domingo, 20 de março de 2011

Galeria de águas pluviais e o Cais da Imperatriz

pedras acumuladas no canteiro de obras


trecho do antigo Cais da Imperatriz desfeito para a passagem da nova galeria de águas pluviais


Segundo a arqueóloga Tania Lima, o Cais da Imperatriz, no ponto em que foi desmontado para a passagem da nova galeria de águas pluviais, já havia sido mexido na ocasião da implantação da drenagem de Edward Gotto, em 1870. Mas, muito importante, teria havido, então, o cuidado de repor tudo no lugar, reconstituindo o Cais da Imperatriz naquele ponto. De uma certa forma a arqueóloga dá a entender que o desmonte atual daquele trecho do cais não seria tão importante em função de já ter havido esse fato naquela ocasião. Acho esta opinião problemática. Uma drenagem de 1870 já é história. E ainda mais que naquela ocasião tiveram o cuidado de não danificar o cais. A verdade é que hoje o Cais da Imperatriz foi cortado sim. É possível que não houvesse outra alternativa para a apassagem da nova galeria de águas pluviais mas, de qualquer forma, esse debate necessitaria ter sido mais ampliado. E não foi. Os canos em ferro vindos da Inglaterra teriam sido recolhidos, assim como as pedras.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Encontro com Raquel Rolnik no IAB-RJ




No dia 17 de março de 2011 aconteceu no IAB-RJ um Encontro com Raquel Rolnik para discutir o projeto Porto Maravilha. Em sua fala, a arquiteta e relatora da ONU para questões de moradia adequada explicou que num momento anterior à posse do atual prefeito, o governo federal se envolveu com o projeto do Porto do Rio, buscando a melhor forma de participar do mesmo. Como era proprietário de grande parte dos terrenos, o governo federal propunha, então, uma administração do projeto conjunta com a Prefeitura do Rio, através da constituição de uma empresa pública compartilhada. A intenção do governo federal, então, era a de destinar uma parte significativa dos terrenos disponíveis para a construção de moradias sociais.

No entanto, em algum momento se soube que a empresa OAS andava a pesquisar um modelo econômico e de gestão para a área do Porto do Rio. E quando ocorreu a mudança de gestão municipal, o novo Prefeito abandonou a proposta de criação de uma empresa em conjunto com o governo federal e optou pela criação de uma empresa municipal, a Cedurp. Em seguida, foi realizada uma licitação para definir a companhia que executaria as obras do Porto Maravilha, de acordo com o modelo desenvolvido pela OAS. E justamente a OAS, associada à Carioca Engenharia e à Odebrecht venceu esta licitação. Assim, a empresa irá executar o projeto de acordo com o modelo que ela mesma desenvolveu e que foi assumido pela Prefeitura do Rio.

Segundo Raquel Rolnik, o modelo em vigor no projeto Porto Maravilha não foi pensado como aquele que seria o melhor do ponto de vista urbanístico ou do ponto de vista da cidade, mas sim aquele que viabilizaria o negócio, a lógica financeira do projeto. O consórcio formado pelas empresas é remunerado pela Prefeitura para fazer as obras. Mas ele ganha de novo ao fazer estas obras e terá ganhos com a valorização dos terrenos. Após a viabilização das questões fundiárias, a Caixa Econômica entrará como sócia na incorporação dos futuros edifícios, viabilizando tal operação. Caso algo dê errado nessa lógica financeira, os prejuízos serão cobertos com recursos públicos municipais. O projeto Porto Maravilha revela-se, assim, em toda a sua inteireza: a abertura de mais uma frente de expansão para os investimentos do capital financeiro, do capital excedente internacional.

Além de todos os problemas aqui apontados, estariam ocorrendo problemas de ordem moral e legal. Os terrenos federais que estão sendo repassados à Prefeitura para que esta os coloque no mercado estariam sendo subavaliados. A diferença de avaliação seria da ordem dez vezes menos os reais valores dos mesmos. Os laudos de avaliação estariam deixando funcionários que os assinam em situação vulnerável frente a uma eventual fiscalização do Tribunal de Contas. Um bom exemplo dessa distorção seria a avaliação feita para a desapropriação do prédio onde ocorre a ocupação Maria Conga, também na Área Portuária, a qual seria bem mais alta que aquelas praticadas nos terrenos que interessariam ao projeto Porto Maravilha.

Ao final, Raquel Rolnik traçou um paralelo entre o que estaria ocorrendo na Área Portuária do Rio de Janeiro com aquilo que estaria ocorrendo nas áreas no entorno da Sala São Paulo, na capital paulista. Lá, como aqui, a área é tratada como um vazio populacional e um vazio de história e cultura, adotando-se algo que se poderia comparar à solução final: o arrasamento dessas áreas para um recomeço em bases palatáveis ao mercado. Assim, a oposição democrática a tais atos no Rio e São Paulo estariam frente à responsabilidade de barrar um modelo perverso, que se pretende que seja posteriormente espalhado por outras cidades brasileiras.

terça-feira, 15 de março de 2011

o Cais da Imperatriz foi rompido

trecho em que o Cais da Imperatriz foi rompido

esquema de situações conflitantes na área do Cais da Imperatriz


O Cais da Imperatriz, descoberto em escavações para a construção de uma galeria de águas pluviais na Zona Portuária, foi rompido para a passagem dessa galeria. Foi uma pena. É uma perda para a cidade que não tenha havidio uma discussão maior sobre isto e apenas cabeças coroadas decidam sozinhos sobre os destinos de achados arqueológicos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ainda ameaçado o Cais da Imperatriz

Galeria de águas pluviais em construção junto ao Cais da Imperatriz


Muito tem se falado sobre deixar o material arqueológico dos Cais da Imperatriz e do Valongo exposto ao público. O Prefeito mostrou sua surpresa com a descoberta (detalhe, a escavação já ocorria há dois meses), e até um projeto expedito já apareceu. Mas o que ninguém comenta é que a obra da nova galeria de águas pluviais continua lá, ameaçadoramente apontada para o Cais da Imperatriz. Se for dada a ordem de continuar, fatalmente uma parte desse cais será desmontada. Isto ocorrerá sem discussão? O cais do Valongo é importante. Por ali passaram escravos para serem vergonhosamente negociados na Rua do Valongo. A sua conformação não é ainda conhecida. Já o Cais da Imperatriz é uma obra completa, pensada em projeto e executada seguindo cânones artísticos da época. Cortar-lhe uma parte seria extremamente grave e uma mutilação.

terça-feira, 8 de março de 2011

Cristo Redentor do Rio de Janeiro?

O Cristo é um monumento da cidade ou um monumento religioso? Se as duas respostas forem corretas, será possível compatibilizar esta ambivalência?
O monumento do Cristo Redentor foi inaugurado em 1931. Ele substituiu uma estrutura anteriormente existente que abrigava os visitantes daquele ponto de apreciação da paisagem da cidade. Um concurso realizado em 1923 escolheu o projeto do engenheiro Heitor da Silva Costa, em que o Cristo segurava uma cruz e o globo terrestre. Carlos Oswald colaborou na definição da forma do cristo com os braços abertos. A execução das mãos e da cabeça da foram do escultor francês Paul Maximilian Landowski. Os recursos para a construção foram obtidos através de uma campanha nacional para arrecadação de fundos, que foram entregues em paróquias de todo o Brasil.
Uma vez concluído, o Cristo tornou-se um símbolo da cidade, visitado por milhares de turistas todos os anos. Ao longo de sua existência já passou por algumas restaurações, bancadas por fundos privados e públicos. Nas últimas décadas acentuou-se muito essa característica de marco turístico, ficando o aspecto religioso um pouco em segundo plano. A figura que se vê no alto do Morro do Corcovado ganhou em humanidade, freqüentando todo tipo de imagens relativas à cidade, de charges em jornais ao cristo mendigo da Beija-Flor, de cartões postais a campanhas de soerguimento da autoestima carioca.
No entanto, ultimamente a igreja católica decidiu reforçar o aspecto religioso do monumento. Celebrações religiosas, que antes se resumiam ao interior da pequena capela existente aos pés do Cristo, ganharam o espaço exterior. E finalmente uma iluminação multicolorida foi encomendada a Peter Gasper. Aquele ser discreto que, numa luz clara serenamente abria seus braços sobre à cidade à noite, foi substituído por um outro ser extravagante, que se exibe nas cores púrpura, verde, vermelho, etc. O mesmo vem ocorrendo com a catedral na Lapa. Segundo anunciado, o Cristo seguirá a liturgia católica, permanecendo roxo durante a quaresma, como os santos encobertos nas igrejas.
Seria pedir demais solicitar à igreja que considerasse a afeição laica que temos para com este Cristo, o carioca? Nunca mais teremos de volta a discrição da luz clara que quando encoberta pelas nuvens produzia uma aura de mistério no topo da montanha? É triste ver um velho conhecido se perder assim...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Esculturas do Cais da Imperatriz

Estátuas em mármore, do antigo Cais da Imperatriz, no Palácio da Cidade

Estátua do Cais da Imperatriz ainda no Jardim do Valongo



Cais da Imperatriz em 1904

A descoberta do Cais da Imperatriz e do cais do valongo pode ser uma boa oportunidade para se discutir o retorno das esculturas que ornavam o cais projetado por Grandjean de Montigny para o seu lugar original. Elas hoje estão no Palácio da Cidade, na Rua São Clemente. Mas devem voltar, ou para o Jardim do Valongo, onde estiveram nas últimas décadas, ou para o espaço que será criado após a redescoberta dos antigos cais.

terça-feira, 1 de março de 2011

Cais da Imperatriz
























Coluna com esfera armilar e trechos escavados dos antigos Cais da Imperatriz e cais do Valongo. Fotos Robeto Anderson Magalhães/ 2011

O Cais da Imperatriz foi construído em 1843 por Grandjean de Montigny no Valongo, no que hoje é a Rua Barão de Tefé. Antes, ali já havia o cais do Valongo, com calçamento de pedras irregulares. A construção do Cais da Imperatriz deveu-se à chegada da futura esposa de D. Pedro II, D. Teresa Cristina. Ele foi executado com pedras aparelhadas e contou ainda com uma fonte em forma de coluna encimada por uma esfera armilar e estátuas de mármore representando divindades gregas. Da antiga fonte só restou a coluna, que ainda se encontra no local, já que a sua bacia e as bicas desapareceram. As estátuas foram inicialmente deslocadas pelo Prefeito Pereira Passos para o Jardim do Valongo e, no final do século XX, foram levadas para os jardins do Palácio da Cidade na Rua São Clemente. Já o cais permaneceu encoberto pelo aterro que criou a atual Área Portuária. Mas sempre se soube da sua localização aproximada.
As obras de recuperação da Área Portuária, agora chamadas de Porto Maravilha, entre outras coisas, planejam a reestruturação do sistema de drenagem daquela área. O que seria positivo levou ao equívoco de se projetar a principal galeria de águas pluviais no leito da Rua Barão de Tefé, a mesma onde um dia existiu o Cais da Imperatriz. Ora, consequentemente, a construção da galeria encontrou o antigo cais, criando-se uma situação em que o Patrimônio da cidade fatalmente deverá ser danificado. Não há como a galeria continuar o seu caminho sem a desmontagem parcial do belíssimo cais. Mas desmontá-lo significa dar continuidade a um erro terrível. Baseado na pouca tradição de radicalidade na preservação do nosso Patrimônio e no poder das empreiteiras, já se pode desconfiar de qual será o desfecho desta estória...