domingo, 24 de janeiro de 2021

Parques mais ecológicos

Parque Abbés-Pierre Grands Moulins

As cidades são criações do gênio humano e constituem ecossistemas artificiais. Segundo Odum, “uma cidade, especialmente uma cidade industrializada, é um ecossistema incompleto ou heterotrófico (que se alimenta de outros) dependente de grandes áreas externas a ele para a obtenção de energia, alimentos, fibras, água e outros materiais”[1]. Sem este ambiente externo, do qual a cidade se alimenta, ela não poderia sobreviver. A busca pela sustentabilidade intenta transformar essa relação das cidades com o ambiente externo, o território em que se inserem, de forma a que deixem de pesar tanto sobre o mesmo. A partir da evolução histórica de cada cidade, deveria ser buscada uma dinâmica de ocupação e crescimento que considerasse a natureza original do território, a necessidade de preservação dos seus elementos mais importantes, e as possibilidades de coexistência dos espaços construídos com essa natureza envolvente.

Além dessa relação respeitosa com a natureza envolvente, é importante também estar atento à natureza existente no interior da cidade. O urbanismo que considere a sustentabilidade deverá preocupar-se com a manutenção de espaços naturais no exterior, assim como no interior da cidade. Ele deverá criar condições para a hospedagem da fauna silvestre, inclusive nas áreas urbanas, e a integração entre espaços naturais e espaços humanizados. Parques, praças, áreas naturais, e demais espaços verdes devem, além da função de lazer, ter a função de manter a vida nas cidades.

As cidades são criações do gênio humano e constituem ecossistemas artificiais. Segundo Odum, “uma cidade, especialmente uma cidade industrializada, é um ecossistema incompleto ou heterotrófico (que se alimenta de outros) dependente de grandes áreas externas a ele para a obtenção de energia, alimentos, fibras, água e outros materiais”[1]. Sem este ambiente externo, do qual a cidade se alimenta, ela não poderia sobreviver. A busca pela sustentabilidade intenta transformar essa relação das cidades com o ambiente externo, o território em que se inserem, de forma a que deixem de pesar tanto sobre o mesmo. A partir da evolução histórica de cada cidade, deveria ser buscada uma dinâmica de ocupação e crescimento que considerasse a natureza original do território, a necessidade de preservação dos seus elementos mais importantes, e as possibilidades de coexistência dos espaços construídos com essa natureza envolvente.

A experiência parisiense, durante o período 2001-2007, em que os partidos socialista e verde dividiram o poder, é interessante de se analisar. Lá, o órgão responsável pelos espaços verdes e o meio ambiente (DEVE), aplicando instrumentos de autorregulação, abandonou a forma tradicional com que tratava esses espaços, baseada nos aspectos estéticos dos mesmos, adotando uma visão ambiental. No período citado, programou-se a criação de 30ha. de novos jardins e o acréscimo de mais 100.000 árvores urbanas, aumentando a sua diversidade. Foram utilizadas diversas possibilidades para a criação desses espaços, como parques de vizinhança, alguns com hortas comunitárias, parques lineares sobre o viaduto desativado de Daumesnil, e muros e tetos verdes. Juntamente com a manutenção de franjas de vegetação selvagem em linhas de trem desativadas, eles contribuíram para estabelecer corredores ecológicos dentro da cidade. Estes elementos tiveram também a função de conexão entre as diversas áreas verdes urbanas e as áreas livres na periferia, os corredores ecológicos.

Além da criação de novos espaços, houve também a busca por maior eficiência na gestão, inclusive com o recurso à certificação. O parque Bois de Boulogne e todas as ações fitossanitárias da instituição passaram pela certificação ISO 9.000 e 14.000. Buscou-se o consumo mínimo de energia, com menos aguagem e menos poda, e a criação de espaços mais ecológicos, com a presença de água em pequenos pântanos e áreas de baixo cuidado paisagístico.

Um bom exemplo de parque criado com esta nova orientação é o Jardins d’Eole. Lá não se usa adubo ou pesticidas e as folhas caídas são deixadas no terreno. Há áreas de maior cuidado, por terem uso mais intenso e áreas deixadas para desenvolvimento livre, sem constante poda. Outro exemplo interessante é o Jardins Abbé-Pierre – Grands Moulins, criado em 2009, onde áreas de forração nativa são também deixadas para livre desenvolvimento. Tais exemplos de parques necessitam uma preparação do público através de projetos de educação ambiental, para que o ecológico não seja visto como desleixo.

Agora, que no Rio de janeiro há uma gestão verde dos parques e jardins da cidade, tais experiências valem a pena ser revisitadas. Os parques históricos já têm suas dinâmicas estabelecidas. Mas está posto o desafio de se pensar novos parques que venham a prestar relevantes serviços ambientais, utilizando-se como técnica as soluções baseadas na natureza.

artigo publicado em 14 de janeiro de 2021 no Diário do Rio.   



[1] ODUM, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988, p. 45.

 

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