quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Parque de Madureira: um parque nada sustentável


Ao cortar a luz do Parque Madureira, por falta de pagamento, a Light deixou à mostra a insustentabilidade daquele parque. Ele exige consumo de energia para o chafariz, para a cascata, e para outras atrações. Isto sem falar na energia exigida para manter os gramados roçados. Parques para o mundo atual precisam ter um balanço positivo entre os serviços ambientais que fornecem e o consumo de energia que exigem. O modelo do Parque Madureira simplesmente não é replicável nas demais regiões da cidade!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O buda da Santo Amaro

A rua Santo Amaro é uma daquelas ruas que saem da Glória e do Catete, em direção a Santa Teresa. Geralmente são mais calmas e possuem belos solares e sobrados. Alguns estão decadentes e depauperados, outros já foram renovados por novos proprietários. Há também prédios de apartamentos, construídos antes da valorização da ideia de se preservar o Patrimônio local.

Um desses solares, hoje bem maltratado, é o que serviu como sede social do High Life Club, um clube de festas, restaurante e local de animados bailes de carnaval no passado. Antes, havia sido da família do Barão do Rio Negro. Depois de abrigar o clube, o imóvel também sediou o Incra, mas não mais.

Na calçada desse solar, há um morador de rua, que se arrumou debaixo de uma árvore. Lá ele guarda suas coisas e tralhas, e dorme num burrinho sem rabo. Dorme tranquilo, muitas vezes em pleno dia. Veja bem, eu disse morador de rua, não um mendigo. Ele parece ter uma saúde invejável. Mantém relações sociais com os vizinhos, leva seu pequeno cachorro a passear, conversa com os clientes do bar, e presta pequenos serviços na redondeza. Seu burrinho sem rabo está há tanto tempo no mesmo lugar, que imagino que já tenha obtido seu próprio CEP.

Dia desses, ele foi chamar a atenção de um mendigo que revirava uma lata de lixo, deixando cair sujeiras no chão: Ôo, não vê que o rapaz acabou de varrer a calçada? Ele é conhecido como Gande. Eu o vejo como o buda da Santo Amaro. Deve ter achado sua iluminação debaixo da árvore e lá ficou. Ou, aproveitando a antiga existência da sede do Incra, ali fez a sua pequena reforma agrária. 

artigo publicado em 28 de abril de 2022 no Diário do Rio.

terça-feira, 21 de junho de 2016

O outro lado da Orla Conde

Av. Rodrigues Alves - foto Marcia Foletto
A Rodrigues Alves pela fotógrafa Marcia Foletto: uma via expressa, um prolongamento da Av. Brasil, uma via hostil ao pedestre. A demolição da Perimetral gerou a Orla Conde, que o prefeito gosta de chamar de Boulevard, e um trecho aproximadamente igual de via expressa, exemplo de solução rodoviarista do século passado, com poluição sonora e tráfego intenso de alta velocidade. Nada mais enganoso para quem esperava a "revitalização" da Área Portuária"!

Práticas sustentáveis no Copacabana Palace


Algumas coisas que descobri hoje. O Hotel Copacabana Palace tem um bom programa de reciclagem de seus resíduos sólidos. Papel e papelão, assim como garrafas PET, são prensados e, juntamente com vasilhames de vidro, são encaminhados para reciclagem. A parte sólida do lixo orgânico é separada, restando apenas 80% do volume inicial, que é encaminhado para o aterro sanitário. Mas que poderia ir para compostagem. Os funcionários que trabalham nesse setor são ex-catadores e agora estão empregados formalmente.
A energia consumida pelo hotel é comprada no mercado livre, oriunda de fontes renováveis, opção disponível para grandes consumidores. E o hotel irá construir uma estação de tratamento de esgotos a membrana para dar reuso a parte desse esgoto, já como água limpa, nas torres de arrefecimento de ar condicionado. Como se vê, há muito que empresas podem fazer na construção de práticas mais sustentáveis. E a Prefeitura pode incentivar para que isso aconteça!



terça-feira, 8 de março de 2016

Políticas urbanas para todos

Av. Rio branco, anos 30

Hoje, 08 de março de 2016, teve início uma série de debates promovidos pelo Psol, com o nome de Cidades Rebeldes. Entre os convidados, o nome mais conhecido é o do pesquisador inglês David Harvey. O debate de hoje, que assisti pela Internet, contou com a presença dele (que voltará a falar em outros dias), e das professoras paulistas Ermínia Maricato e Raquel Rolnik.  Essas duas coincidiram no diagnóstico de que as cidades saíram do plano principal das políticas públicas. E que, apesar do Brasil contar com uma legislação urbana avançada, uma série de eventos nos últimos anos provocaram uma derrota de teses progressistas. Entre eles, o ainda recente gigantesco subsídio do governo federal aos automóveis, o projeto Minha Casa Minha Vida que, segundo afirma Ermínia, não busca atender o problema da moradia, e sim o mercado imobiliário, e a transformação do espaço das cidades em objeto de negócios, estando o Rio de Janeiro na dianteira desse processo. Foram citados como exemplos o Porto Maravilha e as obras para as Olimpíadas. As professoras não ousaram nomear os responsáveis por tais políticas. Mas consideraram importante voltar a sensibilizar a população para a discussão dos problemas urbanos, como forma de alertar sobre a necessidade de retomar o impulso por políticas urbanas para a maioria da população.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Troncal, circular, integrada



Os ônibus do Rio sempre tiveram uma dupla nomenclatura : numérica e indicativa de origem e destino. Agora com a chamada racionalização, a prefeitura adotou uma nomenclatura tecnocrática, como troncal 1, 2, 3, etc. Isso complica enormemente, pois não há uma correlação geográfica. Não sou contra que se busque planejar as linhas, que sempre foram o resultado dos interesses das empresas. Mas acho tolo querer nomeá-las por critérios que só o prefeito conhece. Planejamento sem consulta aos interessados dá nisso.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

P3NS4 - o que perguntar?


Essa questão chegou a mim porque alguém de fora do Rio teria se encantado com o trabalho da Prefeitura do Rio sobre Árvores, o tal Projeto Árvore.

Lendo sobre esse projeto Árvore, descobri que ele é fruto do P3NS4 - Sala de ideias, grupo composto em 2013 por 7 profissionais para analisar dados do Big Data e buscar soluções (http://vejario.abril.com.br/materia/cidade/rio-tem-tropa-elite-big-data). A fonte principal é o COR, Centro de operações da Prefeitura. Esse grupo é diretamente ligado à Secretaria da Casa Civil, cujo secretário é Pedro Paulo Teixeira, pré-candidato à sucessão do Prefeito, apesar de enrolado em infrações à Lei Maria da Penha. Os componentes desse grupo, oriundos da academia, são denominados "Líderes Cariocas" 

O Secretário perguntou a esses Líderes que árvores tinham mais chances de caírem e aonde. Após conversas com os órgãos envolvidos (que assim como a torcida do Flamengo ignoravam a existência desse grupo), e análise de dados, o grupo concluiu que:

1- os dados existentes eram insuficientes, já que não havia georeferenciamento das espécies arbóreas urbanas e nem cadastramento de seus nomes científicos ou populares.
2 - seria necessário corrigir essa deficiência e foi proposta a contratação de um censo arbóreo
3 - foi possível detectar os bairros com maior número de ocorrências (pouco para um Big Data)

Acredito que antes de se deixar encantar com o tal projeto Árvores, seria mais proveitoso se interessar pelo Plano Diretor de Arborização, disponível para consultas no site da SMAC. Claro que há possibilidades reais que a análise de Big Data pode trazer. Mas, é importante verificar o conteúdo dos questionamentos ao Big Data. Me parece sintomático que o perambular de bandos de meninos de rua na Cidade do Rio de Janeiro não seja analisado. Ou que não tenham se interessado pelo destino dos desabrigados pelas desapropriações do Prefeito, o que estudantes da UFF fizeram com brilhantismo, chegando a publicar um livro. 

Enfim, é preciso muito cuidado com os sortilégios do prefeito Paes.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Museu do Amanhã (Rio), primeiras impressões

Essas são primeiras impressões de quem ainda não entrou no museu. Como concepção de arquitetura deixa um pouco a desejar. Pode se pensar numa caixa recoberta por um esqueleto. Ok, longe vai o tempo de haver alguma relação entre forma e função, mas esse esculturismo não me satisfaz. 

As paredes brancas já estão sujas, com marcas de algo escuro que escorre. Poluição? Deve piorar. Intuo que será bem complicada a logística de sua manutenção. Alpinistas farão o serviço? Bem pouco prático. As aletas, que se movem para buscar a melhor orientação solar, poderiam sibilar suavemente, como imagino que uma estação orbital o faria. Mas não, rangem ruidosamente como uma engenhoca do século XIX. 

Marcas de sujeira nas paredes laterais
Do uso original do espaço em que está pousado, um antigo cais, quase não sobraram vestígios. Os elementos de ferro para atracação, fixados na linha junto ao mar, estão enferrujados e não receberam pintura. O passeio no entorno do museu já apresenta partes da pavimentação quebradas. E há que se ter cuidado ao caminhar, pois os balizadores luminosos de piso são salientes.

Quanto ao conteúdo,  não sei dizer.  Não me animo a enfrentar uma enorme fila de pessoas atraídas pela propaganda da TV Globo,  que é parte do empreendimento (via Fundação Roberto Marinho). Aliás, que isenção pode ter um grupo jornalístico que se associa ao poder executivo? Mas me chama a atenção a descrição de Ricky Seabra, artista e diretor do Museu do Crato, para quem o conteúdo revela "um PowerPoint sofisticado que deixa nada para a imaginação dentro do esqueleto de um cisne. O conteúdo se equivale à assistir uma semana de CNN, uma semana de NatGeo, e uma semana de Discovery Channel. (...) Tudo é apresentado com imagens e videos já 'mastigados' até com trilha sonora."

Resta o consolo de que a estranheza do objeto ajuda a compor fotos interessantes.