quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Estado do Rio patina no Pisa


Comparando os dados de 2006 com os de 2009 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa, que avalia o desempenho de estudantes de 15 anos, o movimento Todos pela Educação (1) conclui duas coisas importantes. Uma, que nesse período o Brasil teve a terceira maior evolução nas médias das 65 nações que participaram do programa. Outra, que o Estado do Rio de Janeiro foi o único da Região Sudeste a perder pontos também nesse período, além de ter apresentado a menor evolução da Região. O Estado do Rio de Janeiro ficou parado nos itens matemática (ganhou apenas dois pontos) e ciência (ganhou apenas um ponto). Em compensação, perdeu sete pontos em leitura, o terceiro item da avaliação do programa.
A percepção geral é de que o atual momento por que passa o Estado é de exuberância econômica. Há até mesmo confiança no futuro. Mas como ter esta confiança com nossos jovens recebendo este tipo de formação? Certamente, há algo de muito errado no modelo de desenvolvimento que vem sendo adotado.
(1) Movimento financiado pela iniciativa privada que objetiva promover a educação.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Demolição da Perimetral

Elevado da Perimetral no Rio de Janeiro - Foto: Roberto Anderson

Talvez seja um enorme equívoco, mas não está havendo discussão suficiente. Por que não reconvertê-lo? A palavra de ordem no mundo é a reconversão! Ele pode vir a ser o leito de um sistema de transportes sobre trilhos, como proposto por alunos da FAU/UFRJ, ou pode ser um parque suspenso, como o Highline em NYC. Mas tirar carros do alto para enterrá-los num túnel, com dinheiro público, é trocar seis por meia dúzia. O Lula não precisa saber de urbanismo, mas do jeito que vão as coisas, se derem a ele a chance de lançar a pedra fundamental de aterro da Baia de Guanabara, ele vai em frente. Basta um desses aliados dele do PMDB pedir!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

Implosão no Fundão

Foto Severino Silva/Agência O Dia

Uma parte considerável do edifício que abriga o Hospital Universitario Clementino Fraga Filho, no Fundão, foi implodida neste domingo, 19 de dezembro de 2010. O projeto do edifício é do arquiteto Jorge Moreira, mesmo autor do projeto da FAU/UFRJ, e permaneceu inacabado. Esta parte implodida, chamada de "perna seca", por falta de cuidados, terminou apresentando problemas estruturais. Ela correspondia a praticamente a metade de toda a edificação.
O que impressiona é que tantos edifícios de qualidade duvidosa tenham sido construídos nas ultimas décadas no Fundão e não se tenha aproveitado a estrutura do prédio de Jorge Moreira para receber os cursos que exigiram essas novas construções. Como pode o poder publico se dar ao luxo de ver investimentos se deteriorem até chegarem a este ponto?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Cervejaria Brahma

Construção do Sambódromo, vendo-se a cervejaria Brahma à esquerda

Os prédios da antiga cervejaria Brahma no Catumbi acabam de ser condenados! Eles são os últimos resquícios do passado fabril daquele bairro. No passado, o Catumbi foi retalhado para a abertura da Linha Lilás, o que gerou uma diáspora dos seus antigos moradores e a perda de identidade. Mais tarde, com a construção do Sambódromo, outra parte do casario restante também foi demolida. Mesmo assim a Brahma resistiu todos esses anos, já que nesse período por diversas vezes foi negada a autorização para sua demolição. No entanto, agora essa demolição é iminente.
O Sambódromo, apesar de sua inserção problemática no bairro, foi tombado pelo Estado do Rio de Janeiro a pedido de Darci Ribeiro. Nesse tombamento, a cervejaria Brahma foi incluída como área de sua ambiência. Não era um tombamento, mas significava uma proteção à cervejaria. No entanto, pouco a pouco, a empresa passou a demolir o interior do prédio mais próximo ao Sambódromo. Agora, em função das Olimpíadas - sempre elas – o Sambódromo vai ser ampliado às custas da demolição desse prédio. Como se não bastasse, o outro prédio que se encontra afastado e a chaminé também deverão ir ao chão, já que a empresa planeja trocar seu investimento no Sambodromo pelo direito de construir um prédio negro de Niemeyer no terreno. A Ambev ira vender esse direito ao repassar o terreno a terceiros.
A antiga cervejaria Brahma tem um certo valor histórico, pois é parte de um período em que aquela área tinha indústrias e fábricas. Tem, também, valor paisagístico, já que marca a paisagem local já há tantos anos. A sua perda é mais um golpe na identidade do Catumbi e uma perda para toda a cidade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Porto Maravilha




Area Portuaria em 2002 e em 1930/ Guta

Já há vários anos vem se falando sobre a necessidade de recuperação da Área Portuária do Rio de Janeiro. Este parece ser um consenso na cidade e nada justifica mesmo o fato daquela área com boa infraestrutura encontrar-se por tanto tempo abandonada. No entanto, é na forma como se dará esta recuperação que residem os problemas. É muito possível que a população tenha a esperança de um dia voltar a usufruir da orla da Baía de Guanabara, passeando pelo atual cais do porto. No entanto, isto não está totalmente garantido. Dependerá de como a companhia Docas venha a a tratar a área dos primeiros armazéns do porto: liberá-los para uso cultural ou alfandegá-los, ou seja, transformá-los em áreas de trânsito restrito a cargas, passageiros ou pessoal que lida com estas atividades.

A população pode estar pensando que os galpões antigos da Área Portuária, aquelas edificações existentes entre a Perimetral e as encostas, no futuro sejam recuperados e utilizados para atividades culturais, residências, escritórios, etc. Mas isto é pouco provável, uma vez que a maioria desses galpões não é protegida. Eles são passíveis de serem demolidos para darem lugar a edificações de 30 e 40 andares. Ha armazéns com belas fachadas e sistemas construtivos interessantes, mas tudo pode ir ao chão.

O planejamento da Área Portuária não considera adequadamente a implantação de meios de transportes sob trilhos ligando a área a outros pontos importantes da cidade. Há um estudo para a implantação de um VLT, mas este projeto encontra-se projeto pouco desenvolvido, ao contrário das novas ligações viárias já em fase de execução. A projetada demolição de um trecho da Perimetral será caríssima e a construção de um mergulhão muito mais. Serão obras rodoviaristas que utilizarão os recursos públicos para apenas trocar de lugar o trânsito de veículos motorizados. Há, ainda garagens subterrâneas a serem construídas. No futuro, planeja-se a derrubada total da via elevada para transformar a parte da Avenida Rodrigues Alves não servida pelo mergulhão em uma via expressa, ou seja, secionando a cidade de sua orla marítima.

A execução do projeto está a cargo de uma Parceria Público Privada (PPP), cuja licitação foi vencida por um consórcio de grandes construtoras (Norberto Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia). Direitos de construção serão negociados e deverão servir para remunerar a empresa e custear os serviços. Esses mesmos direitos de construção que irão modificar radicalmente a fisionomia do lugar. O valor da PPP foi fixado em R$ 7,3 bilhões por 15 anos de concessão, a maior do gênero no Brasil. O consórcio além de executar as obras, será responsável pelos serviços, como limpeza e iluminação.

A legislação urbanística para a Área Portuária foi recentemente votada, apressadamente, com pouca participação popular nas discussões. Aprovou-se gabaritos de até 50 andares. A população não esta informada que a Área Portuária poderá ser fortemente verticalizada, sem muitas das construções antigas e dos galpões que hoje a caracterizam. É urgente que se faça essa discussão. É urgente que se repense o projeto como um todo, adequando-o aos interesses da população e não ao do mercado imobiliário, como parece ser o caso atualmente.

domingo, 14 de novembro de 2010

Castor

cartaz em parede de Berlim - Foto: Roberto Anderson

Em todo o mundo, a questão nuclear sempre foi um dos temas centrais da ação dos ambientalistas. A recusa à energia nuclear motivou muitas das lutas que, entre outras coisas, produziram os partidos verdes. Na Alemanha, quando este partido compartilhou o governo, conseguiu-se uma moratória da criação de novas usinas nucleares. Mas os conservadores, atualmente no poder, têm ampliado o prazo de funcionamento de usinas atômicas que estavam para ser desativadas.

A recente passagem do trem "Castor" pela Alemanha com rejeitos nucleares provenientes da França provocou uma enorme celeuma. Os ativistas contrários a essa passagem buscaram de todas as maneiras boicotá-la, inclusive com o recurso à tentativa de inabilitação de partes da linha férrea. Foi necessário um cordão de policiais por vários quilômetros ao longo da mesma. Os ativistas provaram que havia exposição desses policiais a algum nível de radioatividade e a polícia não quer repetir esse tipo de operação.

Por outro lado, já há defensores da sustentabilidade que começam a repensar o uso de usinas nucleares como opção a outros combustíveis poluentes, como os fósseis. O destino final dos rejeitos nucleares é um problema gigantesco, assim como a sempre presente possibilidade de um acidente nas usinas. Quando tais problemas são minimizados, uma operação de difícil execução, tanto no plano prático, como no plano teórico, a energia nuclear pode parecer uma real opção a energias emissoras de gases e partículas do efeito estufa. Para se posicionar com propriedade nesse debate é necessário muita discussão e mais circulação de informações.

sábado, 16 de outubro de 2010

Cumprimento da Agenda Marrom 2


No Brasil, há um descompasso entre o crescimento da rede de distribuição de água potável e o da rede de esgotos. Um estudo elaborado pelo Ipea apontou em 2008 que 91% das cidades brasileiras possuem água canalizada e em 97,1% das cidades existe coleta de lixo. No entanto, este mesmo estudo indicou que 26,8% dos moradores das áreas urbanas dos municípios brasileiros (34,5 milhões de pessoas) não possuem coleta de esgoto. A ausência de redes de coleta de esgotos abrange 22,2% dos municípios brasileiros. De acordo com a Pnad 2007, essa proporção de desservidos por redes de esgotos sobe para 32,5% quando consideradas as populações das áreas metropolitanas. Além disso, ainda há o predomínio de uma visão de saneamento que separa a gestão da água e dos esgotos, daquela das águas pluviais e do lixo.

sábado, 9 de outubro de 2010

Cumprimento da Agenda Marrom

Praça da Estação em Belo Horizonte

A chamada Agenda Marrom está bastante relacionada às ações contra a pobreza nos países não-desenvolvidos como, por exemplo, os Objetivos do Milênio (8 objetivos estabelecidos pela ONU em 2000). É importante, no entanto, que as ações da Agenda Marrom se utilizem de técnicas que evitem a degradação ambiental.
A nova Lei do Saneamento Básico (Lei 11.445 de 05/01/2007) propõe uma visão global do problema, o que poderá abrir novas perspectivas de atuação. Segundo esta lei, o saneamento é um direito dos cidadãos e os governos devem fornecê-lo. Os sistemas de saneamento devem estar integrados entre si. A lei criou mecanismos e procedimentos que devem garantir à sociedade informações, representação técnica e participação nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico. As municipalidades passaram a ser obrigadas a definir seus planos de saneamento, os quais, a partir de 2010, serão condicionantes para a obtenção de financiamentos federais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Fradinhos malquistos

Rue Fontarabie em Paris

O péssimo hábito dos motoristas cariocas de estacionarem seus carros sobre as calçadas da cidade é algo que veio crescendo ao longo do tempo e com a incrível frota de automóveis de nossa cidade. A desculpa corrente é que a cidade não oferece vagas suficientes. Mas Paris ou Nova Iorque também não e nossos motoristas de classe média ou alta, quando lá estão e alugam carros, sabem muito bem respeitar as regras.
Como solução paliativa, as diversas administrações municipais do Rio de Janeiro permitiram ou incentivaram a colocação de fradinhos nas calçadas. Os moradores e os condomínios gastaram seus recursos os instalando e a própria Prefeitura instalou diversos desses dispositivos em suas obras de reurbanização. Nos anos 90 a Secretaria de Urbanismo chegou a projetar diferentes modelos de dispositivos, visando torná-los um elemento constante na cidade. A resistência aos fradinhos não vinha dos moradores, mas sim dos flanelinhas, que se viam privados de suas áreas de exploração sobre as calçadas. Muitas vezes, era necessário que um guarda municipal ficasse de plantão até que o cimento que prendia os fradinhos às calçadas se solidificasse. Em caso contrário, seriam prematuramente arrancados por aqueles que tinham seus interesses contrariados.
No entanto, a atual administração municipal decidiu que os carros não mais estacionam em calçadas e que os fradinhos não são mais necessários. Mais, ela deu prazo aos condomínios da orla para que os retirassem, o que eles já vêm fazendo com prejuizos, e anunciou que a medida se estenderá a toda a cidade. Ora, isto é exatamente o oposto do que se faz nas cidades do mundo em que se deseja proteger o pedestre. Paris está cada vez mais cheia de dispositivos que impedem que os carros estacionem sobre calçadas. Mesmo em calçadas estreitas é possível vê-los. E não só em Paris, mas também em Londres e em outras cidades onde a administração municipal priorize os pedestres não confie exageradamente na sua capacidade de reprimir o estacionamento irregular.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Parque Bossa Nova




Vem ai o Parque Bossa Nova. Será construído no Leblon, um dos bairros com melhor qualidade de vida da cidade. O novo parque estará próximo ao Parque Dois Irmãos, à Praia do Leblon, ao Jardim de Alah...., ou seja, numa área já bastante aquinhoada de amenidades. Com projeto do arquiteto Jaime Lerner, o parque terá em torno de 25 mil m2 de área verde e sua concretização está orçada em R$ 68 milhões.
Enquanto isto, o subúrbio carioca permanece um deserto de parques e jardins. Saindo do Centro, após o Campo de Santana, há a Quinta da Boa Vista e depois quase nada. O Parque Ari Barroso na Penha, uma exceção neste cenário, apesar de ser uma unidade de conservação ambiental do Rio de Janeiro, vem sendo ocupado por instituições públicas que reduzem sua área disponível. Já recebeu uma UPA e agora corre o risco de receber uma lona cultural.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Via expressa no Porto


A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que com a programada demolição do Elevado da Perimetral a Avenida Rodrigues Alves será transformada em via expressa, com três faixas e sem sinal. Mas qual a vantagem para a Zona Portuária? Com o elevado, o trânsito na Rodrigues Alves já é bastante intenso, criando uma barreira entre o Porto e o restante do bairro. Uma via expressa irá criar uma barreira intransponível. Passarelas como solução? O carro passaria livremente e o pedestre subiria? Se for assim, não seriam boas idéias em definitivo. Seria um urbanismo do início do século XX já há muito ultrapassado em suas concepções.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Educação abandonada

Os resultados do Enem mostraram a triste realidade do ensino no Estado do Rio. As escolas publicas do ensino secundário estão com os piores resultados, e elas são da responsabilidade do governo estadual. Tirando o CAP-UERJ que ficou em 4º lugar, a primeira escola pública a aparecer no ranking fluminense encontra-se em 122º lugar. A seguinte esta em 161º lugar e ai aparecem algumas pingadas na sequência. A partir do 301º lugar, as estaduais dominam completamente a triste lista.
Como não pensar que o governo estadual (não só este, mas também os anteriores) está condenando os jovens mais pobres a já entrarem derrotados nos vestibulares da vida? Isto é um crime contra nossa juventude!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Desenvolvimento?


Os governantes do Estado do Rio de Janeiro vem se gabando do esforço que fazem para trazerem desenvolvimento para cá. Nos últimos anos vimos o surgimento de novos portos, como o de Sepetiba e o do Açu, a construção de refinarias de petróleo, como o Comperj, a construção de siderúrgicas em Sepetiba, como a Atlântico Sul e a reabertura de estaleiros. Se tais investimentos trazem algum retorno, é urgente o questionamento sobre que tipo de desenvolvimento é este. Será que queremos que o Estado do Rio baseie seu desenvolvimento em setores da indústria que são altamente poluentes? Quais os benefícios de transformar o Estado do Rio num similar de países do Leste europeu pré queda do muro? Não seria melhor que buscássemos investimentos limpos baseados no uso intensivo de tecnologia e inteligência de nossos profissionais? Não deveríamos buscar um desenvolvimento pós industrial?

domingo, 13 de junho de 2010

A arquitetura e engenharia públicas


A engenharia e a arquitetura públicas já tiveram momentos importantes no Rio de Janeiro. O Conjunto Habitacional do Pedregulho foi projetado por um servidor público, assim como a realização do Parque do Flamengo. A Sursan era composta por profissionais altamente qualificados que fizeram obras importantíssimas para a cidade. No entanto, há muitos anos que o quadro de engenheiros e arquitetos do Estado do Rio vem definhando. Os poucos profissionais que resistem se encontram desmotivados pelos baixíssimos salários. Cada vez mais pessoas se aposentam e os poucos concursos realizados não conseguem segurar os aprovados, já que o salário inicial é de apenas R$ 2.000,00. Nas obras do PAC os engenheiros e arquitetos do Estado trabalham lado a lado com colegas do município e do governo federal que ganham bem mais. Isto é absolutamente injusto.
O governo investe claramente na terceirização dos serviços. Empresas de engenharia terceirizadas têm sido responsáveis por projetos e mesmo por fiscalização da execução de obras, uma tarefa que só deveria ser exercida por funcionários comprometidos com a probidade do serviço público. Mas este é um caminho que deixa o Estado desarmado, sem capacidade de planejar e projetar. Ao fim dos contratos com tais empresas, fica o vazio, a falta de conhecimento adquirido no seio do Estado. Tal caminho jamais trará o desenvolvimento de que o Estado do Rio tanto precisa.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Café no parque


A Prefeitura anunciou que o Jardim de Alá será revitalizado e que ganhará um café. É motivo de alegria essa perspectiva mas, nos últimos anos, isto já foi noticiado diversas vezes. Cafés em parques têm sido ultra recorrentes. Já anunciaram na Praça Paris, na Amurada da Gloria, no Passeio Público e no Jardim de Alá. Anunciar projetos é o esporte preferido das autoridades. O problema é que os jornais (e os jornalistas) noticiam como se fossem verdades projetos que raramente serão realizados. Mais tarde, quando constatada a não realização, o bônus da notícia já terá sido capitalizado. Assim, as páginas de jornais vão servindo a esse jogo que se utiliza de nossa esperança numa cidade melhor.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Outros arquitetos III


Quando se busca a história da atuação desses arquitetos no Brasil, encontra-se os nomes de outros arquitetos também estrangeiros com os quais colaboraram. É como se chegados a um novo país, buscassem associar-se a quem estivesse em condições semelhantes. Gire trabalhou com Robert Prentice, arquiteto escocês, no projeto do Edifício Sul América. Prentice projetou obras tão distintas, como a Estação Barão de Mauá (Leopoldina) à Estação Central do Brasil e o Edifício da Esso. Com o austríaco Anton Floderer, trabalhou em diversos projetos, entre os quais o do Elevador Lacerda em Salvador. Neste projeto, esteve, também, o arquiteto húngaro, formado em Viena, Adalberto Szilard. Floderer trabalhou ainda com o alemão Alexander Buddeüs, com quem projetou o prédio do Rio Cricket Club em Niterói. Buddeüs foi responsável pelo Instituto de Cacau da Bahia.
Já Alexandre Altberg, arquiteto berlinense, teve razões fortíssimas para vir para o Brasil, já que fugia da perseguição aos judeus. Aqui construiu casas e apartamentos e fundou a revista Base.
Um caso ligeiramente diferente é o de Jacques Pilon, francês que cresceu no Brasil, já que seu pai veio para cá trabalhar. Mas sua formação se deu na França.

sábado, 5 de junho de 2010

Outros arquitetos II


Henri Sajous, que projetou o Edifîcio Biarritz na Praia do Flamengo, a Igreja da Santíssima Trindade na Rua Senador Vergueiro, o prédio da Mesbla e o Palácio do Comércio no Centro, veio convidado pela iniciativa privada em 1930, para trabalhar no projeto do balneário de São Lourenço em Minas Gerais. Com ele, veio o também francês Auguste Rendu. Acabou ficando mais tempo, tendo realizado projetos também em São Paulo.
O italiano Mario Vodret, do Instituto Profissionalizante de Roma, projetou em meados da década de 20 o Grande Templo Israelita, no Centro. Posteriormente, foi convidado a projetar o Solar Henrique Laje, atual sede da Escola de Artes Visuais, e o Edifício Seabra na Praia do Flamengo, para o comendador português Gervásio Seabra.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Outros arquitetos I


No século XX, por diferentes razões, muitos arquitetos de outros países vieram trabalhar no Brasil. Alguns vinham em busca de oportunidades. Um dos primeiros a chegar no século XX foi o italiano Antonio Virzi. Joseph Gire, arquiteto francês que projetou o Copacabana Palace, o Hotel Glória e, juntamente com Elisário da Cunha Bahiana projetou o edifício A Noite, quando veio para ao Brasil já tinha uma carreira importante, tendo sido sócio a partir de 1900 do Gabinete de Arquitetura Lucien et Henri Grandpierre.
Outros eram convidados. Havia um interesse em buscar no exterior, principalmente na Europa, a contribuição de arquitetos e urbanistas. Houve convites por parte dos governos, como é o caso de Alfred Agache que foi contratado em 1927 para realizar o Plano Diretor da cidade. Pouco tempo depois, Le Corbusier veio dar palestras na cidade, que resultaram no convite para orientar a equipe responsável pela futura sede do MEC.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Outras arquiteturas

Futura sede do Museu da Imagem e do Som no Rio



O Rio de Janeiro poderá vir a contar com projetos realizados por alguns arquitetos de outros países, o que é muito positivo desde que a escolha seja por concurso público. Este é o caso por exemplo do projeto para a futura sede do MIS. O concurso teve a participação dos escritórios brasileiros Isay Weinfeld, Bernardes & Jacobsen, Tacoa Arquitetos e Brasil Arquitetura e também dos escritórios de Daniel Libeskind e Shigeru Ban. O escritório Diller & Scofidio + Renfro, dos americanos Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio foi o vencedor. O custo calculado para a obra é de R$ 65 milhões e tem conclusão prevista para 2012. A Cidade da Música, de Christian de Portzamparc, infelizmente ainda inacabada, será mais uma bela contribuição ao acervo arquitetônico da cidade.
Um outro projeto que poderá vir a ser executado é o Museu do Amanhã, no Pier Mauá. O arquiteto convidado é Santiago Calatrava. Mas nunca se sabe se o mesmo será erguido, pois para aquela área já foram projetadas edificações por Jean Nouvel, Índio da Costa, e muitos outros que não as viram executadas.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fechamento da Avenida Rio Branco


A Prefeitura anuncia que em junho irá iniciar a experiência de restrição ao tráfego de veículos na Avenida Rio Branco. Segundo divulgado, a idéia é transformá-la em uma via prioritária para pedestres. O exemplo parece ser o que se fez em Nova Iorque na área de Times Square. Restrições ao tráfego em avenidas do Centro são bem vindas. Talvez o alvo devesse ser a Rua Primeiro de Março, via que congrega alguns dos principais monumentos arquitetônicos da cidade, os quais sofrem com os efeitos da poluição. Na Rio Branco, um grande problema para os pedestres atualmente é a dimensão e posicionamento das bancas de jornais, que impedem o seu livre trânsito. O Prefeito Conde chegou a decretar que fossem retiradas para as ruas laterais mas, por razões eleitorais, voltou atrás. Curiosamente o projeto atual já vem acompanhado das sempre presentes garagens subterrâneas, o que é um contrassenso. É o poder público garantindo a perpetuação do tráfego de veículos motorizados. E isto não tem nada a ver com as pretensas razões ambientais anunciadas.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

Convite

Apresentação técnica do processo de restauro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Dia 25 de maio, terça-feira, 15h, no 11 andar do Efificio Lucio Costa. Rua da Ajuda 05 - Centro (metro Carioca).



sábado, 8 de maio de 2010

Licitação de linhas de ônibus

Depois de algumas tentativas e voltas atrás, a Prefeitura do Rio deverá realizar a licitação das linhas de ônibus da cidade. Seu papel de poder concedente deverá enfim se efetivar. No entanto, há algo preocupante: caberá às próprias empresas a formulação de propostas técnicas visando racionalizar o sistema. O que isto significará e em que medida o poder concedente estará se eximindo de suas responsabilidades é algo a se verificar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Reversão de paradigma na Rua do Lavradio

Rua do Lavradio (Coluna Ancelmo Goes)

O processo de Requalificação pelo qual passou o Centro do Rio de Janeiro na década de 1990 gerou uma série de ações que visavam valorizar o espaço dos pedestres, num novo paradigma de intervenção urbanística. Em 1992, a Rua do Lavradio contava com um recém construído terminal de ônibus para 09 linhas. Havia a previsão de complementação do terminal com a abertura da parte não implantada do P.A. da Rua Silva Jardim. Ali seria, então, construída a extensão do terminal de ônibus, com capacidade para mais 20 linhas. Naquele mesmo ano, um estudo da Secretaria Municipal de Fazenda, que buscava assentar os ambulantes espalhados pelas ruas do Centro, destinou 138 barracas de ambulantes para a Rua do Lavradio. No entanto, numa mudança de perspectiva, o projeto de recuperação daquela rua, cuja obra iniciou-se em 1999, retirou as linhas de ônibus ali anteriormente existentes, destinou as áreas remanescentes para a implantação de três pequenas praças e não previu qualquer espaço para os ambulantes. Agora, uma década depois, a implantação de uma baia de ônibus através da destruição da obra de reurbanização já realizada e da retirada de árvores já crescidas, sem consulta aos usuários da rua, parece trazer o passado de volta.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A Câmara se muda

Cartão postal (montagem) Cinelândia e o Zepelin

Há algum tempo vem se falando na mudança da Câmara de Vereadores para a Área Portuária. Hoje na Cinelândia, ela dá algum sentido ao fato de que a grande maioria das manifestações políticas na cidade ali ocorram. Sua presença na área mais dinâmica da cidade é também alguma garantia de que o trabalho dos vereadores seja acompanhado pela população. A ida da Câmara para a Área Portuária, vendida como um ato de revitalização daquela área, na verdade poderá afastar dos olhos da população o que ali se passa. E deverá transformar a praça cívica em uma mera praça museológica.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bairro Carioca

conjunto habitacional Indayassu

A Prefeitura do Rio apresentou no dia 20/04/2010 o projeto "Bairro Carioca", em Triagem, que deverá ter 3.400 unidades destinadas às famílias desabrigadas pelas chuvas. O terreno tem 124 mil metros quadrados e nele serão erguidos 170 prédios de cinco pavimentos cada. O novo bairro representará um investimento de R$ 200 milhões. Lá também funcionarão três escolas, duas creches e um posto de policiamento comunitário. O empreendimento será erguido na Rua Bérgamo, próximo ao Viaduto Ana Néri. Estima-se que abrigará 13.600 pessoas, o que é, sem dúvida, uma concentração expressiva de pessoas de baixa renda numa área até certo ponto reduzida. Da mesma forma, a área do antigo Presídio da Frei Caneca, no Catumbi, irá receber outros milhares de desabrigados das chuvas. Ela fica numa área da cidade depauperada, onde já há muitas famílias de classe média baixa habitando. O equívoco destes empreendimentos é a não mistura de classes sociais diferenciadas e mesmo de atividades, como comércio e habitação. O exemplo da Cruzada São Sebastião no Leblon indica que um efeito de "guetização" é muito provável, o que termina deteriorando áreas mais extensas que as dos próprios empreendimentos. Definitivamente não é a melhor das idéias urbanísticas.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nó evangélico no trânsito

Praia de Botafogo - Agência O Globo

Em 2007, no evento "Dia da Decisão", a Igreja Universal do Reino de Deus reuniu 1,9 milhão de pessoas na Praia de Botafogo, provocando um verdadeiro nó no trânsito da cidade. Muitos moradores protestaram e o Prefeito de então se desculpou. Em fevereiro de 2008 o evento de música gospel da Igreja Internacional da Graça de Deus, também na Praia de Botafogo, trouxe 2,5 mil ônibus para os arredores daquela área, novamente provocando enormes problemas no trânsito. Agora, em abril de 2010, o mesmo fato se repete, com 1 milhão de pessoas na Praia de Botafogo, trânsito bloqueado em diversos pontos da cidade, pessoas presas nos engarrafamentos, e o Prefeito pedindo desculpas à população e prometendo que isto não mais ocorrerá. Em ano de eleições... ninguém se lembra do que ocorreu no passado e a conveniência de agradar aos pastores parece falar mais alto...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os Correios e Jesus

O recibo de encomendas via Sedex está vindo com o seguinte texto: "Só Jesus cura, salva e liberta". Tudo muito bom se os Correios não fossem propriedade do Estado brasileiro que, pela Constituição, é laico. Na verdade, vimos assistindo a diversas manifestações religiosas em espaços do Estado brasileiro. Assim é com a frase "Deus seja louvado" incluída por Sarney em nosso dinheiro e pelo crucifixo que ornamenta o salão da Câmara dos Deputados. Nada contra se fossem espaços privados. Como são espaços públicos e estatais, tais manifestações são absolutamente impróprias.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Niemeyer não foi à Lapa


Um pequeno caso sobre Oscar Niemeyer. Certa vez acompanhei o arquiteto Jorge Czajkowski ao escritório daquele arquiteto. O então Vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, Luis Paulo Conde, desejava construir uma nova sede para o Museu Carmen Miranda e havia tido uma idéia recorrente em diversos outros governos: convidar Oscar Niemeyer, uma vez que seu notório saber e sua figura ímpar dispensavam, no modo de pensar dos políticos, uma licitação. O prédio seria construído em um terreno na Lapa, onde uma série de normas limitavam o gabarito da futura edificação e as próprias dimensões do terreno a definiam como algo similar a um cubo. Niemeyer nos recebeu com a sua propalada cordialidade, nos contou sobre seu recente interesse pela filosofia e sobre o grupo de estudos que vinha organizando em seu escritório. Ao final, disse candidamente que o Governo do Estado, por favor, escolhesse outro arquiteto, já que ele não sabia projetar com aquelas limitações. Lembrei-me da Obra do Berço e pensei em toda uma carreira que existiu após aquela obra.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Drenagem não-Sustentável

Uma semana depois das enchentes no Rio de Janeiro, o Prefeito Eduardo Paes alterou o Decreto n. 23.940, de 30 de janeiro de 2004, que obrigava novos imóveis de grande porte a construírem um reservatório para o armazenamento de águas pluviais, os reservatórios de retardo. Segundo aquele decreto, os imóveis com mais de 500 metros quadrados de área impermeabilizada (revestida com materiais impermeáveis, como cimento) só receberiam a licença de habite-se caso construíssem tais depósitos. Prédios com mais de 50 unidades também deviam se adaptar à nova regra. O objetivo era o de retardar o escoamento da água das chuvas para a rede de drenagem da cidade e estimular o uso dessas águas para a rega de jardins e ou outras atividades que não necessitassem de água tratada. Esta havia sido uma pequena grande conquista no sentido de adequar a cidade a condições cada vez mais adversas de chuvas torrenciais, em função dos efeitos futuros do aquecimento global e de tornar as edificações um pouco mais ambientalmente sustentáveis.

No entanto, de acordo com o Decreto nº 32119, de 13 de abril de 2010, agora ficam desobrigados dessa exigência os empreendimento que deságuem diretamente em lagoas ou no oceano e aqueles que deságuem em rede de drenagem que prossiga até o deságüe final em lagoas ou no oceano. Ou seja, uma enorme quantidade de empreendimentos estarão fora das exigências do decreto anterior e voltarão a pressionar a capacidade de vazão dos cursos d'água da cidade. A quem isto pode interessar?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ministro Miguel Jorge presenteia camisa da seleção brasileira

A camisa da seleção brasileira é um patrimônio do povo brasileiro, que alcançou um valor inestimável, sendo amada por pessoas nos quatro cantos do mundo. O governo brasileiro não tem o direito de usá-la de forma inescrupulosa, presenteando-a a Ahmadinejad, um governante que venceu uma eleição fraudada e que persegue e prende seus opositores, quando não os enforca com exposição pública de seus corpos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Travessa dos Poetas da Calçada

A Travessa dos Poetas da Calçada está situada entre as ruas 13 de Maio e Senador Dantas. Até os anos 90, aquela travessa era coberta por uma laje, a qual se deteriorou e necessitou ser escorada, tendo ficado assim por vários anos. Havia duvidas sobre se a mesma seria privada (se o fosse, pertenceria ao edifício vizinho ao edifício Darke) ou não. Naquele momento, o Subprefeito do Centro era o arquiteto Augusto Ivan, com quem tive o prazer de trabalhar. Ele propôs uma parceria ao edifício, na qual o mesmo demoliria a laje e a Prefeitura reurbanizaria a travessa. Tive a oportunidade de participar desse projeto que, em função dos poucos recursos, era bastante simples.

Durante a obra, um grupo de compositores, vários deles já idosos, procurou a Subprefeitura e informou que se reuniam na Rua 13 de Maio, perto de onde havia uma gravadora. Ali buscavam incluir suas músicas nos discos que seriam gravados, imagino que inclusive com o recurso à venda da autoria das mesmas. Um vereador havia conseguido aprovar um projeto que os homenageava, criando um monumento aos poetas da calçada e, se não me engano, alterando o nome de parte da Rua 13 de Maio. Conciliador, o Subprefeito propôs que a homenagem fosse transferida para a travessa que, naquele momento estava sendo reurbanizada, e assim foi feito.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Fonte Adriano Ramos Pinto



A respeito da fonte Adriano Ramos Pinto, Carlos Henrique Brack colocou um post em seu blog, que contou com um comentario de uma guia da Cave Ramos Pinto: http://rio-curioso.blogspot.com:80/2007/10/fonte-adriano-ramos-pinto.html

domingo, 11 de abril de 2010

Monumentos Cariocas...

Passeio Público (foto do autor)
Apesar de toda a riqueza do Patrimônio carioca, as diversas administrações da cidade não vêm tendo uma real compreensão da necessidade de sua preservação. Na prática o que se vê é um enorme abandono dos bens que o compõem. Durante muitos anos, os chafarizes do período colonial ficaram sem qualquer manutenção e só recentemente houve a restauração do Chafariz da Glória, pelo Iphan. Em geral, os monumentos estão pichados, muitas peças vêm sendo furtadas e alguns, como a Fonte (Adriano) Ramos Pinto na entrada do Túnel Novo, estão quebrados e invadidos por população de rua. Os monumentos em ferro fundido, em geral, encontram-se abandonados e pouco a pouco vão desaparecendo pela ação de pessoas inescrupulosas que furtam suas peças. No monumento a Osório, na Praça XV, até mesmo um portão de sua grade foi furtado. A Murada da Glória teve partes de sua balaustrada furtada e, mesmo com reposições periódicas, não cessa o vandalismo. Recentemente, o mesmo ocorreu com a balaustrada do jardim do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista.
Durante muito tempo, o Passeio Público foi tão abandonado, que quase chegou ao ponto de não retorno. O medalhão de sua entrada havia sido retirado, o menino aguadeiro teve seus braços serrados, partes metálicas das fontes desapareceram, a balaustrada fundida pelo Mestre Valentim foi quebrada a marretadas para ser furtada, e bustos de personalidades foram levadas. Apenas depois de muita pressão da imprensa e da população a Prefeitura decidiu agir. Em 2004, uma restauração extremamente cuidadosa e ampla consumiu doze meses de trabalho ao custo de R$ 1,8 milhão. Passados apenas alguns anos, o Passeio Público se encontra novamente em perigo, já que não há guardas em seu interior e a população de rua ali já vem se reinstalando. Isto afasta outros usuários e deixa o parque à mercê de novas ações de vandalismo. É um grave problema de governança que coloca em cheque até mesmo a existência desse espaço público.

sábado, 10 de abril de 2010

Morar em encostas

Projeto Morrinho no Pereirão (foto do autor)
As chuvas de abril trouxeram de volta o pesadelo dos desmoronamentos, e pior, com enormes perdas de vidas. Tudo isto poderia ser evitado, se houvesse políticas habitacionais sérias. Com relação às habitações em encostas, há que se pensar em soluções efetivas e elas não são fáceis. Claro que as habitações em áreas de risco precisam ser retiradas com urgência. Mas, objetivamente, não há recursos para uma desfavelização completa. Pelo menos a curto e médio prazo. Alem do mais, é preciso ter cuidado quando se fala desse tema para não se deixar levar por preconceitos.
Historicamente, os poderes públicos não investiram em habitação popular. Os conjuntos habitacionais existentes (aliás muito ruins de se morar e longe de tudo) cobrem uma parcela ínfima da demanda por habitação popular. Na verdade, sempre houve um acordo tácito entre o setor produtivo e os governos. Não se inclui o valor da moradia nos salários e o poder publico faz vista grossa às ocupações. Durante décadas foi assim e funcionou para a acumulação de capital tornar-se mais fácil. Agora vemos que foi erradíssimo e os problemas se acumularam.
Como resolver? Inicialmente não se pode ignorar que apesar das péssimas condições de vida, as favelas representam a economia popular. Os moradores colocaram seus tostões na construção dos barracos. De mais a mais, eles estabeleceram relações com os locais onde vivem e com os vizinhos, criando culturas locais, que se tornaram importantes para as cidades. Ou não? Mangueira, teu cenário é uma beleza..., não é o que se canta?
Programas de urbanização de favelas, como o Favela-bairro, reconhecem esta realidade. E é possível se criar boas, ou razoáveis condições em certas favelas. Já a desfavelização forçada do período Lacerda e Negrão de Lima foi algo chocante, brutal. E irracional, já que as pessoas foram levadas para locais longínquos, onde não havia meios de transporte, oferta de trabalho, saneamento, etc. Não se quer isso de volta. O problema é que as chuvas vêm dando munição a uma corrente que defende remoções pura e simples. E o prefeito Eduardo Paes já vem falando em remoções e atacando os "demagogos de plantão". Em suma: o que se quer é o bem estar dessas famílias, mas há maneiras e maneiras de se ver e tratar o problema. Devemos ser contra novas ocupações de áreas florestadas em encostas, seja de famílias pobres ou ricas. E não devemos nos esquecer que quando falamos de favelados, estamos falando de pessoas pobres que buscaram resolver de forma errada uma iniquidade social, que é a falta de renda e de amparo por parte dos governos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fortes chuvas no Rio

charge: Amarildo
Abril chegou com fortes chuvas no Rio. E as consequências, infelizmente são velhas conhecidas: inundações, caos no trânsito, pessoas sem poder voltar para casa, desabamentos em encostas, mortes. Mas desta vez morreram muito mais pessoas e isto é grave!
Como abordar este tema? É preciso trazer a discussão para o campo ambiental. A ocupação desordenada das encostas é contra a preservação do meio ambiente. As vias impermeabilizadas também, já que impedem o fechamento do ciclo das águas. E as soluções, então, devem ser ambientais. Insistir em soluções de engenharia tradicional não vai resolver o problema. Não adianta coletar todas as águas pluviais para levá-las a quilômetros de distância até um curso d'água. É preciso fazê-las se infiltrarem nos solos. E isto é possível, por exemplo, com a criação de áreas de acumulação de águas em momentos chuvosos. Essas áreas podem servir ao lazer em momentos secos e não têm nada a ver com os piscinões subterrâneos que os prefeitos adoram. Deve-se aumentar, também, o estimulo à retenção de água da chuva nos imóveis, para posterior reaproveitamento. O Rio já tem uma lei a respeito voltada para as novas construções. Mas talvez possa haver incentivos para que os imóveis antigos se adequem.
Alem disso, é preciso insistir na noção de cidade compacta, onde a maior densidade permita bons serviços, como infraestrutura de saneamento. Estender a cidade indefinidamente para a Zona Oeste é um erro terrível! Enfim, existem propostas para isto e está na hora de explicitá-las com clareza.