quarta-feira, 29 de março de 2023

Overbooking em evento do clima


Na última terça-feira, dia 14 de março, no Museu do Amanhã, houve o lançamento do Climate Hub Rio. Trata-se de um centro de estudos voltado para o clima e o meio ambiente, uma iniciativa da Universidade de Columbia. No evento de lançamento estiveram presentes o embaixador Celso Amorim, o Prefeito Eduardo Paes, a Secretária Municipal de Meio Ambiente, além do reitor e de pesquisadores da Universidade.


O Climate Hub Rio pretende promover a troca de conhecimento entre pesquisadores do Brasil e dos EUA, assim como oferecer bolsas de estudo na própria Universidade. Há a intenção também de se aproximar de movimentos populares ligados a essas questões. Desde 2013, a Universidade de Columbia já está presente na cidade através da Columbia Global Center/ Rio de Janeiro, um dos dez centros da mesma universidade pelo mundo dedicados a promover a instituição e a promover possibilidades de interação com parceiros e pesquisadores locais. O Columbia Hub Rio é parte das ações desse centro. 


Infelizmente, a organização do evento se mostrou pouco preocupada com o público que se interessou em participar do mesmo, e se inscreveu via internet (o meio recomendado pela organização), entre os quais diversos ativistas das questões climáticas e estudiosos. Quase a metade do auditório do Museu do Amanhã foi reservado para convidados, os vips do clima. Além disso, se praticou um overbooking, aceitando muito mais inscrições do que o número de lugares disponíveis. O resultado foi uma enorme fila de inscritos deixados do lado de fora do Museu, ao sol da Praça Mauá (não há árvores nas proximidades do Museu do Amanhã!!!), sem qualquer explicação. Lamentável. 


O lançamento dessa iniciativa da Universidade de Columbia coincide com a realização na Suíça de mais um Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, o IPCC. Esse encontro fornecerá subsídios para a próxima Conferência sobre Mudança Climática, a COP-28, que acontecerá em dezembro em Dubai.


A jornalista Ayesha Tandon, que trabalha junto ao site Carbon Brief, baseado no Reino Unido, divulgou uma análise interessante sobre a realização dos relatórios do IPCC. Inicialmente, salta aos olhos que, desde a fundação do IPCC, apenas 31% das contribuições aos seus relatórios vieram de países do hemisfério Sul do planeta. O Brasil se encontra em 10º lugar na lista de países de onde vieram contribuições autorais para os relatórios, com 102 contribuições. Os EUA forneceram 699 contribuições autorais, estando em primeiro lugar nessa lista. À frente do Brasil estão EUA, Reino Unido, Alemanha, China, Japão, Austrália, Canadá, Índia e França.


Apesar disso, esses dados têm apresentado mobilidade na direção de maior inclusão. A representação dos países do hemisfério Sul no IPCC saiu de apenas 19% para os atuais 43%. Sobre a participação de mulheres nos relatórios do IPCC, a jornalista informa que ela passou de apenas 8% no primeiro relatório, em 1990, para 33% de participação no último relatório. Um bom sinal.


É possível perceber um crescente interesse pelas questões relacionadas à crise climática, algo que já estamos vivendo e sofrendo as consequências. É bastante interessante e auspicioso quando o debate sobre o que fazer extrapola os limites do mundo acadêmico e chega às organizações comunitárias, especialmente aos mais jovens. Esse diálogo com a academia precisa ser incentivado e poderá trazer muitos bons frutos. Mas para isso os interessados não podem ser barrados nas portas dos eventos acadêmicos, assim como a academia deve caminhar cada vez mais em direção à maior diversidade.   


Artigo publicado em 16 de março de 2023 no Diário do Rio.

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