sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Porto Maravilha descuidado da paisagem

Projeto de Norman Foster para terreno na Área Portuária do Rio de Janeiro
 
Em Londres, antes que ocorresse a reurbanização de Docklands, foram feitos estudos que buscaram definir as linhas mestras de aproveitamento da área, com a indicação de espaços edificáveis e estudos de massa das futuras construções. Em 1982 a London Docklands Development Corporation- LDDC encomendou este estudo aos urbanistas Gordon Cullen e David Gosling. O trabalho apresentado buscou valorizar os eixos visuais de destaque na área da Ilha dos Cães e a manutenção de pré-existências, como os espelhos d'água dos diques. Tais propostas não foram muito consideradas no projeto quando o mesmo finalmente foi executado, resultando em perda de grandes possibilidades paisagísticas e traçados urbanos presos a um formalismo ultrapassado.

No Rio de Janeiro o projeto de reurbanização da Área Portuária, atualmente batizado de Porto Maravilha, preocupou-se apenas com a definição de vias de circulação e índices construtivos. Não há um estudo que identifique as linhas de dominância na paisagem da área, nem de quais visadas deveriam ser preservadas ou valorizadas. Muito menos um estudo que busque preservar elementos característicos de qualquer área portuária - seus armazéns - e que poderiam se tornar um diferencial estético do projeto.
 
Ao sabor do preenchimento de frios índices de aproveitamento dos terrenos e das vicissitudes dos capitais que se constituem para o seu desenvolvimento, o Porto Maravilha está sob a ameaça de produzir um monstrengo que bloqueie a visibilidade das elevações do relevo carioca e faça um contraponto danoso às áreas de preservação existentes junto às encostas.
 
Outro problema que também pode arruinar o projeto é o apressado convite a arquitetos estelares, que parecem enviar seus projetos por fax, sem sequer conhecerem o sítio em que serão implantados. Assim é o caso do recentemente anunciado projeto do arquiteto inglês Norman Foster para o pátio da marítima, também na Área Portuária: dois troncos de pirâmide invertidos erguidos junto à linha do litoral que bloqueiam completamente a visão de toda a cidade que se desenvolve por trás dos mesmos. Na falta de estudos que garantam a preservação da paisagem da Região Portuária e a escolha das melhores localizações para os futuros empreendimentos, corre-se o risco de destruição de uma das últimas esperanças de um bairro diferenciado na cidade, resultando em algo bem mais próximo da imagem da Barra da Tijuca do que seria de se desejar.
 
 

2 comentários:

  1. O projeto do Cullen e do Gosling para a Isle of Dogs era interessantissimo. A nossa area portuaria vai ser um horror, ja que o projeto esta sendo dirigido pelos interesses imobiliarios, assim como no que foi posteriormente feito nas Docklands de Londres, com a diferenca que la ao menos contratou-se uma firma do calibre da SOM para o plano basico. Esse projeto do Foster para o Rio eh horroroso, e so encontra paralelo no do Paulo Case para a Praca Maua. Preparem-se....

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  2. Ola Vicente, a área portuária está se tornando um problema urbanístico. Muitos fogos e artifícios na Praça Mauá e uma área monofuncional com torres no restante.

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