas, por enquanto, o galpão não é considerado nos projetos para a área. Os projetos vencedores do concurso do IAB sequer mencionam a sua existência.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Prosseguem as escavações na Barão de Tefé

Escavações do Cais da Imperatriz e do Cais do Valongo - foto Roberto A Magalhães


A obra de construção da nova galeria de águas pluviais da Área Portuária, que é parte do projeto Porto Maravilha, ao encontrar os vestígios do Cais da Imperatriz na atual Avenida Barão de Tefé, produziu uma situação à qual estamos pouco acostumados no Brasil: a necessidade de se decidir pela continuidade da obra ou pela revisão do seu traçado em função de descobertas arqueológicas. Infelizmente, muito pouco ou quase nem se considerou esta segunda hipótese.

O Cais da Imperatriz seguiu o projeto de Grandjean de Montigny, para preparar a área para a vinda da esposa de D. Pedro II, D. Teresa Cristina, em 1843. Ele foi construído sobre a área do antigo Cais do Valongo, por onde chegavam escravos que eram vendidos no mercado de escravos do Valongo, uma chaga na história de nosso país. Deste último cais não se conhecia ao certo a configuração. Já o Cais da Imperatriz foi projetado com largo calçado por paralelepípedos, cais rampado, e esculturas de divindades greco-romanas, as quais hoje se encontram nos jardins do Palácio da Cidade, em Botafogo.

Parte do cais foi desmontado para que a obra da nova galeria tivesse curso. Curiosamente, neste mesmo ponto encontrou-se uma galeria bem menor, construída em 1870 por Edward Gotto, que teve o cuidado de repor as pedras que haviam sido deslocadas para sua implantação. Esta antiga galeria também foi desmontada. No momento, prosseguem as escavações para desvendar o que restou do Cais da Imperatriz e do cais do valongo. O problema é que para se chegar a este segundo, o primeiro está sendo ainda mais desmontado. Uma pergunta, então, se impõe: haveria o risco de uma visão ideologizada desse processo sobrepor um cais em detrimento do outro?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Seminário sobre o Porto Maravilha no IHGB - maio 2011

Foto: Priscilla Xavier

(a partir de texto inicial de Silvia Knoller)

Nos dias 16 e 17 de maio, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro -IHGB, foi realizado o Seminário “Porto Maravilha – Desafios e Problemas”. Organizado por Roberto Anderson Magalhães, Nina Rabha, Rachel Coutinho, Cecíia Herzog e Luiz Fernando Janot, com a chancela do IHGB e do Prourb-UFRJ, o Seminário foi pensado como um espaço de discussão do projeto de revitalização da Zona Portuária, já que o mesmo não vem sendo suficientemente debatido, apesar de envolver vultosos recursos e reunir os governos Federal, Estadual e Municipal.

Na abertura do evento, o presidente do IHGB Arno Wehling destacou a realização do Seminário do Porto Maravilha como prosseguimento da intenção da instituição de aprofundar temas de relevância para a sociedade. Na parte da manhã, o economista Carlos Lessa destacou a questão da mobilidade. Segundo ele, reocupar a Área Central como lugar de trabalho e moradia reduziria o problema da mobilidade na cidade.

À tarde, sob a moderação de Marcus Monteiro, pesquisador, membro do IHGB e ex-Diretor Geral do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), sentaram-se à mesa o Vice-Prefeito Carlos Alberto Muniz, Marcos Poggi, especialista em Economia Rodoviária, José Conde Caldas, arquiteto e presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário – ADEMI e Luiz Fernando Janot, arquiteto, urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do RIO de Janeiro (FAU-UFRJ).

José Conde Caldas destacou o fato de o Prefeito ter adotado um projeto desenvolvido por um grupo de empresários e fez breve relato sobre a expectativa positiva do mercado imobiliário com o projeto, que oferece uma expectativa de 4 milhões de metros quadrados de construção.

Em seguida, Marcos Poggi desaprovou o caráter “rodoviarista” do projeto, em detrimento do transporte coletivo, o que poderia ser resolvido se o VLT (veículo leve sobre trilhos) não tivesse trajeto tão modesto, pois circularia somente na parte interna da região. Centrou, entretanto, suas críticas à demolição da Perimetral. Com a demolição da Perimetral o trânsito seria transferido para um “mergulhão”, um caminho subterrâneo, e a Avenida Rodrigues Alves se tornaria uma via expressa. Poggi fez questão de lembrar que o Porto ainda é operacional, necessitando de local de desembarque de mercadorias, principalmente da indústria automobilística, com suas enormes carretas. Segundo ele, ao tornar a Rodrigues Alves uma via expressa, o desembarque seria transferido para o Caju, ocasionando problemas nessa operação.

Luiz Fernando Janot chamou a atenção para a enorme dimensão da área de intervenção, superior ao dobro da atual área financeira do Centro do Rio. Considerou que o processo de ocupação deveria ser mais gradual. Ele criticou a falta de um conceito que estruturasse o programa e a inexistência de projeto com estudos detalhados: “O Porto Maravilha nada mais do que um folder, não tem projeto”. Segundo o arquiteto, o projeto é uma “caixa preta” já que as informações realmente relevantes não estão disponíveis ao público. Janot criticou, ainda, a derrubada do elevado da Perimetral e sua substituição por um túnel sujeito à poluição.

O Vice-Prefeito falou sobre a captação antecipada de recursos através de emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção, os CEPACs, para financiar as obras de revitalização urbana do Porto Maravilha. Explicou que os CEPACs são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e seriam colocados no mercado para serem leiloados aos interessados no potencial construtivo da região. Os CEPACs seriam vendidos em lote único e indivisível. Falou, ainda, da participação da Caixa Econômica, através do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, como investidora no Projeto.

Questionado por um grupo de moradores da região sobre as ameaças de remoções, o Vice-Prefeito se colocou à disposição para recebê-los, caso fosse procurado.
O segundo dia do Seminário foi dividido em duas partes. Na parte da manhã, para expor temas ligados às expectativas suscitadas pelo projeto, a organização convidou o Secretário de Habitação Jorge Bittar, Maurício Hora, fotógrafo com atuação comunitária no Morro da Providência, Carlos Machado, líder comunitário e presidente do Bloco Filhos de Gandhi, e a Vereadora Sonia Rabello. O moderador da mesa foi Roberto Anderson Magalhães.

Maurício Hora afirmou que “Na visão dos moradores do Morro da Providência o projeto é uma incógnita. Marcaram as casas, mas ninguém sabe o que irá acontecer.” Maurício lembrou que o Morro da Providência foi a primeira favela do Rio de Janeiro, formada há 114 anos por ex-soldados, remanescentes da Guerra dos Canudos. E agora, revelou ele, “paira uma tensão da remoção”.
Antonio Carlos Machado frisou que a especulação imobiliária já está assolando a área e abordou a falta de transparência na condução das questões relativas aos moradores, muitos remanescentes do trabalho portuário:

“Mais de 1.700 famílias estão ameaçadas de serem postas para fora de suas residências. Na Pedra Lisa, seriam 600 moradores de 200 ou 300 imóveis a serem removidos, por conta da retenção de encostas. Muitos irão para Senador Camará e eles não querem. Queremos o Porto Maravilha, sim, queremos sua revitalização, queremos turismo na área. Mas o queremos maravilhoso para os que lá hoje moram.”

Para a vereadora Sonia Rabello “o Porto Maravilha não é um projeto urbanístico, mas sim um projeto econômico e financeiro”, pautado na venda de Potencial Construtivo. A Lei Complementar nº 101 de 2009 aumentou o gabarito da área, permitindo prédios de até 50 andares. Isto, segundo ela, “é um risco absoluto e potencial para a cidade”, com ocupação em área histórica, arqueológica e simbólica do Rio de Janeiro. A Vereadora alertou, ainda, que estaria havendo uma mistura indevida de preceitos legais da Operação Consorciada, relativa a uma área urbana determinada, com os da Outorga Onerosa, relacionada a lotes.

Outro grave problema apontado pela vereadora está nos chamados CEPACs. Com valor inicial de 3 bilhões de reais, eles serão vendidos em lote único e indivisível. Com um único comprador, alerta ela, haverá um monopólio da posse e comercialização desses certificados. Sonia mostrou-se, ainda, preocupada com ameaças de remoções de moradores da área que ocupam terrenos privados na área, e que têm recebido a visita de pessoas se dizendo funcionários da Prefeitura.

O Secretário Municipal de Habitação, Jorge Bittar, afirmou que “o projeto Porto Maravilha acontece em um ambiente político agregador das três esferas, após décadas de decadência econômico-social do nosso Estado por vários motivos”. O Secretário garantiu que não há nenhum processo de gentrificação e que a população mais pobre da Área Portuária conviveria no futuro com os novos habitantes dos espaços que serão revitalizados. “Ninguém será removido compulsoriamente. É a garantia que eu dou.”

Rebateu ainda as acusações de que o Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV estaria sendo usado indevidamente, já que, para ele, não haveria a exigência de regulamentação pela Câmara, pois ele seria autoaplicável, como também, atenderia ao previsto no Estatuto da Cidade.

Na parte da tarde, foram duas mesas. A primeira tratou dos “Modelos e Ideais do Projeto Porto Maravilha”, tendo como moderadora a arquiteta, urbanista e coordenadora do PROURB-UFRJ, Rachel Coutinho, com exposição de Jorge Arraes, Presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), Sérgio Magalhães, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, seção Rio de Janeiro e de Nina Rahba, arquiteta e ex-administradora regional da Área Portuária.

Para Rachel Coutinho o programa urbano para o Porto ainda não chegou ao fim, precisando de mais esclarecimentos. Ela lembrou o retumbante fracasso comercial e urbano da revitalização do Porto de Londres (London Docklands), risco que correria o projeto do Rio, sem o correto planejamento.

Sérgio Magalhães fez uma análise do processo de enfraquecimento do Centro da Cidade do Rio de Janeiro, “o lugar mais representativo dos vários setores que constituem a vida social, de maior acessibilidade e de infraestrutura. Mostrou como ao longo de várias décadas o Rio foi sendo desconstruído: primeiro, com a transferência da capital do país para Brasília, depois perdendo a centralidade das indústrias e depois do setor financeiro. O golpe mortal no enfraquecimento do Centro da cidade, aí incluindo a Região Portuária, foi quando Lúcio Costa transferiu a centralidade para a Barra da Tijuca. “Saúdo o Projeto Porto Maravilha como instrumento de reversão do quadro de decadência. Do ponto de vista estratégico é essencial para nosso futuro”.

Jorge Arraes enfatizou o ineditismo do projeto que abrange, segundo ele, infraestrutura, cultura e entretenimento, comércio e serviços, e habitação. Com referência à parte viária, falou sobre a construção de 4km de túneis, cujas obras terminarão em 2015, sendo que de 2012 a 2015 está prevista a demolição da Perimetral.

Ele garantiu que 3% da venda de CEPACs serão revertidos para o patrimônio histórico-cultural, ou seja, 100 milhões de reais. O primeiro leilão dos CEPACs está previsto para o início de junho. Após este, haveria outros leilões. Jorge Arraes informou que o Estatuto das Cidades e as instruções 400 e 401 da CVM autorizam a negociação das CEPACs por meio de leilão público ou por pagamento de obras públicas e que, no caso do Rio, a opção de venda foi por lote único. Informou ainda que o FGTS, provável comprador, estudou a operação e os riscos e a aprovou.

Nina Rahba, que participou dos primeiros estudos que levaram ao Projeto Porto Maravilha, falou sobre a necessidade de se considerar a questão da escala do projeto. Atualmente, este tem sido pensado apenas em grande escala, o que desconsidera as características locais. Segundo a arquiteta é necessário valorizar a pequena escala como forma de se evitar grandes equívocos.

Na quarta e última mesa, sobre “Os impactos e as conseqüências”, com moderação de Cecília Herzog, paisagista urbana e presidente da ONG Inverde, falaram Paulo Vidal Leite Ribeiro, Coordenador de Conservação e Projetos Especiais da Subsecretaria do Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design, Cristóvão Duarte, arquiteto, urbanista e professor do PROURB/UFRJ e Rachel Coutinho.

Paulo Vidal afirmou que pretende discutir com a sociedade a preservação do Patrimônio, logo após a venda dos CEPACs. E disse que “desde que existam projetos”, galpões da Gamboa poderão ser aproveitados. Falou, ainda, sobre o Projeto SAGAS, criado em 1988 e da APAC (Área de Proteção do Ambiente Cultural), da Gamboa, Saúde e Santo Cristo, de 1992. Segundo o arquiteto, a Prefeitura tem um levantamento de bens de interesse para preservação, ou seja, que ainda não foram preservados, mas que poderiam ser. Segundo o mesmo, sem a efetivação desta preservação, por parte da Prefeitura, somente o interesse das empresas em preservá-los garantiria sua integridade.

Rachel Coutinho, que falou no lugar da arquiteta e professora da PUC Maria Fernanda Lemos, que não pôde comparecer, destacou a questão da resiliência urbana, que é a capacidade de uma área sofrer impactos e voltar a seu estado inicial, recuperando-se. A arquiteta salientou que a perspectiva de mudanças climáticas exigiria que projetos como esse fossem adaptados a tal questão, ainda mais por se tratar de zona costeira e, portanto, em área vulnerável à elevação das águas do mar. Sua exposição se deu, ainda, em torno do transporte sob rodas, individual, já que o projeto dá pouca ênfase ao transporte coletivo. “É necessário – diz ela – diminuir o uso do automóvel.

Cristóvão Duarte criticou a projetada demolição do elevado da Perimetral, que poderia vir a ter outro uso como, por exemplo, transformar-se em leito para um veículo sobre trilhos, projeto sugerido por alunos da UFRJ. Cristóvão criticou, também, o fato de que empresários sejam responsáveis pelo planejamento da cidade, como no caso do projeto para o Porto. Ele afirmou ser necessário defender os interesses coletivos em detrimento dos interesses individuais. Analisando o vídeo de divulgação do projeto, o arquiteto chamou a atenção para os excessivos recursos de marketing e para a ausência de informações verdadeiramente técnicas e de acordo com o interesse dos habitantes da cidade.

No encerramento os participantes demonstraram a importância do Seminário e o interesse em dar prosseguimento ao debate.

domingo, 1 de maio de 2011

Seminário Porto Maravilha no IHGB: 16 e 17 de maio 2011

Seminário Porto Maravilha
Desafios e Problemas
no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB

Realização IHGB/Prourb-UFRJ
16 e 17 de maio, segunda e terça-feira, com responsáveis pelo projeto na Prefeitura do Rio de Janeiro, representantes da sociedade civil e pesquisadores.

1º Dia: 16 de maio de 2011
9:30h – Palestra de Abertura do Seminário: Carlos Lessa, economista e escritor
Apresentação por Arno Wehling, historiador e presidente do IHGB

14:00h - 1º mesa – O projeto Porto Maravilha e a Cidade do Rio de Janeiro
Moderador: Marcus Monteiro, pesquisador, membro do IHGB e ex-Diretor Geral do Inepac
Expositores:
- Carlos Alberto Muniz – Vice-Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro - Marcos Poggi – especialista em Economia Rodoviária - José Conde Caldas, arquiteto e presidente da Ademi - Luiz Fernando Janot, arquiteto e urbanista, professor da FAU-UFRJ

2º Dia: 17 de maio de 2011

9:30h - 2º mesa - As expectativas suscitadas com o projeto Porto Maravilha
Moderador: Roberto Anderson Magalhães, arquiteto e urbanista
Expositores:
- Carlos Machado – presidente do bloco Filhos de Ghandi e líder comunitário local
- Maurício Hora – artista e líder comunitário do Morro da Providência
- Jorge Bittar - Secretário Municipal de Habitação - Sonia Rabello, professora de Direito e Vereadora

14:00h - 3º mesa – Modelos e ideais do projeto Porto Maravilha
Moderador: Rachel Coutinho – arquiteta e urbanista, coordenadora do PROURB/UFRJ
Expositores:
- Jorge Arraes – Presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro – Cdurp
- Sérgio Magalhães – arquiteto e urbanista, presidente do IAB-RJ
- Nina Rabha – arquiteta e urbanista, estudiosa da questão da recuperação da Área Portuária

16:00h - 4ª mesa – Os impactos e as conseqüências
Moderador: Cecília Herzog – paisagista urbana e presidente da ONG Inverde
Debatedores:
- Paulo Vidal Leite Ribeiro – Coordenador de Conservação e Projetos Especiais da Subsecretaria do Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design - Cristóvão Duarte – arquiteto e urbanista, professor do Prourb - Maria Fernanda Lemos, arquiteta e urbanista, professora da PUC-RJ

Inscrições e informações:
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB
Av. Augusto Severo, 8 – 12º andar – Glória
20021-040 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 3852-0995 / 8457-9560
presidencia@ihgb.org.br

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Lá se vai o Patrimônio: Brahma x cidade

Prédios da Brahma no Catumbi


O que diria o arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos, se estivesse vivo, ao ver a programada demolição dos prédios da antiga Fábrica Brahma no Catumbi? Ele que estudou as agressões dos projetos rodoviaristas ao Catumbi concordaria com esse apagar da memória industrial do bairro e da cidade? Atualmente a Brahna tem em seu terreno no Catumbi dois prédios. Um deles tem sido usado como anexo do chamado camarote da Brahma, durante o carnaval. No entanto, para ampliar o Sambódromo a Prefeitura negociou uma parceria com a Brahma: concede a licença de demolição dos dois prédios, os quais eram protegidos pelo tombamento do Sambódromo agora anulado, concede licença de construção de torres projetadas por Niemeyer e, em troca, a Brahma executa a ampliação do Sambódromo. Tudo seria normal, não fosse a perda do Patrimônio. Só o lucro fácil e o desamor para com a cidade podem responder a tais absurdos.

domingo, 20 de março de 2011

Galeria de águas pluviais e o Cais da Imperatriz

pedras acumuladas no canteiro de obras


trecho do antigo Cais da Imperatriz desfeito para a passagem da nova galeria de águas pluviais


Segundo a arqueóloga Tania Lima, o Cais da Imperatriz, no ponto em que foi desmontado para a passagem da nova galeria de águas pluviais, já havia sido mexido na ocasião da implantação da drenagem de Edward Gotto, em 1870. Mas, muito importante, teria havido, então, o cuidado de repor tudo no lugar, reconstituindo o Cais da Imperatriz naquele ponto. De uma certa forma a arqueóloga dá a entender que o desmonte atual daquele trecho do cais não seria tão importante em função de já ter havido esse fato naquela ocasião. Acho esta opinião problemática. Uma drenagem de 1870 já é história. E ainda mais que naquela ocasião tiveram o cuidado de não danificar o cais. A verdade é que hoje o Cais da Imperatriz foi cortado sim. É possível que não houvesse outra alternativa para a apassagem da nova galeria de águas pluviais mas, de qualquer forma, esse debate necessitaria ter sido mais ampliado. E não foi. Os canos em ferro vindos da Inglaterra teriam sido recolhidos, assim como as pedras.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Encontro com Raquel Rolnik no IAB-RJ




No dia 17 de março de 2011 aconteceu no IAB-RJ um Encontro com Raquel Rolnik para discutir o projeto Porto Maravilha. Em sua fala, a arquiteta e relatora da ONU para questões de moradia adequada explicou que num momento anterior à posse do atual prefeito, o governo federal se envolveu com o projeto do Porto do Rio, buscando a melhor forma de participar do mesmo. Como era proprietário de grande parte dos terrenos, o governo federal propunha, então, uma administração do projeto conjunta com a Prefeitura do Rio, através da constituição de uma empresa pública compartilhada. A intenção do governo federal, então, era a de destinar uma parte significativa dos terrenos disponíveis para a construção de moradias sociais.

No entanto, em algum momento se soube que a empresa OAS andava a pesquisar um modelo econômico e de gestão para a área do Porto do Rio. E quando ocorreu a mudança de gestão municipal, o novo Prefeito abandonou a proposta de criação de uma empresa em conjunto com o governo federal e optou pela criação de uma empresa municipal, a Cedurp. Em seguida, foi realizada uma licitação para definir a companhia que executaria as obras do Porto Maravilha, de acordo com o modelo desenvolvido pela OAS. E justamente a OAS, associada à Carioca Engenharia e à Odebrecht venceu esta licitação. Assim, a empresa irá executar o projeto de acordo com o modelo que ela mesma desenvolveu e que foi assumido pela Prefeitura do Rio.

Segundo Raquel Rolnik, o modelo em vigor no projeto Porto Maravilha não foi pensado como aquele que seria o melhor do ponto de vista urbanístico ou do ponto de vista da cidade, mas sim aquele que viabilizaria o negócio, a lógica financeira do projeto. O consórcio formado pelas empresas é remunerado pela Prefeitura para fazer as obras. Mas ele ganha de novo ao fazer estas obras e terá ganhos com a valorização dos terrenos. Após a viabilização das questões fundiárias, a Caixa Econômica entrará como sócia na incorporação dos futuros edifícios, viabilizando tal operação. Caso algo dê errado nessa lógica financeira, os prejuízos serão cobertos com recursos públicos municipais. O projeto Porto Maravilha revela-se, assim, em toda a sua inteireza: a abertura de mais uma frente de expansão para os investimentos do capital financeiro, do capital excedente internacional.

Além de todos os problemas aqui apontados, estariam ocorrendo problemas de ordem moral e legal. Os terrenos federais que estão sendo repassados à Prefeitura para que esta os coloque no mercado estariam sendo subavaliados. A diferença de avaliação seria da ordem dez vezes menos os reais valores dos mesmos. Os laudos de avaliação estariam deixando funcionários que os assinam em situação vulnerável frente a uma eventual fiscalização do Tribunal de Contas. Um bom exemplo dessa distorção seria a avaliação feita para a desapropriação do prédio onde ocorre a ocupação Maria Conga, também na Área Portuária, a qual seria bem mais alta que aquelas praticadas nos terrenos que interessariam ao projeto Porto Maravilha.

Ao final, Raquel Rolnik traçou um paralelo entre o que estaria ocorrendo na Área Portuária do Rio de Janeiro com aquilo que estaria ocorrendo nas áreas no entorno da Sala São Paulo, na capital paulista. Lá, como aqui, a área é tratada como um vazio populacional e um vazio de história e cultura, adotando-se algo que se poderia comparar à solução final: o arrasamento dessas áreas para um recomeço em bases palatáveis ao mercado. Assim, a oposição democrática a tais atos no Rio e São Paulo estariam frente à responsabilidade de barrar um modelo perverso, que se pretende que seja posteriormente espalhado por outras cidades brasileiras.

terça-feira, 15 de março de 2011

o Cais da Imperatriz foi rompido

trecho em que o Cais da Imperatriz foi rompido

esquema de situações conflitantes na área do Cais da Imperatriz


O Cais da Imperatriz, descoberto em escavações para a construção de uma galeria de águas pluviais na Zona Portuária, foi rompido para a passagem dessa galeria. Foi uma pena. É uma perda para a cidade que não tenha havidio uma discussão maior sobre isto e apenas cabeças coroadas decidam sozinhos sobre os destinos de achados arqueológicos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ainda ameaçado o Cais da Imperatriz

Galeria de águas pluviais em construção junto ao Cais da Imperatriz


Muito tem se falado sobre deixar o material arqueológico dos Cais da Imperatriz e do Valongo exposto ao público. O Prefeito mostrou sua surpresa com a descoberta (detalhe, a escavação já ocorria há dois meses), e até um projeto expedito já apareceu. Mas o que ninguém comenta é que a obra da nova galeria de águas pluviais continua lá, ameaçadoramente apontada para o Cais da Imperatriz. Se for dada a ordem de continuar, fatalmente uma parte desse cais será desmontada. Isto ocorrerá sem discussão? O cais do Valongo é importante. Por ali passaram escravos para serem vergonhosamente negociados na Rua do Valongo. A sua conformação não é ainda conhecida. Já o Cais da Imperatriz é uma obra completa, pensada em projeto e executada seguindo cânones artísticos da época. Cortar-lhe uma parte seria extremamente grave e uma mutilação.

terça-feira, 8 de março de 2011

Cristo Redentor do Rio de Janeiro?

O Cristo é um monumento da cidade ou um monumento religioso? Se as duas respostas forem corretas, será possível compatibilizar esta ambivalência?
O monumento do Cristo Redentor foi inaugurado em 1931. Ele substituiu uma estrutura anteriormente existente que abrigava os visitantes daquele ponto de apreciação da paisagem da cidade. Um concurso realizado em 1923 escolheu o projeto do engenheiro Heitor da Silva Costa, em que o Cristo segurava uma cruz e o globo terrestre. Carlos Oswald colaborou na definição da forma do cristo com os braços abertos. A execução das mãos e da cabeça da foram do escultor francês Paul Maximilian Landowski. Os recursos para a construção foram obtidos através de uma campanha nacional para arrecadação de fundos, que foram entregues em paróquias de todo o Brasil.
Uma vez concluído, o Cristo tornou-se um símbolo da cidade, visitado por milhares de turistas todos os anos. Ao longo de sua existência já passou por algumas restaurações, bancadas por fundos privados e públicos. Nas últimas décadas acentuou-se muito essa característica de marco turístico, ficando o aspecto religioso um pouco em segundo plano. A figura que se vê no alto do Morro do Corcovado ganhou em humanidade, freqüentando todo tipo de imagens relativas à cidade, de charges em jornais ao cristo mendigo da Beija-Flor, de cartões postais a campanhas de soerguimento da autoestima carioca.
No entanto, ultimamente a igreja católica decidiu reforçar o aspecto religioso do monumento. Celebrações religiosas, que antes se resumiam ao interior da pequena capela existente aos pés do Cristo, ganharam o espaço exterior. E finalmente uma iluminação multicolorida foi encomendada a Peter Gasper. Aquele ser discreto que, numa luz clara serenamente abria seus braços sobre à cidade à noite, foi substituído por um outro ser extravagante, que se exibe nas cores púrpura, verde, vermelho, etc. O mesmo vem ocorrendo com a catedral na Lapa. Segundo anunciado, o Cristo seguirá a liturgia católica, permanecendo roxo durante a quaresma, como os santos encobertos nas igrejas.
Seria pedir demais solicitar à igreja que considerasse a afeição laica que temos para com este Cristo, o carioca? Nunca mais teremos de volta a discrição da luz clara que quando encoberta pelas nuvens produzia uma aura de mistério no topo da montanha? É triste ver um velho conhecido se perder assim...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Esculturas do Cais da Imperatriz

Estátuas em mármore, do antigo Cais da Imperatriz, no Palácio da Cidade

Estátua do Cais da Imperatriz ainda no Jardim do Valongo



Cais da Imperatriz em 1904

A descoberta do Cais da Imperatriz e do cais do valongo pode ser uma boa oportunidade para se discutir o retorno das esculturas que ornavam o cais projetado por Grandjean de Montigny para o seu lugar original. Elas hoje estão no Palácio da Cidade, na Rua São Clemente. Mas devem voltar, ou para o Jardim do Valongo, onde estiveram nas últimas décadas, ou para o espaço que será criado após a redescoberta dos antigos cais.

terça-feira, 1 de março de 2011

Cais da Imperatriz
























Coluna com esfera armilar e trechos escavados dos antigos Cais da Imperatriz e cais do Valongo. Fotos Robeto Anderson Magalhães/ 2011

O Cais da Imperatriz foi construído em 1843 por Grandjean de Montigny no Valongo, no que hoje é a Rua Barão de Tefé. Antes, ali já havia o cais do Valongo, com calçamento de pedras irregulares. A construção do Cais da Imperatriz deveu-se à chegada da futura esposa de D. Pedro II, D. Teresa Cristina. Ele foi executado com pedras aparelhadas e contou ainda com uma fonte em forma de coluna encimada por uma esfera armilar e estátuas de mármore representando divindades gregas. Da antiga fonte só restou a coluna, que ainda se encontra no local, já que a sua bacia e as bicas desapareceram. As estátuas foram inicialmente deslocadas pelo Prefeito Pereira Passos para o Jardim do Valongo e, no final do século XX, foram levadas para os jardins do Palácio da Cidade na Rua São Clemente. Já o cais permaneceu encoberto pelo aterro que criou a atual Área Portuária. Mas sempre se soube da sua localização aproximada.
As obras de recuperação da Área Portuária, agora chamadas de Porto Maravilha, entre outras coisas, planejam a reestruturação do sistema de drenagem daquela área. O que seria positivo levou ao equívoco de se projetar a principal galeria de águas pluviais no leito da Rua Barão de Tefé, a mesma onde um dia existiu o Cais da Imperatriz. Ora, consequentemente, a construção da galeria encontrou o antigo cais, criando-se uma situação em que o Patrimônio da cidade fatalmente deverá ser danificado. Não há como a galeria continuar o seu caminho sem a desmontagem parcial do belíssimo cais. Mas desmontá-lo significa dar continuidade a um erro terrível. Baseado na pouca tradição de radicalidade na preservação do nosso Patrimônio e no poder das empreiteiras, já se pode desconfiar de qual será o desfecho desta estória...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

No Brasil ou no Egito, a defesa da democracia não pode ser relativa!


Noivos nas barricadas do Cairo


Em entrevista à jornalista do jornal O Globo, Fernanda Godoy, publicada em 07 de fevereiro de 2011, o sociólogo egípcio Saad Eddin Ibrahim, professor visitante na Universidade de Drew, em Nova Jersey, afirmou que Brasil, Índia e África do Sul desapontaram os militantes pró-democracia daquele país. Eis a resposta do professor quando questionado sobre as razões dessa decepção.

“Porque esses são países do Terceiro Mundo. Se eles tivessem tomado uma posição em defesa da democracia no Egito, teria sido recebido de outra maneira. Todas as vezes que os EUA ou a Europa falavam em democracia, os representantes do regime gritavam: ’Imperialismo!’, ‘Colonialismo!’. Mas se a Índia, o Brasil, ou a África do Sul tivessem ficado do nosso lado, como nós fizemos quando eles lutavam contra o apartheid ou a ditadura militar brasileira, se esses países, que são democracias emergentes, sem aspirações colonialistas, tivessem se colocado do lado da democracia, teriam nos ajudado muito. O governo não poderia dizer que estávamos convidando a uma intervenção.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Porto Maravilha?

Galpão da Artes - Foto Roberto Anderson

A requalificação de áreas portuárias não é um fenômeno novo e a razão é também muito conhecida. Está relacionada a alterações na operação da atividade portuária, que passou a prescindir de grandes espaços de estocagem de mercadorias, os retroportos. Assim, essas áreas, que geralmente têm boa localização e são servidas de infraestrutura urbana, passaram a ser reaproveitadas pelas cidades, transformando-se em locais de escritórios, moradia, cultura e lazer.

No Rio de Janeiro, atualmente, antigos obstáculos políticos encontram-se transpostos e o projeto, agora chamado Porto Maravilha, foi iniciado. No entanto, a forma como se deverá se dar esta intervenção apresenta alguns problemas importantes. Abandonou-se uma versão mais leve do projeto, em favor de uma outra baseada no uso intensivo do potencial construtivo, voltada para a atração de capitais especulativos. A liderança do processo está com a Prefeitura e a atual orientação municipal é claramente privatista.

Até aqui, o processo de discussão do projeto Porto Maravilha não foi muito aberto e transparente. É necessário ampliar este debate. É urgente que se reabra a discussão sobre o projeto já em curso. É urgente que se repense o projeto como um todo, adequando-o aos interesses da população e não aos do mercado imobiliário, como parece ser o caso atualmente. Durante muito tempo se construiu a convicção de que a Área Portuária deveria ser olhada com mais cuidado pelo poder público. Esta convicção, e as expectativas que suscitou, não devem agora ser frustradas pela dominação desse projeto por interesses ligados unicamente ao alto retorno dos investimentos privados.