sexta-feira, 30 de abril de 2010

Reversão de paradigma na Rua do Lavradio

Rua do Lavradio (Coluna Ancelmo Goes)

O processo de Requalificação pelo qual passou o Centro do Rio de Janeiro na década de 1990 gerou uma série de ações que visavam valorizar o espaço dos pedestres, num novo paradigma de intervenção urbanística. Em 1992, a Rua do Lavradio contava com um recém construído terminal de ônibus para 09 linhas. Havia a previsão de complementação do terminal com a abertura da parte não implantada do P.A. da Rua Silva Jardim. Ali seria, então, construída a extensão do terminal de ônibus, com capacidade para mais 20 linhas. Naquele mesmo ano, um estudo da Secretaria Municipal de Fazenda, que buscava assentar os ambulantes espalhados pelas ruas do Centro, destinou 138 barracas de ambulantes para a Rua do Lavradio. No entanto, numa mudança de perspectiva, o projeto de recuperação daquela rua, cuja obra iniciou-se em 1999, retirou as linhas de ônibus ali anteriormente existentes, destinou as áreas remanescentes para a implantação de três pequenas praças e não previu qualquer espaço para os ambulantes. Agora, uma década depois, a implantação de uma baia de ônibus através da destruição da obra de reurbanização já realizada e da retirada de árvores já crescidas, sem consulta aos usuários da rua, parece trazer o passado de volta.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A Câmara se muda

Cartão postal (montagem) Cinelândia e o Zepelin

Há algum tempo vem se falando na mudança da Câmara de Vereadores para a Área Portuária. Hoje na Cinelândia, ela dá algum sentido ao fato de que a grande maioria das manifestações políticas na cidade ali ocorram. Sua presença na área mais dinâmica da cidade é também alguma garantia de que o trabalho dos vereadores seja acompanhado pela população. A ida da Câmara para a Área Portuária, vendida como um ato de revitalização daquela área, na verdade poderá afastar dos olhos da população o que ali se passa. E deverá transformar a praça cívica em uma mera praça museológica.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bairro Carioca

conjunto habitacional Indayassu

A Prefeitura do Rio apresentou no dia 20/04/2010 o projeto "Bairro Carioca", em Triagem, que deverá ter 3.400 unidades destinadas às famílias desabrigadas pelas chuvas. O terreno tem 124 mil metros quadrados e nele serão erguidos 170 prédios de cinco pavimentos cada. O novo bairro representará um investimento de R$ 200 milhões. Lá também funcionarão três escolas, duas creches e um posto de policiamento comunitário. O empreendimento será erguido na Rua Bérgamo, próximo ao Viaduto Ana Néri. Estima-se que abrigará 13.600 pessoas, o que é, sem dúvida, uma concentração expressiva de pessoas de baixa renda numa área até certo ponto reduzida. Da mesma forma, a área do antigo Presídio da Frei Caneca, no Catumbi, irá receber outros milhares de desabrigados das chuvas. Ela fica numa área da cidade depauperada, onde já há muitas famílias de classe média baixa habitando. O equívoco destes empreendimentos é a não mistura de classes sociais diferenciadas e mesmo de atividades, como comércio e habitação. O exemplo da Cruzada São Sebastião no Leblon indica que um efeito de "guetização" é muito provável, o que termina deteriorando áreas mais extensas que as dos próprios empreendimentos. Definitivamente não é a melhor das idéias urbanísticas.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nó evangélico no trânsito

Praia de Botafogo - Agência O Globo

Em 2007, no evento "Dia da Decisão", a Igreja Universal do Reino de Deus reuniu 1,9 milhão de pessoas na Praia de Botafogo, provocando um verdadeiro nó no trânsito da cidade. Muitos moradores protestaram e o Prefeito de então se desculpou. Em fevereiro de 2008 o evento de música gospel da Igreja Internacional da Graça de Deus, também na Praia de Botafogo, trouxe 2,5 mil ônibus para os arredores daquela área, novamente provocando enormes problemas no trânsito. Agora, em abril de 2010, o mesmo fato se repete, com 1 milhão de pessoas na Praia de Botafogo, trânsito bloqueado em diversos pontos da cidade, pessoas presas nos engarrafamentos, e o Prefeito pedindo desculpas à população e prometendo que isto não mais ocorrerá. Em ano de eleições... ninguém se lembra do que ocorreu no passado e a conveniência de agradar aos pastores parece falar mais alto...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os Correios e Jesus

O recibo de encomendas via Sedex está vindo com o seguinte texto: "Só Jesus cura, salva e liberta". Tudo muito bom se os Correios não fossem propriedade do Estado brasileiro que, pela Constituição, é laico. Na verdade, vimos assistindo a diversas manifestações religiosas em espaços do Estado brasileiro. Assim é com a frase "Deus seja louvado" incluída por Sarney em nosso dinheiro e pelo crucifixo que ornamenta o salão da Câmara dos Deputados. Nada contra se fossem espaços privados. Como são espaços públicos e estatais, tais manifestações são absolutamente impróprias.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Niemeyer não foi à Lapa


Um pequeno caso sobre Oscar Niemeyer. Certa vez acompanhei o arquiteto Jorge Czajkowski ao escritório daquele arquiteto. O então Vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, Luis Paulo Conde, desejava construir uma nova sede para o Museu Carmen Miranda e havia tido uma idéia recorrente em diversos outros governos: convidar Oscar Niemeyer, uma vez que seu notório saber e sua figura ímpar dispensavam, no modo de pensar dos políticos, uma licitação. O prédio seria construído em um terreno na Lapa, onde uma série de normas limitavam o gabarito da futura edificação e as próprias dimensões do terreno a definiam como algo similar a um cubo. Niemeyer nos recebeu com a sua propalada cordialidade, nos contou sobre seu recente interesse pela filosofia e sobre o grupo de estudos que vinha organizando em seu escritório. Ao final, disse candidamente que o Governo do Estado, por favor, escolhesse outro arquiteto, já que ele não sabia projetar com aquelas limitações. Lembrei-me da Obra do Berço e pensei em toda uma carreira que existiu após aquela obra.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Drenagem não-Sustentável

Uma semana depois das enchentes no Rio de Janeiro, o Prefeito Eduardo Paes alterou o Decreto n. 23.940, de 30 de janeiro de 2004, que obrigava novos imóveis de grande porte a construírem um reservatório para o armazenamento de águas pluviais, os reservatórios de retardo. Segundo aquele decreto, os imóveis com mais de 500 metros quadrados de área impermeabilizada (revestida com materiais impermeáveis, como cimento) só receberiam a licença de habite-se caso construíssem tais depósitos. Prédios com mais de 50 unidades também deviam se adaptar à nova regra. O objetivo era o de retardar o escoamento da água das chuvas para a rede de drenagem da cidade e estimular o uso dessas águas para a rega de jardins e ou outras atividades que não necessitassem de água tratada. Esta havia sido uma pequena grande conquista no sentido de adequar a cidade a condições cada vez mais adversas de chuvas torrenciais, em função dos efeitos futuros do aquecimento global e de tornar as edificações um pouco mais ambientalmente sustentáveis.

No entanto, de acordo com o Decreto nº 32119, de 13 de abril de 2010, agora ficam desobrigados dessa exigência os empreendimento que deságuem diretamente em lagoas ou no oceano e aqueles que deságuem em rede de drenagem que prossiga até o deságüe final em lagoas ou no oceano. Ou seja, uma enorme quantidade de empreendimentos estarão fora das exigências do decreto anterior e voltarão a pressionar a capacidade de vazão dos cursos d'água da cidade. A quem isto pode interessar?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ministro Miguel Jorge presenteia camisa da seleção brasileira

A camisa da seleção brasileira é um patrimônio do povo brasileiro, que alcançou um valor inestimável, sendo amada por pessoas nos quatro cantos do mundo. O governo brasileiro não tem o direito de usá-la de forma inescrupulosa, presenteando-a a Ahmadinejad, um governante que venceu uma eleição fraudada e que persegue e prende seus opositores, quando não os enforca com exposição pública de seus corpos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Travessa dos Poetas da Calçada

A Travessa dos Poetas da Calçada está situada entre as ruas 13 de Maio e Senador Dantas. Até os anos 90, aquela travessa era coberta por uma laje, a qual se deteriorou e necessitou ser escorada, tendo ficado assim por vários anos. Havia duvidas sobre se a mesma seria privada (se o fosse, pertenceria ao edifício vizinho ao edifício Darke) ou não. Naquele momento, o Subprefeito do Centro era o arquiteto Augusto Ivan, com quem tive o prazer de trabalhar. Ele propôs uma parceria ao edifício, na qual o mesmo demoliria a laje e a Prefeitura reurbanizaria a travessa. Tive a oportunidade de participar desse projeto que, em função dos poucos recursos, era bastante simples.

Durante a obra, um grupo de compositores, vários deles já idosos, procurou a Subprefeitura e informou que se reuniam na Rua 13 de Maio, perto de onde havia uma gravadora. Ali buscavam incluir suas músicas nos discos que seriam gravados, imagino que inclusive com o recurso à venda da autoria das mesmas. Um vereador havia conseguido aprovar um projeto que os homenageava, criando um monumento aos poetas da calçada e, se não me engano, alterando o nome de parte da Rua 13 de Maio. Conciliador, o Subprefeito propôs que a homenagem fosse transferida para a travessa que, naquele momento estava sendo reurbanizada, e assim foi feito.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Fonte Adriano Ramos Pinto



A respeito da fonte Adriano Ramos Pinto, Carlos Henrique Brack colocou um post em seu blog, que contou com um comentario de uma guia da Cave Ramos Pinto: http://rio-curioso.blogspot.com:80/2007/10/fonte-adriano-ramos-pinto.html

domingo, 11 de abril de 2010

Monumentos Cariocas...

Passeio Público (foto do autor)
Apesar de toda a riqueza do Patrimônio carioca, as diversas administrações da cidade não vêm tendo uma real compreensão da necessidade de sua preservação. Na prática o que se vê é um enorme abandono dos bens que o compõem. Durante muitos anos, os chafarizes do período colonial ficaram sem qualquer manutenção e só recentemente houve a restauração do Chafariz da Glória, pelo Iphan. Em geral, os monumentos estão pichados, muitas peças vêm sendo furtadas e alguns, como a Fonte (Adriano) Ramos Pinto na entrada do Túnel Novo, estão quebrados e invadidos por população de rua. Os monumentos em ferro fundido, em geral, encontram-se abandonados e pouco a pouco vão desaparecendo pela ação de pessoas inescrupulosas que furtam suas peças. No monumento a Osório, na Praça XV, até mesmo um portão de sua grade foi furtado. A Murada da Glória teve partes de sua balaustrada furtada e, mesmo com reposições periódicas, não cessa o vandalismo. Recentemente, o mesmo ocorreu com a balaustrada do jardim do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista.
Durante muito tempo, o Passeio Público foi tão abandonado, que quase chegou ao ponto de não retorno. O medalhão de sua entrada havia sido retirado, o menino aguadeiro teve seus braços serrados, partes metálicas das fontes desapareceram, a balaustrada fundida pelo Mestre Valentim foi quebrada a marretadas para ser furtada, e bustos de personalidades foram levadas. Apenas depois de muita pressão da imprensa e da população a Prefeitura decidiu agir. Em 2004, uma restauração extremamente cuidadosa e ampla consumiu doze meses de trabalho ao custo de R$ 1,8 milhão. Passados apenas alguns anos, o Passeio Público se encontra novamente em perigo, já que não há guardas em seu interior e a população de rua ali já vem se reinstalando. Isto afasta outros usuários e deixa o parque à mercê de novas ações de vandalismo. É um grave problema de governança que coloca em cheque até mesmo a existência desse espaço público.

sábado, 10 de abril de 2010

Morar em encostas

Projeto Morrinho no Pereirão (foto do autor)
As chuvas de abril trouxeram de volta o pesadelo dos desmoronamentos, e pior, com enormes perdas de vidas. Tudo isto poderia ser evitado, se houvesse políticas habitacionais sérias. Com relação às habitações em encostas, há que se pensar em soluções efetivas e elas não são fáceis. Claro que as habitações em áreas de risco precisam ser retiradas com urgência. Mas, objetivamente, não há recursos para uma desfavelização completa. Pelo menos a curto e médio prazo. Alem do mais, é preciso ter cuidado quando se fala desse tema para não se deixar levar por preconceitos.
Historicamente, os poderes públicos não investiram em habitação popular. Os conjuntos habitacionais existentes (aliás muito ruins de se morar e longe de tudo) cobrem uma parcela ínfima da demanda por habitação popular. Na verdade, sempre houve um acordo tácito entre o setor produtivo e os governos. Não se inclui o valor da moradia nos salários e o poder publico faz vista grossa às ocupações. Durante décadas foi assim e funcionou para a acumulação de capital tornar-se mais fácil. Agora vemos que foi erradíssimo e os problemas se acumularam.
Como resolver? Inicialmente não se pode ignorar que apesar das péssimas condições de vida, as favelas representam a economia popular. Os moradores colocaram seus tostões na construção dos barracos. De mais a mais, eles estabeleceram relações com os locais onde vivem e com os vizinhos, criando culturas locais, que se tornaram importantes para as cidades. Ou não? Mangueira, teu cenário é uma beleza..., não é o que se canta?
Programas de urbanização de favelas, como o Favela-bairro, reconhecem esta realidade. E é possível se criar boas, ou razoáveis condições em certas favelas. Já a desfavelização forçada do período Lacerda e Negrão de Lima foi algo chocante, brutal. E irracional, já que as pessoas foram levadas para locais longínquos, onde não havia meios de transporte, oferta de trabalho, saneamento, etc. Não se quer isso de volta. O problema é que as chuvas vêm dando munição a uma corrente que defende remoções pura e simples. E o prefeito Eduardo Paes já vem falando em remoções e atacando os "demagogos de plantão". Em suma: o que se quer é o bem estar dessas famílias, mas há maneiras e maneiras de se ver e tratar o problema. Devemos ser contra novas ocupações de áreas florestadas em encostas, seja de famílias pobres ou ricas. E não devemos nos esquecer que quando falamos de favelados, estamos falando de pessoas pobres que buscaram resolver de forma errada uma iniquidade social, que é a falta de renda e de amparo por parte dos governos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fortes chuvas no Rio

charge: Amarildo
Abril chegou com fortes chuvas no Rio. E as consequências, infelizmente são velhas conhecidas: inundações, caos no trânsito, pessoas sem poder voltar para casa, desabamentos em encostas, mortes. Mas desta vez morreram muito mais pessoas e isto é grave!
Como abordar este tema? É preciso trazer a discussão para o campo ambiental. A ocupação desordenada das encostas é contra a preservação do meio ambiente. As vias impermeabilizadas também, já que impedem o fechamento do ciclo das águas. E as soluções, então, devem ser ambientais. Insistir em soluções de engenharia tradicional não vai resolver o problema. Não adianta coletar todas as águas pluviais para levá-las a quilômetros de distância até um curso d'água. É preciso fazê-las se infiltrarem nos solos. E isto é possível, por exemplo, com a criação de áreas de acumulação de águas em momentos chuvosos. Essas áreas podem servir ao lazer em momentos secos e não têm nada a ver com os piscinões subterrâneos que os prefeitos adoram. Deve-se aumentar, também, o estimulo à retenção de água da chuva nos imóveis, para posterior reaproveitamento. O Rio já tem uma lei a respeito voltada para as novas construções. Mas talvez possa haver incentivos para que os imóveis antigos se adequem.
Alem disso, é preciso insistir na noção de cidade compacta, onde a maior densidade permita bons serviços, como infraestrutura de saneamento. Estender a cidade indefinidamente para a Zona Oeste é um erro terrível! Enfim, existem propostas para isto e está na hora de explicitá-las com clareza.