terça-feira, 12 de novembro de 2013

O que Yeb Sano falou à COP19

Yeb Sano, representante das Filipinas

O discurso do representante das Filipinas na COP19 - 19º Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas em Varsóvia  tocou a todos os presentes por vir do representante de um país que acabava de viver uma catástrofe, muito provavelmente, já fruto das alterações climáticas por que passa nosso planeta. O Supertufão Haiyan (ou Yolanda) varreu o território filipino com uma fúria pouco vista matando milhares de pessoas e deixando um sem número de desabrigados. O representante daquele país na COP19 foi pessoalmente tocado, já que membros de sua própria família foram atingidos.   



Discurso à COP19, por Yeb Sano, líder da delegação filipina

Sr. Presidente, tenho a honra de falar em nome do povo resiliente da República das Filipinas.

No início , permita-me que minha delegação endosse plenamente a declaração feita pelo ilustre Embaixador da República de Fiji, em nome do G77 e China , bem como a declaração feita pela Nicarágua, em nome dos países em desenvolvimento com interesses semelhantes.

Em primeiro lugar, o povo das Filipinas, e nossa delegação aqui para a 19a Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas aqui em Varsóvia, do fundo de nossos corações, muito agradecem pela sua expressão de solidariedade para com o meu país em face dessa dificuldade nacional.

Em meio à tragédia, a delegação das Filipinas é consolada pela hospitalidade da Polônia, com o seu povo nos oferecendo sorrisos em todos os lugares que vamos. Os funcionários do hotel e as pessoas nas ruas, voluntários e trabalhadores dentro do Estádio Nacional têm calorosamente nos oferecido palavras amáveis ​​ de apoio. Então, obrigado à Polônia.

Os arranjos que foram feitos para esta COP também são os mais excelentes e nós apreciamos muito o esforço tremendo que vocês puseram nos preparativos para este importante encontro.

Agradecemos também a todos vocês, amigo(a)s e colegas nesta sala e de todos os cantos do mundo, pelo modo como vocês se colocaram ao nosso lado neste momento difícil. Agradeço a todos os países e governos que estenderam a sua solidariedade e ofereceram assistência para as Filipinas. Agradeço aos jovens aqui presentes e aos bilhões de jovens de todo o mundo que estão ao lado da minha delegação e que estão nos assistindo moldar o seu futuro. Agradeço à sociedade civil, tanto os(as) que estão trabalhando em campo, correndo contra o tempo nas áreas mais atingidas, e aquele(a)s que estão aqui em Varsóvia, nos estimulando a ter um sentido de urgência e de ambição. Estamos profundamente comovidos por esta manifestação de solidariedade humana. Esta manifestação de apoio revela-nos que, como raça humana, podemos nos unir, para cuidar daquilo que nos importa como espécie.

Passaram-se apenas 11 meses desde Doha, quando minha delegação apelou ao mundo para abrir os olhos para a dura realidade que enfrentamos, visto que, então, estávamos também diante de uma tempestade catastrófica que resultou na calamidade mais cara da história das Filipinas. Menos de um ano , portanto, não podíamos imaginar que um desastre muito maior viria! Com uma aparente crueldade do destino, o meu país está sendo testado por este inferno chamado Supertufão Haiyan, que foi descrito por especialistas como o mais forte tufão que já atingiu um pedaço de terra no curso da história humana. Era tão forte que, se houvesse uma categoria 6, ele teria sido encaixado imediatamente. Até este momento, continuamos incertos quanto à extensão da devastação , já que a informação nos chega de uma forma dolorosamente lenta, a conta-gotas, porque as linhas de energia elétrica e de comunicação foram cortadas e pode demorar um pouco até que estes sejam restauradas. A avaliação inicial é a de que Haiyan deixou um rastro de destruição em massa que não tem precedentes, impensável e terrível , afetando 2/3 das Filipinas , com cerca de meio milhão de pessoas agora desabrigadas, e com cenas que lembram as consequências de um tsunami, com um vasto deserto de lama e escombros e cadáveres. De acordo com satélites da National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA estimou-se que Haiyan haja alcançado uma pressão mínima entre cerca de 860 mbar (hPa ou 25,34 inHg ) e o Joint Typhoon Warning Center estima que Haiyan possa ter atingido ventos sustentados por um minuto ou mais de 315 km/h (195 mph) com rajadas de até  378 km/h ( 235 mph ), tornando-o o mais forte tufão na história moderna. Apesar dos grandes esforços que o meu país tinha feito na preparação para o ataque de uma tempestade-monstro, ele era simplesmente uma força poderosa demais e até mesmo para uma nação familiarizada com tempestades, o Supertufão Haiyan foi como nada que já tivéssemos experimentado antes, ou talvez nada que qualquer país já tenha experimentado antes!

O quadro, no rescaldo, emerge muito lentamente rumo a uma visão mais clara. A devastação é colossal! E como se isso não fosse suficiente, outra tempestade está se formando novamente nas águas quentes do Pacífico ocidental. Tremo só de pensar em um outro tufão atingindo os mesmos lugares onde as pessoas ainda nem sequer conseguiram começar a se levantarem...

Para quem continua a negar a realidade que é a mudança climática, eu desafio a sair de sua torre de marfim e ficar longe do conforto da sua poltrona! Eu desafio a ir para as ilhas do Pacífico , as ilhas do Caribe e as ilhas do Oceano Índico e ver os impactos da elevação do nível do mar, para as regiões montanhosas do Himalaia e os Andes para ver as comunidades enfrentarem inundações por degelo, para o Ártico, onde as comunidades tentam lidar com a rápida diminuição da calota polar, para as grandes deltas do Mekong, o Ganges , o Amazonas e o Nilo, onde vidas e meios de subsistência são perdidos em enchentes, para as colinas da América Central que enfrenta furacões monstruosos semelhantes, para as vastas savanas da África, onde as mudanças climáticas também se tornam uma questão de vida ou morte, com comida e água se tornando escassa. Não esqueçamos os enormes furacões no Golfo do México e da costa leste da América do Norte. E se isso não for suficiente, você pode querer fazer uma visita às Filipinas no momento!

A ciência deu-nos uma imagem que se torna cada vez mais clara. O relatório do IPCC sobre mudança climática e eventos extremos ressaltou os riscos associados às mudanças nos padrões climáticos bem como a frequência de eventos extremos. A ciência nos diz, simplesmente, que a mudança climática vai implicar em tempestades tropicais mais intensas. À medida que a Terra se aquece, o que inclui os oceanos, a energia que é armazenada nas águas nas vizinhanças das Filipinas vai aumentar a intensidade de tufões e a tendência que vemos agora é que as tempestades mais destrutivas serão a nova norma.

Isto terá implicações profundas em muitas de nossas comunidades , especialmente as que lutam contra o duplo desafio da crise de desenvolvimento e a crise da mudança climática. Tufões , como Yolanda (Haiyan) e seus impactos representam um lembrete preocupante para a comunidade internacional de que não podemos nos dar ao luxo de adiar a ação climática. Varsóvia deverá se entregar a um esforço ambicioso e deve reunir a vontade política necessária para enfrentar a mudança climática.

Em Doha, perguntamos: "Se não nós, então quem? Se não for agora, então quando? Se não for aqui, onde?" (Emprestado do líder estudantil filipino Ditto Sarmiento , durante a Lei Marcial). Essa frase pode ter caído em ouvidos moucos. Mas aqui em Varsóvia, pode-se muito bem fazer essas mesmas perguntas francas: "Se não nós , quem? Se não for agora, então quando? Se não for aqui em Varsóvia, onde?"

O que o meu país está a atravessar, como resultado deste evento climático extremo, é loucura. A crise climática é uma loucura!

Nós podemos parar com esta loucura! Aqui em Varsóvia!

É a 19ª COP , mas poderíamos muito bem parar de contar, porque o meu país se recusa a aceitar que será necessária uma COP30 ou uma COP40 para resolver a questão da mudança climática. E porque parece que, apesar dos ganhos significativos que tivemos desde que a UNFCCC nasceu, há 20 anos, portanto, continuamos a falhar no cumprimento do objetivo final da Convenção? Agora, nos encontramos em uma situação em que temos de perguntar a nós mesmos – será possível nunca atingir o objetivo definido no artigo 2 º - que é evitar interferência antrópica perigosa com o sistema climático? Ao não cumprir o objetivo da Convenção, podemos estar sancionando a condenação de países vulneráveis!

E se não conseguimos cumprir o objetivo da Convenção, temos que enfrentar o problema de perdas e danos. Perdas e danos associados à mudança climática são uma realidade hoje em todo o mundo. Metas de redução de emissões dos países desenvolvidos estão perigosamente baixas e devem ser elevadas imediatamente, mas mesmo se eles estivessem de acordo com a demanda de redução de 40-50% abaixo dos níveis de 1990, ainda teríamos algumas alterações climáticas inevitáveis e ainda seria preciso lidar com a questão das perda e danos.

Nós nos encontramos em um momento crítico e a situação é tal que até mesmo as metas mais ambiciosas de redução de emissões por parte dos países desenvolvidos, que deveriam ter assumido a liderança na luta contra a mudança climática nas últimos 2 décadas, não serão suficientes para evitar a crise. Agora é tarde demais, tarde demais para falar sobre o mundo ser capaz de confiar em países do Anexo I (do protocolo de Kyoto, isto é, países desenvolvidos) para resolver a crise climática! Entramos em uma nova era  que exige a solidariedade global, a fim de combater a mudança climática e garantir que a busca do desenvolvimento humano sustentável continue na linha da frente dos esforços da comunidade global. É por isso que os meios de apoio para os países em desenvolvimento são cada vez mais cruciais.

Foi o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, Maurice Strong , que disse que "a história nos lembra que o que não é possível hoje pode ser inevitável amanhã".

Nós não podemos sentar e ficar impotentes olhando para este impasse climático internacional. Agora é hora de agir. Precisamos de uma rota climática de emergência!

Eu falo pela minha delegação. Mas mais do que isso, eu falo pelas inúmeras pessoas que deixarão de ser capazes de falar por si mesmas depois de perecerem sob a tempestade. Também falo por aquele(a)s que ficaram órfã(o)s por esta tragédia. Também falo pelas pessoas correndo agora contra o tempo para salvar os sobreviventes e aliviar o sofrimento das pessoas afetadas pelo desastre.

Podemos tomar medidas drásticas agora para garantir que evitemos um futuro onde supertufões sejam parte do dia-a-dia da vida. Porque nos recusamos, como nação, a aceitar um futuro onde supertufões como Haiyan sejam um fato corriqueiro. Nós nos recusamos a aceitar que fugir de tempestades, evacuando as nossas famílias que sofrem com a devastação e a miséria e tendo que contar os nossos mortos, torne-se a nossa vida! Nós simplesmente nos recusamos a isso!

Devemos parar de chamar eventos, como esse desastre, de naturais. Não é natural que as pessoas continuem a lutar para erradicar a pobreza e buscar o desenvolvimento e sejam golpeados pelo ataque de uma tempestade-monstro, agora considerada como a tempestade mais forte que já atingiu terra habitada. Não é natural pois a ciência já nos disse que o aquecimento global vai provocar tempestades mais intensas! Não é natural, quando a espécie humana já mudou profundamente o clima!

E desastres nunca são naturais. Eles são a interseção de outros fatores além dos físicos. Eles resultam do acúmulo da violação constante dos limites econômicos, sociais e ambientais. A maioria dos desastres meteorológicos é resultado da desigualdade e as pessoas mais pobres do mundo estão em maior risco devido à sua vulnerabilidade e décadas de subdesenvolvimento, que, diga-se de passagem, é ligado ao tipo de busca do crescimento econômico que domina o mundo, o mesmo tipo de busca do chamado crescimento econômico e consumo insustentável, que alterou o sistema climático!

Supertufão Haiyan vistodo espaço - Agência Espacial Japonesa
Agora, se me permitem, quero falar em um tom mais pessoal.

O Supertufão Haiyan desembarcou na cidade natal de minha família e a devastação é impressionante. Eu me esforço para encontrar palavras diante das imagens que vemos a partir da cobertura da imprensa. Eu me esforço para encontrar palavras para descrever como me sinto sobre as perdas e danos que sofremos com este cataclismo.

Até essa hora , eu agonizo enquanto espero por notícias quanto ao destino de meus próprios parentes. O que me dá força renovada e grande alívio foi quando o meu irmão conseguiu se comunicar conosco, para dizer que ele sobreviveu ao ataque (de Haiyan). Nos últimos dois dias, ele ficou recolhendo corpos dos mortos com suas próprias mãos. Ele está com fome e cansado, já que suprimentos e alimentos têm dificuldade de chegar nas áreas mais atingidas .

Chamamos esta COP para prosseguir os trabalhos até que um resultado significativo esteja à vista. Até que sejam feitas promessas concretas para garantir a mobilização de recursos para o Fundo Verde para o Clima. Até que a promessa de criação de um mecanismo de proteção sobre perdas e danos seja cumprida, até que haja segurança no financiamento para adaptação, até que as vias concretas para alcançar os necessários 100 bilhões de dólares sejam construídas, até que vejamos uma ambição real sobre a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa. Devemos colocar o dinheiro onde nossas bocas estão!

Este processo sob a UNFCCC tem sido chamado de muitos nomes. Ele tem sido chamado de uma farsa . Ele tem sido chamado de um encontro anual, intensivo em queima de carbono, de passageiros frequentes inúteis. Ele tem sido chamado de muitos nomes. Mas ele também tem sido chamado de Projeto para salvar o planeta. Ele tem sido chamado de "salvar o amanhã hoje" . Nós podemos consertar isso. Nós podemos parar com esta loucura. Agora. Aqui mesmo, no meio deste estádio de futebol (a COP se realiza no Estádio Nacional, em Varsóvia).

Peço-lhes para nos liderar. E que se deixe a Polônia para sempre conhecida como o lugar em que realmente nos importamos em parar com esta loucura . A Humanidade pode se mostrar à altura da ocasião ? Eu ainda acredito que sim, que nós podemos!



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Rua Equador 506


Em 2006 este edifício estava em ótimo estado de conservação. Funcionava como um depósito de móveis e por ser vizinho a um imóvel tombado, compunha muito bem a ambiência do mesmo. Após o efetivo início do projeto Porto Maravilha, o imóvel se encontra em processo de demolição. É terrível para uma cidade ter órgãos de Patrimônio que não cumprem suas finalidades.



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Como abduzir 5 mil pessoas por hora?


Como abduzir 5 mil pessoas por hora? Prefeitura estima que para o motorista não sentir os efeitos da falta da Perimetral, será necessário que pelo menos 3.500 carros (ou cerca de 5 mil pessoas) por hora deixem de circular pela região no período do rush (O Globo)!!! Abduza-me para uma malha de metrô eficiente e eu agradecerei!