segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

A Fundação Parques e Jardins em agonia

Campo de Santana - foto Roberto Anderson
Auguste François Marie Glaziou chegou ao Rio de Janeiro em 1858 e logo foi contratado pelo Imperador D. Pedro II para fazer a reforma do Passeio Público, anteriormente projetado por Mestre Valentim. Glaziou projetou também o Campo de Santana e a Quinta da Boa Vista. Com a criação, em 1869, da Diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial, Glaziou passou a ser o seu diretor. Mais tarde, criada a Inspetoria de Mattas, Jardins, Arborização, Caça e Pesca, com sede no Campo de Santana, foi Glaziou quem a dirigiu. Em 1909, ocorreu a ampliação dessa sede, e é lá que até hoje funciona a Fundação Parques e Jardins – FPJ, herdeira da antiga Inspetoria.

 

Importante notar que o órgão que precedeu a FPJ trazia no seu nome a amplitude de competências que caracterizava a sua atuação. No entanto, a Fundação, que já foi dos órgãos mais prestigiados da cidade, além de ser um dos mais antigos, veio perdendo atribuições, recursos e pessoal. A poda e a remoção de árvores nas vias públicas, e a manutenção das praças, foram repassadas à Comlurb. A conservação das praças e dos monumentos foi repassada à Secretaria de Conservação. Dos vinte e cinco arquitetos que um dia trabalharam na FPJ sobraram dois. No quadro de funcionários, só restou um engenheiro florestal. A própria FPJ, na administração Crivella, foi levada para a Secretaria do Envelhecimento. Uma metáfora da sua situação? Sem muitas atribuições, e com seu pessoal se aposentando, a Fundação foi sendo conduzida a um triste ostracismo.

 

A FPJ precisa urgentemente ser reerguida. Os parques históricos do Rio de Janeiro, entre eles o Parque do Flamengo, têm importância para a história do paisagismo nacional. Além de Glaziou e de Azevedo Neto, Burle Marx e Fernando Chacel projetaram parques no Rio de Janeiro que inauguraram escolas de projetos paisagísticos. Os monumentos de nossas praças, muitos vindos da região do Val D’Osne na França, são preciosidades da arte pública do Brasil. A arborização de ruas do Rio de Janeiro alcança momentos de rara beleza, como os dosséis que sombreiam diversas ruas da cidade, especialmente da Zona Sul, melhor aquinhoada. A responsabilidade da cidade com esse legado exige um olhar cuidadoso e generoso para com a FPJ.

 

Um roteiro para o reerguimento da FPJ estaria na aplicação do Plano Diretor de Arborização Urbana da Cidade do Rio de Janeiro – PDAU Rio. Ele foi aprovado em 2016, mas ainda não foi implementado. É preciso também repensar a política da Cidade do Rio de Janeiro para suas áreas verdes, buscando integrar as ações dos diversos órgãos, preferencialmente sob a coordenação da FPJ. Projetos como o Mutirão Reflorestamento poderiam estar em sinergia com as ações da Fundação. A arborização urbana, atualmente dependente da oferta de compensações por concessões de habite-se, poderia se transformar num amplo projeto de arborização da cidade, com vistas, não só ao seu embelezamento e conforto ambiental, como também, como contribuição do Rio de Janeiro ao combate ao aquecimento global.


A promessa do futuro Prefeito de não realizar loteamento político na FPJ já é um facho de luz que traz esperanças. A reconstituição do seu quadro de pessoal será também uma tarefa importante, com a realização de concurso público assim que as finanças municipais o possibilitem. O Prefeito precisa ser sensibilizado quanto a essa urgência. A Cidade do Rio de Janeiro foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade. Seus parques e praças são parte importante dessa conquista. O tempo do descuido precisa ficar para trás. Cuidemos do nosso Rio!


artigo publicado no Diário do rio em 17 de dezembro de 2020.


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