Para muitos, planejar o futuro é importante. Para empresas, então, é vital. Mas, os planos, por melhores que sejam, podem ser contrariados por eventos que independem da vontade de quem os planeja. Mais ainda em tempos de emergência climática, quando o futuro se torna incerto, os planos podendo ser alterados por eventos fora do domínio humano.
A construtora Technion obteve da RIOGaleão, empresa
que detém a concessão do Aeroporto Tom Jobim, a cessão de uma área com 150 mil
metros quadrados junto àquele aeroporto. Através da sua subsidiária, a Aldeya
Life Park, ela vem há quatro anos desenvolvendo essa área nos moldes de uma
"aerotrópolis".
Aerotrópolis são áreas de
atividades econômicas e culturais que se estabelecem no entorno de aeroportos.
Estes funcionam como âncoras do desenvolvimento dessas atividades, tendo a
facilidade logística como grande atrativo. Existem algumas condições para a
formação dessas aerotrópolis. Inicialmente, é necessário haver disponibilidade
de terras nas proximidades do aeroporto e boa acessibilidade por meios de
transportes públicos e privados. Por outro lado, elas respondem ao aumento do
número de viajantes e da sua demanda por consumo, às necessidades de aumento de
receitas por parte dos aeroportos, a novas práticas de negócios e ao aumento
das trocas comerciais entre países e regiões.
Atualmente, grandes aeroportos não são mais apenas
locais de embarque e desembarque de passageiros. Há uma enorme gama de
atividades que neles podem ser realizadas. Grupos de passageiros podem chegar,
se hospedar nos hotéis vizinhos, participar de eventos, jogar, ou assistir
concertos e retornar às cidades de origem, sem sequer entrar na cidade que
visitam.
Há aerotrópolis formadas por plantas industriais,
cujos produtos são imediatamente enviados para outros locais do planeta. Elas
podem ter também cassinos, salas de concertos, hotéis e centros de convenções. No
Schiphol, em Amsterdam, é possível jogar no Holland Casino ou ver exemplares da
pintura flamenga na filial do Rijksmuseum ali existente. Em Heathrow, em
Londres, é possível assistir a um concerto da London Philharmonic.
Alguns hotéis de aeroportos, como o Sheraton do
Schiphol, o Hilton em Frankfurt e o Sofitel no Terminal 5 de Heathrow, são
considerados entre os lugares mais populares para a realização de encontros de
negócios em seus respectivos países. O The Squaire, o maior edifício de
escritórios da Alemanha, foi aberto em 2011 no Aeroporto de Frankfurt. Com 140
mil metros quadrados, é um complexo de escritórios e hotel, com 660 m de
comprimento e nove andares. O Aeroporto Internacional de Hong Kong é o mais
movimentado do mundo por carga movimentada. Em sua área de 12,48 quilômetros
quadrados há um centro de comércio que oferece entretenimento durante qualquer
hora do dia.
A Prefeitura do Rio de Janeiro tem interesse no
desenvolvimento de um projeto assim e, recentemente, no Urban 20, assinou
acordo com a cidade chinesa de Zhengzhou. Lá, existe uma zona econômica
aeroportuária, que é modelo de aerotrópolis para outras cidades. E a
possibilidade de que um projeto assim venha a ocorrer no Rio vem se tornando
mais real.
A Prefeitura se prepara para licitar o serviço de
barcas ligando os aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim, o que aumentaria
bastante a conexão entre os dois e com o centro do Rio. Para a área cedida à
Technion, existe a expectativa de atrair diversos investimentos, como prédios
corporativos, um centro de convenções, shopping, hospital e residências. A
Universidade Estácio já abriu um campus ali.
Tudo parece caminhar para que se tente constituir uma
nova aerotrópolis no Galeão. Mas, catástrofes climáticas deixaram de ser uma
possibilidade para se tornar uma quase certeza com o crescente aquecimento
global. O Acordo de Paris tenta segurar o aumento da temperatura média global
em apenas 1,5º C. Como os países não conseguem se comprometer com metas de
redução de emissões dos gases do efeito estufa, que impeçam a ultrapassagem desse
patamar, o mundo caminha para um aumento de 2º C ou mais.
Com esse aumento da temperatura global, os oceanos deverão
avançar sobre áreas costeiras, o que inclui as áreas dos aeroportos Tom Jobim e
Santos Dumont. Simulações do site Surging Seas mostram o alagamento das pistas
desses aeroportos e áreas vizinhas. O alagamento se alastraria ainda mais quando
o patamar de 2º C de aumento da temperatura for ultrapassado. Esse é o grande
problema de não se adotar medidas que contenham a catástrofe que se avizinha: um
futuro com enormes prejuízos sociais e econômicos e projetos inviabilizados.
Talvez, considerando-se essas previsões, se deva pensar em algo mais
apropriado, como uma hidrópolis.
Artigo publicado em 28 de novembro de 2024 no Diário do Rio.
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